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Juros reais no final do ano: Brasil 6% X -2% EUA

Inflação dos EUA sai hoje. Entenda como a economia deles afeta o dado que mais importa para o Brasil: os juros reais.

Por Alexandre Versignassi, Guilherme Jacques
Atualizado em 10 fev 2022, 10h45 - Publicado em 10 fev 2022, 09h01

Hoje você vai ler de novo por aí que os EUA têm a sua maior inflação em 40 anos, igual você viu ontem que o Brasil teve seu maior IPCA para o mês desde 2016. É que hoje sai o CPI, que é o IPCA deles. Essas marcas negativas nos índices de inflação dos dois fatos, mas não contam a história inteira – e, para quem investe, só importa a história inteira. 

E o que temos é o seguinte: a inflação está desacelerando paulatinamente. Lá e aqui.

Nos EUA, a inflação mensal está assim:

Outubro: 0,9%
Novembro: 0,8%
Dezembro: 0,5%
Janeiro: sai hoje, às 10h30 (expectativa do mercado: 0,4%)

No Brasil, assim: 

Outubro: 1,25%
Novembro: 0,95%
Dezembro: 0,73%
Janeiro: 0,54%

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Mas há uma diferença enorme nos dois casos. Bancos centrais fazem a inflação desacelerar aumentando os juros. Eles são o grande freio dos preços. A freada nos EUA, porém, acontece sem que o Fed, o BC deles, tenha aumentado os juros. Eles seguem em zero. Mais especificamente, 0,008%.

No Brasil não. Puxaram o freio de mão há quase um ano. De março de 2021 até agora, a Selic foi de 2% para 10,75%. 

Bom, o Fed quer trazer logo a inflação mensal dos EUA para um pouco abaixo de 0,2%. Então já deixou claro que vai aumentar os juros a partir de março. Nessa primeira estocada, a taxa vai a 0,25%. Depois devem ir aumentando a cada 40 dias até chegar a 1%.

No Brasil, o mercado espera que a Selic ainda vá a 12%.

E isso abre dois cenários completamente distintos. A tendência de queda para a inflação deve se manter nos dois países. Os diretores dos Fed imaginam que a inflação dos EUA fechará 2022 em 3% ao ano (ante os 7% atuais). No Brasil, os economistas consultados pelo Boletim Focus, do Banco Central, prevêem 5,4%.

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Agora, os juros. No Brasil, aposta-se numa Selic a 11,75% no final do ano. Nos EUA, como já dissemos, 1%. 

E a história dos juros não fica completa sem um outro fator: o juro real. Trata-se da diferença entre os juros e a inflação. Se os juros estiverem a 11,75% e a inflação a 5,4%, as aplicações financeiras mais seguras vão assegurar um ganho real, acima da inflação, de 6%. 

É muito. Nos EUA, esse número seguirá negativo (pelo menos de acordo com as previsões que o Fed tem para o momento): juros de 1% versus inflação de 3%. Resultado: -2%.

Sumário:

Juro real nos EUA no fim de 2022: -2%
Juro real no Brasil no fim de 2022: 6%

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Juros reais colocam moedas fracas e fortes em pé de igualdade. Quando ele existe, e é alto, passa a valer a pena investir na moeda fraca, já que o retorno real, acima da inflação é garantido. 

Com isso, começa a entrar mais dólar no país. É o dinheiro gringo vindo buscar uma rentabilidade de pai para filho. É por isso que o dólar está caindo – no ano, já foram 7,7% de baixa: começou janeiro em R$ 5,66; fechou ontem a R$ 5,22. 

Juros altos, porém, deprimem a economia. É por conta deles também que espera-se um crescimento de míseros 0,3% no nosso PIB para este ano. Para os EUA, o mercado prevê 4%. E quem gera emprego não é a renda fixa em alta, nem o dólar baixo, é o PIB. Por outro lado, é importante manter o dólar em baixa: já que isso dá uma ajuda extra na hora de segurar a inflação (o preço do arroz, da carne e do pão é em dólar, afinal). 

E é isso. A alta nos juros tem funcionado por aqui. Mas eles precisam baixar logo. Se a inflação nos EUA vier hoje mais alta do que a expectativa, isso vai demorar mais para acontecer. Isso pressionaria uma alta maior nos juros de lá, e isso respinga por aqui, já que o Banco Central precisa manter a taxa de juro real no Brasil atrativa o bastante para que os dólares sigam entrando, e a moeda americana siga a trajetória de queda.

Essa é a história completa.     

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Boa quinta.

