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ChatGPT perde uma partida de xadrez para um videogame de 1979

O chatbot foi derrotado pelo jogo de xadrez do Atari 2600 na dificuldade iniciante. Esse duelo tecnológico ensina muito sobre as falhas e problemas da IA

Por Leo Caparroz
3 jul 2025, 17h00
Atari 2600
 (Wikimedia Commons/Reprodução)
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Por mais que a inteligência artificial seja o assunto do momento, é importante lembrar que elas não são máquinas super espertas – IAs ainda têm muitas limitações.

O ChatGPT, por exemplo, não é um super robô que sabe tudo. Ele ainda perde para nós, humanos, em várias tarefas. Quando o assunto é xadrez, ele é pior do que um videogame de quase 50 anos atrás.

Um engenheiro de software organizou esse duelo de máquinas como um simples experimento. De um lado, ChatGPT, o chatbot de IA que é a sensação da internet. Considerado um dos maiores avanços no campo da inteligência artificial, rodando o avançado GPT-4o, capaz de entender imagens, áudios e de conversar com o usuário tal qual uma pessoa faria. Descrito por Sam Altman, presidente-executivo da OpenAI, como “inteligente, rápido” e “o melhor modelo já criado pela empresa”.

Do outro lado, o Atari 2600, um console de videogame lançado pela saudosa Atari em 1977. Tecnicamente, um emulador rodando o Video Chess, um software de xadrez de 1979 feito para ser o xadrez do Atari e um dos primeiros softwares da modalidade em consoles de videogame. O Video Chess usava metade da já singela memória do Atari 2600 para pensar nos próximos movimentos, então toda a capacidade de decisão do jogo foi limitada a 64 bytes de memória.

Hoje, qualquer xadrez online pensa muito mais a frente e com muito menos restrições do que o Video Chess. Sendo assim, o esperado era que a “super-poderosa” inteligência artificial vencesse com folga o algoritmo limitado e ultrapassado do Atari, certo?

Mas não foi isso o que aconteceu.

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Em um post no LinkedIn, o idealizador da disputa, Robert Caruso, disse que “o ChatGPT foi completamente destruído” pelo Atari – e ainda no nível iniciante do jogo, descrito no manual como “um nível de aprendizado” e “um bom treino para jogadores inexperientes”.

Segundo Caruso, foi o próprio ChatGPT quem se voluntariou para o experimento. Depois de uma conversa sobre a história da IA no xadrez, o bot sugeriu o teste. “Ele queria descobrir o quão rápido conseguiria vencer um jogo que só pensa 1-2 movimentos à frente”.

O ChatGPT simplesmente não conseguiu jogar. Ele confundia torres com bispos, falhava ao interpretar os movimentos e repetidamente se esquecia de onde suas peças estavam. Caruso diz no post que a IA até botou a culpa nos ícones do Video Chess por serem difíceis de reconhecer”. Mas a performance dela não melhorou quando passou a usar a notação padrão de xadrez.

Depois de 90 minutos de tentativas, o ChatGPT “cometeu erros suficientes para ser motivo de chacota em um clube de xadrez da 3ª série”. Ele insistiu que conseguiria vencer se tentasse de novo, mas eventualmente aceitou a derrota.

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Semanas depois, Caruso fez o mesmo teste com o Copilot, a IA da Microsoft. A mesmíssima coisa aconteceu: o Copilot insistiu que poderia vencer, mas cometeu erros muito similares ao ChatGPT. Ele perdia peças à toa, cometia erros crassos e não entendia como o tabuleiro estava distribuído.

As burrices da inteligência artificial

A situação serve para evidenciar duas falhas da IA: ela não é inteligente e ela é extremamente confiante, mesmo quando está errada.

O que nós temos disponível como Inteligência Artificial, e que ficou muito popular com ChatGPT, Gemini, Copilot e associados, é apenas uma máquina estatística.

A inteligência artificial, seja ela qual for, é alimentada com uma base de dados enorme de textos tirados de vários cantos. Então, ela transforma as letras e sílabas em códigos e atribui valores de probabilidade para as combinações. Quando você pergunta algo, tudo o que ela faz é te mostrar quais palavras são estatisticamente mais prováveis de serem a resposta. Ela é apenas um “papagaio digital que regurgita padrões”.

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“Isso significa que a IA não tem compreensão. Não tem consciência. Nenhum conhecimento em qualquer sentido real e humano. É puro brilhantismo projetado e orientado pela probabilidade – nada mais, nada menos”, escreve Guillaume Thierry, professor de neurociência na Universidade de Bangor.

Como esses chatbots são apenas máquinas estatísticas, eles não sabem pensar fora daquilo que são bons em fazer: textos. O próprio funcionamento do ChatGPT não é compatível com a tarefa de jogar xadrez – não importa quantas vezes ele insista e tente, ele não é treinado para “pensar” assim.

Talvez um dos maiores riscos de se confiar muito na inteligência artificial é que ela está constantemente errada – e ela insiste no erro de forma muito confiante. Em ambos os testes de xadrez, as IAs disseram que conseguiriam facilmente jogar  e que venceriam o Atari.

Em maio deste ano, o jornal americano Chicago Sun-Times publicou uma lista recomendando livros que simplesmente não existiam. A lista tinha sido gerada por uma IA, e também contava com fontes inventadas e citações incorretas. O jornal eventualmente se desculpou pelo ocorrido, mas sem assumir a culpa; dizendo que a lista tinha sido feita por uma agência externa e que seus jornalistas não usam IA para escrever.

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Quando uma IA inventa uma informação, ela está alucinando – esse é o termo técnico. Não faltam exemplos de alucinações de IA pela internet, atribuindo conteúdos a livros e autores que não existem, inventando estudos e fatos históricos que nunca aconteceram.

Isso já é um problema por si só. Como os usuários esperam informações precisas e respostas confiáveis vindas da IA, receber uma mentira é uma falha de seu funcionamento. O que piora a situação é que essas IAs respondem com confiança e insistem no erro até que você o aponte. Uma pessoa que não confere as informações e acredita cegamente na resposta do ChatGPT está se submetendo ao acaso e correndo o risco de ser enganado por uma possível alucinação.

Em resumo, não dá para confiar que as inteligências artificiais vão fazer um melhor trabalho sempre. Elas ainda têm muitas limitações, falhas e problemas.

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