Leia a íntegra da entrevista de Rômulo Dias, presidente da Cielo, a VOCÊ S/A

Nem a marcha lenta da economia nem a insônia crônica tiram o bom humor e o pique de Rômulo Dias, presidente da Cielo e workaholic assumido, que comanda sua tropa com disciplina e franqueza

Por Por Vanessa Vieira
Atualizado em 17 dez 2019, 15h26 - Publicado em 28 out 2015, 07h45

SÃO PAULO – Em todo o Brasil, o ritmo de compras com cartão de crédito vem caindo, um reflexo da desconfiança do consumidor brasileiro com o atual momento econômico. Com isso, o volume de operações com esse meio de pagamento capturadas pela Cielo entre abril e junho cresceu apenas 1,9% na comparação com o mesmo período do ano passado. 

Nada que abale os números robustos da operadora de pagamentos eletrônicos, que registrou lucro líquido de 869,4 milhões de reais, um avanço de 9,1% em relação ao segundo trimestre de 2014. “Estávamos acelerando a 120 quilômetros por hora; agora, estamos a 80, porque temos de nos adaptar ao entorno”, afirma o carioca Rômulo Dias, de 53 anos, presidente da Cielo, para quem o cenário econômico não pode servir de desculpa para resultados medianos.

“É um ano desafiador em que a gente vai ter de se reinventar e, como eu brinco, rodar a bolsinha”. A seguir, conheça um pouco mais sobre a personalidade e o estilo de gestão de Rômulo Dias.  

Como é sua rotina de trabalho?

Sou workaholic e não tenho problema nenhum de admitir, porque o trabalho me diverte. Quem já trabalhou em banco de investimentos acha tudo fácil depois, do ponto de vista de tamanho da jornada. A diferença é que aqui o dia é mais intenso. Às vezes, entre uma reunião e outra, eu preciso pedir licença para conseguir ir ao banheiro. Trabalho de 13 a 14 horas por dia, entre escritório e a minha casa. Só de casa, trabalho umas duas a três horas diárias. E eu tenho um terceiro turno pesado também de encontros e reuniões. No fim de semana, coloco a leitura em dia. Leio relatórios da indústria, notícias, pensando no que aquilo pode me trazer de ideias para a Cielo sobre liderança, marketing, posicionamento, sobre como fazer diferente. Adoro aquela frase que diz: quanto mais eu trabalho, mais sorte eu tenho.

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Nesse ritmo, dá para equilibrar vida pessoal e profissional?

Todo dia de manhã eu malho. Faço sete dias por semana, seja corrida, musculação ou bicicleta.  Até jogo de futebol eu assisto pedalando na bicicleta ergométrica. Sempre faço duas coisas ao mesmo tempo. Isso me dá energia. E, por incrível que pareça, todo dia faço a minha meditação, 5h30, logo que acordo. Mas tenho um problema de insônia. Infelizmente, estou dormindo com ajuda de medicação, porque meu médico me disse que a pior coisa é ficar sem dormir. Se você me perguntar como eu equilibro minha vida pessoal com o trabalho, honestamente, eu não equilibro muito não. Sou naturalmente muito ligado.

Como descreve seu estilo de gestão?

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Além de ter gente, estratégia, produto, o segredo está na repetição. Assim como no exército, você tem de ser disciplinado e fazer todo dia a mesma coisa. Depois que você define a estratégia, você tem de baixar o nível da linguagem, torná-la inteligível, trabalhar o aspecto psicológico e transmitir a mensagem de maneira simples para a tropa. É dizer: é pra cá que a gente vai e ter disciplina para repetir uma rotina.  Um exemplo disso é o aplicativo Smart, que criamos aqui na Cielo e permite fornecer, remotamente, a rota diária para a nossa equipe de vendas. Antes, o cara fazia quatro visitas por dia, hoje ele faz 12. Nós damos a rota. Depois, é só remar. Tá cansado? Se você não gosta de trabalhar, aqui não é o seu lugar. Gato gordo de vez em quando precisa de um choque para acordar.

É esse estilo de gestão que explica sua permanência na presidência da Cielo há sete anos? 

Sem resultados, vamos combinar que ninguém permanece na cadeira para explicar. Você tem de ter um pouco da paranoia, ser ligado em 220 volts. Não ser um cara doente, com TOC, mas alguém capaz de antecipar desacelerações no mercado, onde você pode ser superado pela concorrência, onde terá de fazer mudanças de curso. Mas como você alcança esses resultados é tão importante quanto: sendo ético e ganhando a mente e o coração das pessoas. E isso é um grande desafio. Depois de sete anos, como continuar sendo relevante para as pessoas, para o que você diz não entrar por um ouvido e sair pelo outro? Como fazer as pessoas entenderem que o que foi feito até o ano passado não será mais suficiente neste ano?  É fundamental ter consistência. Se a empresa, aquela tropa, está indo para uma direção, não dá para chegar de repente e dizer: ‘Não! Mudei de ideia’. É preciso ter clareza na comunicação e honestidade no que você diz. Não prometa algo se não puder fazer. Mesmo que a notícia não seja boa, vá para frente e explique. O mesmo vale para o feedback. Aqui não tem processo de fritura, ou cozinhar em banho lento. Falem com a pessoa, deem o feedback, positivo ou negativo. A demissão, quando acontece, não pode ser uma surpresa.

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Que tipo de profissional sempre tem espaço na sua equipe?

Acredito muito no pilar pessoas. Numa empresa de serviços, as pessoas são absolutamente tudo.  Na indústria também é importante, mas outros fatores, como câmbio, o preço da exportação e do minério de ferro, influenciam bastante. Em serviços, se eu não tiver um time competente e motivado, o negócio não acontece. Preciso das duas coisas: pessoas extremamente bem formadas e com muita, muita vontade de fazer e acontecer.  Mas, se eu tiver um cara para quem aquilo que ele faz é o último prato de comida, e outro que é PHD em Física e se acha o máximo, eu fico com o primeiro.

Em sua opinião, quais as características do profissional que chega ao topo da hierarquia?

Tendo participado do conselho de várias empresas, vi vários tipos de executivos e isso me ajudou a relativizar. Havia pessoas muito boas, e outras não tão boas, com muitas lacunas. Em algum momento pensei: ‘se esse cara está aí, também posso estar’ – porque sou muito exigente comigo mesmo. Os presidentes não são deuses nem super-homens. Aliás, não sou presidente, estou presidente. Quando me colocaram nesse posto, eu decidi: ‘vou suar sangue’. Mas sou só uma peça na engrenagem. No dia que eu achar que não dou mais conta do recado, vou ser o primeiro dizer. Não quero enganar ninguém. 

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