Muitas empresas recrutam na concorrência. Veja como furar
Algumas empresas fecham as portas para profissionais de outras áreas e recrutam apenas na concorrência. Veja como furar a barreira e entrar nessas panelinhas
Há empresas que adotam o discurso de que, para manter a inovação, é preciso contratar profissionais de vários mercados e estabelecer uma diversidade de pontos de vista. A ideia é que os forasteiros tragam novas abordagens para velhos problemas. Poucas companhias, contudo, colocam isso em prática.
Segundo uma pesquisa da Asap, empresa de recrutamento de São Paulo, que analisou 2 500 vagas nos últimos três anos, mercados importantes restringem a procura por candidatos a seus concorrentes: indústria (64% dos profissionais já atuavam no setor), bens de consumo (64%) e tecnologia da informação (58%). “Recrutar errado custa caro, e o risco de uma contratação não funcionar é maior quando o profissional vem de outro setor,” diz Carlos Guilherme Nosé, presidente da Asap.
A tendência é preferir o conhecimento técnico já adquirido, então quem não está no círculo costuma ficar de fora. As empresas fazem isso porque precisam que os profissionais comecem no cargo e executem rapidamente as tarefas. “Há gestores acomodados que acham mais fácil só contratar quem não precisa de nenhum treinamento”, diz Graça Bullara, gerente de recursos humanos da Eaton, fabricante de componentes e sistemas elétricos que costuma recrutar no próprio setor.
Ingressar em mercados blindados não é tarefa simples. A primeira coisa a fazer, claro, é ter certeza da mudança. O setor precisa ter a ver com os objetivos profissionais de curto e longo prazo — e deve-se cuidar para escolher a empresa alinhada a seus valores.
Para o raciocínio ser completo, entenda se a transição seria apenas uma válvula de escape para se livrar de um desconforto no atual emprego ou se existe uma vontade genuína, baseada em fatos. “A mudança não pode ser atrelada à resolução de um problema, que pode ser encontrado também no novo setor”, diz Mayra Fragiacomo, da Job Transition, consultoria de recolocação, de São Paulo.
Se a vontade persistir após essa reflexão, o profissional precisa entender quais são seus pontos fortes (tanto as habilidades comportamentais quanto as técnicas) que o tornam qualificado para trabalhar na área almejada — uma boa estratégia para descobrir o perfil necessário é pesquisar guias salariais, reportagens e currículos, via LinkedIn, de quem já está empregado nesse tipo de indústria.
A partir daí, fica mais fácil saber que competências precisam ser desenvolvidas e ir atrás de cursos que possam minimizar a falta de experiência. Essa é a chance, também, de se aproximar um pouco do setor. “As empresas buscam pessoas em escolas, e, quando o profissional faz uma especialização, entra na vitrine”, afirma Carlos, da Asap.
Antigos e novos contatos
Além de conhecer pessoas da área em cursos, eventos e até em um MBA com foco específico, é bom, paralelamente, colocar o networking para funcionar e resgatar contatos, como antigos clientes e colegas de faculdade. A aproximação não pode ser brusca: tem de ter um tom (apenas um tom) de cortejo. “Diga por que escolheu aquela pessoa para ajudá-lo e ofereça algo em troca — uma ideia, uma inovação”, diz Mayra.
O LinkedIn é outra opção. Na rede social, há grupos de segmentos e nichos, que são uma boa oportunidade para fazer aproximações. É um tipo de networking que tem menos força, mas há chance de conquistar um contato de um setor panelinha se o profissional contar sobre sua trajetória, história de vida e explicar como sua experiência pode ser importante para a área fechada.
Foi o caso de Graciana Mussi, de 39 anos, gerente jurídica para a América Latina da Eaton. Ela construiu toda a carreira no escritório de advocacia Trench, Rossi e Watanabe, em São Paulo, onde trabalhou por 16 anos na área de fusões e aquisições. Isso lhe rendeu experiência prestando consultoria a multinacionais e também uma rica rede de relacionamentos.
Quando se mudou com a família para Valinhos, no interior paulista, usou o LinkedIn para fazer a transição. A advogada pesquisou locais onde poderia atuar e mapeou em sua rede contatos nas empresas. “Eu trocava mensagens com uma pessoa da área jurídica da Eaton porque já havíamos feito negócios”, diz Graciana. Como conversava sempre com esse profissional, ela foi avisada sobre a abertura da vaga que ocupa atualmente. “Quando a vaga surgiu, encaminhei meu currículo e fui chamada”, diz Graciana.
Conversa franca
Um candidato que vem de outro setor não tem, normalmente, todos os requisitos solicitados pela descrição da vaga e está concorrendo com profissionais que já têm experiência. Por isso a entrevista é tão importante. É o momento em que o forasteiro pode se destacar.
As armas mais eficientes são: mostrar que há identificação com a empresa, deixar claro que existe vontade de aprender e explicar como as experiências podem ser um diferencial.
O engenheiro eletroeletrônico Luiz Alberto Gonzaga, de 40 anos, conseguiu mostrar seu entusiasmo na hora da entrevista para a vaga de gerente de serviços da Acer, empresa americana que fabrica computadores. Com uma história de seis anos na farmacêutica Roche, Luiz foi contatado por um headhunter de uma recrutadora na qual havia cadastrado seu currículo, para ser entrevistado para a vaga.
Por gostar de desafios e de mudanças, ele aceitou o convite e se preparou para a entrevista resgatando suas experiências e pensando como sua bagagem poderia ser usada no novo setor.
Quando estava em frente ao gestor da Acer, fez algumas sugestões de inovação para a empresa — e conseguiu o emprego. “Não estava viciado nas mesmas ideias de quem sempre atuou em TI”, diz Luiz. “Minha experiência diferente e meu entusiasmo com as novidades me ajudaram a ter sucesso na entrevista.
O que fazer se você quer migrar para um setor fechado
Pense sobre sua bagagem: Reflita sobre os projetos mais desafiadores de sua carreira e pense como suas habilidades podem ser usadas em um setor diferente.