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Empresas apostam em programas de estágio e trainee diferentes

Viagens ao exterior e experiência em outras companhias ajudam a identificar os profissionais mais alinhados aos valores da companhia

Por Caroline Marino
Atualizado em 23 dez 2019, 16h30 - Publicado em 16 ago 2017, 10h00

Esqueça o combo tradicional dos processos de estágio e trainee, com seleções preestabelecidas e programas com o mesmo formato, em que jovens passam por etapas como job rotation para, depois, atuar na área que escolheram no início ou naquela em que tiveram melhor desempenho.

Para atrair os melhores e acertar mais nas contratações, algumas empresas estão inovando e criando ações mais específicas. Assim, conseguem identificar profissionais realmente alinhados à sua cultura e podem testar competências técnicas e comportamentais.

Em 2015, por exemplo, a Nexo, braço de recrutamento da consultoria Box 1824, criou um programa de estágio compartilhado. A empresa reuniu três companhias (Ambev, Credit Suisse e McKinsey) — que antes estariam brigando pelos talentos — para, juntas, montarem um processo unificado. “É uma mudança de mindset — de começar a olhar de fora para dentro, colocando o jovem em primeiro plano para, assim, conseguir encontrar pessoas protagonistas, curiosas e que realmente tenham o perfil adequado a cada uma das empresas”, afirma Renata Figueiredo, gerente de atração de talentos da Ambev, companhia de bens de consumo e bebidas, de São Paulo.

Denominada MIP (Master Internship Program), a iniciativa, que permite ao jovem selecionado experimentar o trabalho nas três organizações, surgiu quando a Nexo analisava questões consideradas críticas sobre os programas de entrada no mundo corporativo. “De um lado, vimos profissionais que idealizam o mundo corporativo, com expectativas descoladas da realidade; de outro, um sistema de ensino que, muitas vezes, está longe dos reais desafios das organizações. Sem falar dos processos seletivos muito tradicionais”, diz Andreas Auerbach, sócio e cofundador da Nexo.

O compartilhamento do programa traz vantagens a todos. Para as empresas, o desenvolvimento do jovem é maior e mais rápido, já que vivenciar o dia a dia de três mundos diferentes ajuda na adaptabilidade e acelera o amadurecimento. “Com esse tipo de experiência, os jovens conseguem aceitar e respeitar mais as opiniões diferentes, algo crucial nos dias de hoje”, diz Ricardo Barros, consultor e sócio-diretor da consultoria Aylmer Desenvolvimento Humano, do Rio de Janeiro.

Para o jovem, a vantagem é que a opção pela empresa onde vai trabalhar é feita com mais embasamento. Esse foi o caso de Vinicius Viana, de 23 anos, que estava em dúvida entre atuar na indústria e entrar no mercado financeiro e viu no MIP a chance de sanar sua indecisão. “Fiquei sete meses na Ambev e sete no Credit Suisse, que parecia mais próximo do que eu queria. Mas, com a experiência, percebi que a Ambev tinha mais a ver com meu perfil, trazendo a possibilidade de trabalhar com mais autonomia e independência”, diz Vinicius.

Desafio na veia

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Seguindo a mesma linha, a Pollux, companhia de tecnologia industrial de Joinville (SC), reformulou seu processo seletivo de trainee e estágio ao perceber que a ação convencional, com recebimento de currículos e entrevistas, não atendia ao objetivo principal da empresa: encontrar o talento certo.

Em 2009, foi criado o Desafio Pollux, seleção que envolve jogos e provas presenciais. A cada ano, a empresa elabora um processo diferente. Na última edição, em uma das tarefas, os jovens, divididos em grupos, receberam em mãos 5 000 reais, um carro e a missão de, em 24 horas, multiplicar o dinheiro. “Buscamos pessoas que topem qualquer desafio”, diz José Rizzo, CEO da companhia. Essa etapa auxilia na descoberta de competências essenciais para a empresa, como integridade, ética, inovação, vontade de assumir riscos e perfil empreendedor. “Os jovens querem processos fora do convencional e a certeza de que a empresa tem um propósito definido. Quando veem que a maneira de ingressar na companhia é diferente, ficam mais interessados”, diz José.

Mas não é só a seleção que foge do comum. Na primeira semana do trainee, os três aprovados entre os 250 inscritos almoçaram a cada dia com um diretor e foram alocados em áreas estratégicas para tocar projetos.

Bagagem internacional

Outra empresa que aposta em etapas inovadoras é a Indigo, que atua na operação e na administração de estacionamentos, com sede em Porto Alegre. Tanto que, em março, seis trainees da companhia embarcaram para os Estados Unidos para conhecer a Singularity University e estudar temas como desenvolvimento disruptivo e gestão exponencial — além de visitar empresas do Vale do Silício, como Google e Airbnb.

A iniciativa faz parte do Programa Indigo Trainee Eiffel, criado em 2015. “A ideia é trazer pes­soas que se desenvolvam de modo acelerado e que fomentem o crescimento da empresa de forma criativa”, afirma Cecilia Lanat, diretora da plataforma de pessoas da companhia.

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Em vez da viagem ao Vale do Silício, os jovens podem optar por visitar a França para conhecer a sede da empresa e assim viver, na prática, o dia a dia da companhia fora do Brasil. Essas experiências aceleram a carreira e o desenvolvimento pessoal. Prova disso é que, ao longo dos quase dois anos do programa, cinco trainees já foram promovidos ao cargo de coordenador.

Frederico Blanco, de 28 anos, atual coordenador da plataforma de gestão exponencial da Indigo e antigo trainee, aproveitou a ida aos Estados Unidos para adquirir conhecimentos que o ajudam nas atividades da empresa. “A viagem ao Vale do Silício, feita no fim do programa, não acontece apenas pela experiência de conhecer outro país. Temos como meta entregar um projeto, algo inovador e que faça a empresa crescer”, afirma ele, que conseguiu a liberação do empregador para ficar uma semana a mais no exterior acompanhando palestras e ampliando o networking.

Exemplos como esse mostram uma preocupação das empresas com a diversificação do repertório dos jovens. “Quanto mais você amplia seu horizonte, mais soluções tem para resolver problemas e desafios”, afirma Carla Reis, gestora executiva da ­Alumni Coppead, do Rio de Janeiro.

Afinal, o contato com culturas diferentes faz o profissional refletir mais sobre respostas prontas e gerar insights valiosos sobre oportunidades. “Com base em comparações e contrastes, o potencial de análise se expande, o que é muito benéfico para a realidade complexa que experimentamos hoje”, diz Carla. Sinal de que a criatividade e a inovação nos programas de trainees são muito bem-vindas.

Você encontra essa reportagem na edição de Julho/230 da VOCÊ S/A ()
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