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Precisamos de mais projetos de mentoria para mulheres

Conheça a Olga Mentoring – Escola de Líderes grátis para incentivar mulheres a tocarem negócios

Por Por Redação Você S/A
Atualizado em 17 dez 2019, 15h25 - Publicado em 1 dez 2015, 13h30

Texto de Nana Lima, publicitária e sócia do Think Eva

O Olga Mentoring – Escola de Líderes é um programa de mentoria de negócios para mulheres. A primeira edição acaba de terminar. Foram seis encontros com especialistas, professoras e mentoras. Ao final de tudo, as mulheres sairiam com um Plano de Negócio pronto.

Foram selecionadas oito mulheres, entre mais de 300 inscritas, através de um formulário no qual elas contavam um pouco da suas histórias e motivações para abrir um negócio ou continuar um empreendimento.

Não houve um momento chave que motivou o Mentoring. Foram vários momentos que me fizeram ter certeza da necessidade de projetos de mentoria focados em mulheres. O objetivo aqui não é só passar o conteúdo sobre como criar ou melhorar um modelo de negócio, mas sim entender nossas barreiras internas e externas e criar uma rede de apoio e desenvolvimento profissional feita por e para mulheres.

Como nenhum projeto é imparcial, esse foi surgindo de vários momentos de desconforto ao longo da minha carreira. Eu sou formada em publicidade e mudei com 23 anos para Barcelona onde morei por 7 anos. Trabalhei na área de marketing de empresas multinacionais, e apesar das diferenças culturais, posso afirmar que o machismo no mundo corporativo independe da nacionalidade da empresa.

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Houve um momento em que me pediram para não negociar um salário porque estávamos no auge da crise econômica espanhola e eu não negociei (em teoria a porcentagem de aumento do salário seria a mesma para todos as funcionárias e funcionários). Tudo isso para descobrir depois que um colega (homem) negociou mesmo assim. E ganhou o aumento, apesar da crise e da minha insegurança.

Outro momento foi quando minha ex-chefe finalmente me ofereceu o cargo dos sonhos: Gerente de Produto da Ásia. Viagens e troca de experiência internacional era meu objetivo naquele momento. E apesar disso, a minha reação ao receber a notícia foi: “Você tem certeza? Eu não tenho experiência nesse mercado!”. Não consigo imaginar um colega homem tendo essa reação.

Mas o que mudou? Depois de quase 10 anos trabalhando com marketing eu sentia que precisava aprender ferramentas novas (e também por exigência do mercado) decidi fazer um MBA. No primeiro dia eu me deparo com uma turma de 75 pessoas onde somente seis são mulheres.

E ao longo do curso eu lidei com inúmeras certezas que tive que desconstruir. Finanças, por exemplo. Eu sempre odiei exatas. Sempre desviei de qualquer equação e cálculo que envolvesse mais que duas somas. Acreditava cegamente no gerente do banco ao me vender qualquer rendimento.

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Meu trabalho sempre exigiu uma análise de números bem básica e, não vou mentir, eu aprendi tantas fórmulas no Excel que nunca precisei fazer uma conta de verdade. Porém, não consigo lembrar do momento exato em que essa certeza entrou na minha vida. Alguém me falou que eu era “ruim de números” ou eu cheguei sozinha a essa conclusão?

Mas lá eu não tive muito como enrolar e eu tive que aprender “números”. E argumentar resultados para a decisão de compras de empresas e renegociação de dívidas. Eu assumo que estou deixando de contar as infinitas horas que eu passava para solucionar problemas bem básicos. Isso não aconteceu como nos filmes, onde passa um relógio atrás e, quase sem esforço,  a pessoa supera um desafio. Entretanto, passado esse desconforto, eu comecei a ver como nós mulheres temos desafios muito mais complexos. Nós terceirizamos a gestão do nosso dinheiro à filhos, irmãos, maridos e pais…

A norma no mundo corporativo (e no empreendedorismo) é ser confiante, liderar, arriscar e vender uma ideia de maneira assertiva, e essas não são características associadas a nós mulheres. Ou pelo menos não são bem vistas quando uma mulher atua assim. E isso foi uma desconstrução forte que aconteceu comigo. Atuar de maneira natural  e não como esperavam que uma mulher deveria atuar. Não pedir desculpas ao emitir uma opinião sobre o que estava sendo debatido ou priorizar o meu trabalho antes de ir comprar o bolo de aniversário que, por ser mulher, todo mundo no escritório espera que você faça.

