Poder dividido: no Banco Indusval & Partners há dois presidentes
Algumas companhias estão testando e aprovando o comando dividido entre dois presidentes. Veja como é a divisão de poder no Banco Indusval & Partners
SÃO PAULO – A solução de dividir o comando parece inusitada, mas é cada vez mais comum que empresas passando por um processo de sucessão, transição ou fusão pensem em adotar dois presidentes. “Isso acontece quando, durante processos de sucessão, identificam-se as competências necessárias ao cargo em dois candidatos”, afirma Robert Juenemann, conselheiro de administração do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), de Porto Alegre. No Banco Indusval & Partners Luiz Masagão Ribeiro e Jair Ribeiro da Silva Neto são os presidentes. “O compartilhamento do cargo é uma forma de se conseguir avançar em liderança e fazer uma divisão de responsabilidades”, diz Robert Juenemann, do IBGC. Conversamos, por telefone, com Jair Ribeiro para saber como funciona uma empresa com o poder dividido.
VOCÊ S/A – Como é a relação de você com o Luiz Masagão, co-CEO do B&P?
Jair Ribeiro – O Luiz e eu nos conhecemos há 20 anos. Começamos a trabalhar juntos há 4. Nós sentamos na mesma sala. A cumplicidade que temos é fundamental. Quando um fala, o outro escuta. Ele, inclusive está escutando esta nossa conversa agora. Está trabalhando lá, mas está ouvindo.
VOCÊ S/A – Como fica a divisão de tarefas e poder?
Jair Ribeiro – Os nossos valores, princípios e objetivos são iguais. Isso já ajuda muito. Nós dois definimos a estratégia e temos muito claro o que um e o outro fazem. Ter essa divisão, na verdade, facilita o nosso trabalho porque uma instituição financeira tem obrigações regulatórias e podemos dividir essa tarefa que consome muito tempo. Ficamos livres para nos concentrar em questões estratégicas.
VOCÊ S/A – Em uma companhia com dois presidentes, não pode haver momentos de confusão entre os subordinados, por exemplo?
Jair Ribeiro – Não aqui. Temos muito cuidado para garantir que ninguém faça reporte duplo. Alguns vice-presidentes se reportam a mim, outros a ele. Temos características complementares e gostamos de partes diferentes do negócio. Toco a área comercial e tesouraria e ele fica com o RH, por exemplo. Também temos comitês com a participação de diversas pessoas para manter a pluralidade.
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VOCÊ S/A – Perfis tão diferentes não favorecem o desenvolvimento de conflitos?
Jair Ribeiro – Não porque sabemos administrar bem.. Temos os mesmos valores e objetivos e não há uma disputa interna de poder. Eu sou um cara mais comercial, de clientes, o Luiz gosta mais da parte interna. Mas dividir o cargo de presidente não é para qualquer um
VOCÊ S/A – Em que situações isso pode não dar certo?
Jair Ribeiro – Eu já fico mais confortável com essa divisão porque sempre tive sócios e sempre trabalhei tomando decisões em conjunto. Fui presidente de uma empresa de tecnologia com 8 000 pessoas e achava muito estressante e solitário não ter com quem dividir as dúvidas e responsabilidades. Eu tenho hoje trabalhando ao meu lado um sujeito de honestidade intelectual. Se fosse alguém exatamente como eu, acho que não seria bom para mim nem para a empresa. Líderes com a cabeça hierárquica não conseguem se adaptar, se confundem. Temos personalidade forte aqui, mas existe a confiança mútua. Acho que no BTG Pactual (que desde o final do ano está com dois presidentes) o modelo vai funcionar muito bem porque as pessoas de lá tem essa relação de sócios.