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Humorômetro - dia com tendência de baixa

Futuros S&P 500: -0,13%

Futuros Nasdaq: -0,34%

Futuros Dow: 0,14%

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*às 8h20

Europa

Índice europeu (EuroStoxx 50): 0,20%

Bolsa de Londres (FTSE 100): 0,24%

Bolsa de Frankfurt (Dax): 0,22%

Bolsa de Paris (CAC): -0,02x%

*às 8h18

Fechamento na Ásia

Índice chinês CSI 300 (Xangai e Shenzhen): -0,26%

Bolsa de Tóquio (Nikkei): 0,42%

Hong Kong (Hang Seng): 0,38%

Commodities

Brent: 0,61%, a US$ 92,11*

*às 8h16

Agenda

9h – IBGE divulga o volume de negócios do setor de serviços em dezembro.

10h30 – EUA divulgam o CPI de janeiro, dado que mede a inflação mensal do país.

10h30 – EUA divulgam o número de pedidos de seguro-desemprego da semana até 22/1.

18h15 – Presidente do BoE, o banco central inglês, fala em evento do TheCity.

market facts

Nova tentativa para o Valores a Receber

O Banco Central anunciou que vai retomar a consulta de valores esquecidos em poder de instituições financeiras a partir de 14 de fevereiro, pelo site valoresareceber.bcb.gov.br. No mês passado, a ferramenta foi suspensa dois dias depois do seu lançamento, devido à sobrecarga de acessos, que levou à instabilidade de todos os outros serviços online do BC.

Agora, para oferecer maior capacidade, a base de login será a do “gov.br”. É a mesma que o SUS utiliza para consulta do comprovante de vacinas da Covid-19. Com isso, para verificar os valores, será necessário ter um acesso prata ou ouro – classificações atribuídas pelo governo de acordo com as etapas de segurança que os usuários cumprem na plataforma. O acesso ouro, por exemplo, é obtido somente depois de o cidadão fazer o reconhecimento facial.

De acordo com o BC, há R$ 8 bilhões esquecidos sob posse dos bancos. São quantias de contas-correntes ou poupança encerradas ainda com algum saldo; tarifas cobradas  indevidamente; cotas de capital e rateio de cooperativas de crédito; e recursos de consórcios encerrados. Pessoas físicas e jurídicas estão aptas a reaver os valores aos quais tiverem direito.

O fim da novela Oi Móvel

Depois de muitas especulações sobre uma reprovação, o Cade finalmente julgou e deu seu aval para a venda da Oi Móvel. O resultado foi apertado: houve um empate entre os seis conselheiros. Nisso, coube ao presidente do órgão dar o voto de minerva em favor da operação. Também determinaram restrições para amenizar a concentração de mercado das compradoras – juntas, agora, Claro, Tim e Vivo detêm 98% das transmissões de sinal de celular. Os termos do acordo, porém, são sigilosos.

Com o negócio, Claro, Tim e Vivo vão desembolsar R$ 3,7 bilhões, R$ 7,3 bi e R$ 5,5 bi, respectivamente. E a Oi vai receber o montante de R$ 16,5 bi, que é crucial para o seu processo de recuperação judicial. Daqui em diante, a Oi  deve concentrar- se apenas na oferta de internet por fibra óptica. 

Dos 40 milhões de usuários da Oi Móvel, a previsão do Cade é de que a Claro seja a maior herdeira (15 milhões de clientes), quase empatada com a Tim (14,5 milhões). À Vivo, restariam 10,5 milhões.

Vale a pena ler:

A escassez da vez

Depois da falta de chips para produção automotiva, os americanos enfrentam mais uma crise: a escassez dos copos descartáveis. O nó logístico que causa o problema atinge toda a sorte de restaurantes, cafeterias e outros estabelecimentos. Nem a gigante Starbucks conseguiu escapar, e, para amenizar o problema, tem usado copos de edições comemorativas que estavam sobrando em seus estoques. Enquanto isso, pequenas lojas registraram um aumento de até 70% no preço do insumo. Leia no The Wall Street Journal.

Um like, uma pausa

Depois de uma reportagem do The Wall Street Journal revelar que o Instagram estaria ciente do seu potencial danoso à saúde mental de meninas, a rede social lançou uma ferramenta antivício: usuários agora podem programar lembretes de pausas a cada 10, 20 ou 30 minutos. A Folha de S.Paulo ouviu especialistas sobre a efetividade da medida. Leia aqui.

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(Laís Zanocco e Tiago Araujo/VOCÊ S/A)

Nos EUA, antes da abertura de mercado, Coca-Cola, PepsiCo, e Twitter divulgam seus balanços. No Brasil, após o fechamento, é a vez do Itaú.

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