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Você é refém dos seus próprios medos?

O professor George Kohlrieser, da escola de negócios suíça IMD, explica como nossa atitude pode nos transformar em reféns de nós mesmos

Por Por Bárbara Nór
Atualizado em 17 dez 2019, 15h25 - Publicado em 20 nov 2015, 08h00

O modo como lidamos com uma situa­ção adversa importa muito mais do que os fatores que a causam. É o que defende o americano George Kohlrieser (na foto, arte de Maurício Planel), diretor do programa de liderança e comportamento organizacional da escola de negócios IMD, na Suíça. “Quando você acredita que se trata de uma situação negativa, torna-se um refém”, diz George. O melhor jeito para lidar com o estresse não é lutar contra o problema, mas tornar-se flexível para ver o lado bom de uma situação adversa. Pode parecer otimismo ingênuo, mas afastar a negatividade é a melhor maneira de enfrentar demandas do trabalho e da vida pessoal sem cair numa paralisia improdutiva. Em entrevista à VOCÊ S/A, George explica como transformar o estresse em algo útil.

Como atravessar períodos de estresse?

O importante é saber como lidar com uma adversidade. Pesquisas recentes mostram que o problema não é o estresse em si. Na verdade, situações negativas podem até diminuir o nível de infartos. Mas isso só ocorre quando você acredita que pode lidar com o estresse ou aprender com a experiência. Quando você acredita que aquela situação é negativa, torna-se um refém. É o caminho para ter um problema de saúde. Mudanças sempre vão surgir e você deve estar preparado para lidar com elas. O melhor modo de agir é ter jogo de cintura e ser forte. Fala-se muito de resiliência hoje em dia porque ela é mesmo essencial. Quando algo não dá mais certo, é hora de dizer adeus ao que funcionava antes e olhar para o que vem de novo.

O senhor diz que muitos profissionais se sentem reféns de si mesmos. Por quê?

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Muitas pessoas têm uma mentalidade negativa e sentem que não têm poder sobre a própria vida. Ficam presas a sentimentos de raiva, arrependimento, culpa, luto e não conseguem deixar para lá. É o que chamo de virar vítima, ou refém, de uma situação adversa. Os principais sintomas são fazer algo que você não quer fazer e sentir-se mal a respeito, reclamar demais, olhar apenas para o que está dando errado. O maior problema é perder a curiosidade. Quem se torna refém de si mesmo fica apático. Muitos são reféns e nem sabem.

Por que temos essa tendência de olhar para o lado negativo?

Tem a ver com o modo como o cérebro funciona. A mente é paradoxal. Odeia a dor, mas, para evitá-la, passa a procurar por ela. Pessoas que têm muito medo ou tiveram experiên­cias ruins têm a percepção das coisas alterada. Elas passam a procurar pelo perigo para poder preveni-lo. O negativo se torna a norma para enxergar a vida.

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Sentir-se sem escolha é caminho certo para o estresse paralisante. (Crédito: Pixabay)

Isso piora em um cenário de muitas demandas e ansiedade alta?

Está ficando mais difícil. Encontramos fatores estressantes na tecnologia, no ambiente, em coisas que temos de fazer para a família ou para o trabalho. Mas o que as pessoas precisam responder é: quantas demandas querem e podem realmente atender. Querer fazer tudo suga sua energia e faz com que você se sinta preso. O resultado é que elas perdem a energia, perdem o foco e não conseguem mais encontrar propósito nem satisfação. O ideal é estar apto a escolher e reagir para observar o lado bom da vida, do trabalho e fazer aquilo que você quer de verdade.

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O senhor ministra seu curso sobre resiliência em vários países. O que notou a respeito dos executivos brasileiros?

O que vejo é que os brasileiros são ótimos para criar relacionamentos sociais e emocionais, a energia deles para isso é alta. O contraponto é que profissionais brasileiros costumam se distrair com facilidade, e manter a concentração na execução de uma tarefa é um desafio. Os brasileiros também têm uma atitude diferente em relação à autoridade. Ou são muito rebeldes e desafiadores ou são submissos, com medo de falar com o chefe. O ponto alto é a curiosidade. Os brasileiros estão abertos a pensar no futuro e a inovar. Outros países têm a cabeça mais fechada e não são tão curiosos.

 

Negociador de reféns

De onde o professor George Kohlrieser tirou a teoria sobre ser refém de si mesmo

 

Formado em psicologia, o professor George Kohlrieser tem autoridade para escrever um livro sobre reféns. Foi ajudando a polícia a negociar com sequestradores que ele começou sua carreira. Num caso, ele mesmo acabou refém. Com base nessa experiência, desenvolveu a teoria de que as pessoas são vítimas de si mesmas, dependendo do modo como encaram o mundo. Como os criminosos, as pessoas são movidas pelo medo de perder algo e pela sensação de não ter escolha. No trabalho, é a mesma coisa. “Por causa do estresse, as pessoas ficam na defensiva e tentam manter tudo como está”, diz George. Mas o resultado é que elas se tornam reféns da situação. Tentar resistir a um fator de estresse e ficar com uma postura defensiva é falhar em reagir e escolher a melhor resposta para cada situação.

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