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Mulheres no mercado de trabalho: pequenas mudanças, grandes avanços

Há umas semanas, nós estivemos em um evento do Facebook chamado Women in Tech. Uma mesa de debate com 4 mulheres e 2 homens para discutir a situação das mulheres dentro do mercado de tecnologia. Já nas apresentações iniciais, um dos homens vendeu sua empresa, seu faturamento e como ele cresceu 3 dígitos em menos de 3 anos. Fez questão de contar como ele começou do nada e hoje tem x funcionários e briga com os principais players do mercado.

As mulheres agradeceram aos seus maridos e família. Ao seus ex-chefes e ex-colegas. Nenhuma informação relevante sobre seus cargos, seus valores como gestora, sua estratégia. Nada contra dividir esse tipo de informação “mais humana” e realmente acredito que devemos humanizar o ambiente corporativo, mas são oportunidades perdidas para a troca de informação prática e relevante para outras mulheres. Mulheres que estavam lá para aprender. E nenhuma das panelistas se deu o mérito, de chegar onde chegou na carreira, pelo próprio esforço.

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Nesse mesmo evento, quando uma mulher da plateia perguntou qual era a maior dificuldade que uma mulher iria encontrar no mercado de tecnologia, as panelistas responderam que seria a auto-sabotagem. Apesar de que sim, nós mulheres sofremos muito mais com a síndrome de impostora do que os homens,  simplificar a situação como se “é só querer, você só tem que acreditar” é, no mínimo, uma desconexão com a realidade.

Empresas de tecnologia e start ups são as novas agências de publicidade. Muitas horas de trabalho, ambiente machista e pouquíssimo apoio antes, durante e depois para as mulheres que decidem ser mães.

Seria tão mais fácil acreditar na meritocracia e culpar as mulheres. Porém, nesse mesmo evento não havia nenhuma mulher negra e, posso arriscar, todas ali tiveram acesso ao ensino superior. E por mais uma mulher que vive em uma situação de exclusão social queira e queira muito, não vai conseguir vencer essa barreira externa. Nós mulheres somos demitidas após voltar da licença maternidade e muitas vezes até antes de ter o filho. Apesar de ser ilegal, com certeza você conhece alguém, ao redor dos 30 anos, que já foi questionada em uma entrevista de trabalho se deseja ou não ter filho.

Nós mulheres brasileiras somos 53% dos empreendedores brasileiros. E, por falta de acesso a ferramentas de gestão, arriscamos muito menos que os homens. A motivação principal para empreender é combinar vida profissional com a vida pessoal, já que o mercado reluta em mudar em direção à equidade de gênero.

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Apenas 14% dos CEOS brasileiros são mulheres. Nos conselhos de administração somos apenas 6% (e a maioria são filhas ou herdeiras do dono da empresa). E esse número tão baixo não surpreende, já que ocupamos apenas 22% dos cargos de diretoria. Ao analisar essa informação está claro que, mais uma vez, nós mulheres, teremos que ir atrás dessa equidade e lutar pelo direitos de todas, porque para muitos “chegar lá” é só uma questão de querer e não de injustiça social e estruturas de poder.

Assim como todos os outros projetos no Think Olga, o Mentoring quer ampliar as possibilidades para as mulheres. Acreditamos em empoderamento através do conhecimento. Vivemos em um mundo machista onde ser mulher já é bastante difícil e quanto mais funções você acumula (mulher, mãe, empresária) mais difícil fica. Caso elas decidam empreender, que seja por oportunidade, e não por necessidade. Empreender é difícil, porém, com apoio, essa jornada pode ser prazerosa e empoderadora e como consequência, gerar muito autoconhecimento e realização interna.

Nana Lima é publicitária formada pela FAAP, diretora de projetos na Think Olga e sócia da Think Eva. Trabalhou em diferentes agências de publicidade no Brasil antes de se especializar em marketing para o público feminino. Em Barcelona, onde morou por 7 anos, obteve um MBA pela ESADE Business School e atuou como Head of Area de marketing em empresas multinacionais como Desigual e MANGO (MNG) para os mercados asiático e latino americano.

Edição: Anna Carolina Rodrigues

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