Eduardo Musa, da Caloi, fala da importância das ciclovias para a indústria de bicicletas
Para o presidente da Caloi, o incentivo ao ciclismo nas capitais é uma oportunidade para acelerar e ultrapassar o mau momento da indústria brasileira
SÃO PAULO – Neste primeiro semestre, o faturamento da Caloi, divisão brasileira da canadense Dorel Sports, teve um crescimento superior a 30% em relação ao mesmo período do ano passado.
Longe de festejar, o presidente da companhia, Eduardo Musa, de 48 anos, admite que o resultado se deve à comparação com uma fase em que as vendas foram prejudicadas pela Copa do Mundo. “Na época, os varejistas só queriam vender aparelhos de TV”, diz ele.
Apesar da preocupação com os efeitos da crise econômica sobre a indústria brasileira neste segundo semestre, Eduardo acredita que, no médio e longo prazos, o investimento de algumas prefeituras na expansão de ciclovias e ciclo-faixas, o aumento do número de ciclistas nas grandes capitais e até as mudanças de comportamento do cidadão tendem a favorecer os fabricantes de bicicletas e, em particular, a Caloi.
A indústria de bicicletas já sentiu o efeito da expansão das ciclovias?
Hoje, a principal barreira para que as pessoas deixem o carro em casa e recorram à bicicleta é a segurança. Os acidentes de carro, embora mais frequentes, já estão tão incorporados ao nosso dia-a-dia que não são mais notícia, mas os de bicicleta sim. A ciclovia resolve essa questão ao mitigar o risco de acidentes. E se ela passar próximo da sua casa e do seu trabalho, o incentivo para pedalar é maior ainda. Quando a primeira ciclofaixa foi inaugurada em São Paulo, em 2009, 8 000 ciclistas passaram por ela. Hoje, são cerca de 200 000 pessoas nos quase 200 quilômetros de ciclofaixas da cidade. O problema é que, paralelamente a esse fenômeno, veio a crise econômica brasileira, que anulou qualquer efeito benéfico microssetorial.
No médio prazo, o quadro é melhor?
Alguns fatores podem beneficiar o nosso segmento, porque a crise ajuda a mudar certos comportamentos. O combustível caro, por exemplo, incentiva a busca por alternativas mais baratas de mobilidade. Até a inflação pode ter um efeito favorável. Atualmente, se um casal sai para jantar em São Paulo, gasta o equivalente ao preço de uma bicicleta, uma forma de lazer muito barata. Acho que a Caloi, em particular, deve se beneficiar desse quadro, já que, num momento de crise, as marcas fortes prevalecem, porque o consumidor não pode correr o risco de errar na compra e perder dinheiro.
Como é sua rotina de trabalho?
Acordo às 6h. Como tenho três filhas, de 6, 8 e 12 anos, neste horário a minha casa já é um pandemônio. Nos dias em que não levo às meninas à escola, faço musculação antes de vir para o escritório. Trabalho umas 10 horas diárias e, à noite, aproveito a tranquilidade, depois que as crianças vão dormir, para responder e-mails. Gasto de uma a duas horas com isso. Também viajo muito a trabalho. Para o exterior, faço ao menos uma viagem mensal. Mas procuro ter uma rotina saudável. Em São Paulo, vou pedalando para almoços e reuniões. E evito levar trabalho para casa no fim de semana.
Qual o perfil de um profissional com vocação para comandar uma empresa?
Aprendi que uma pessoa pode até ser competente técnica e politicamente. Mas quem vai subir na organização é quem é visto pelos pares como alguém capaz de criar bons times, inspirar e motivar.
Como inspirar pessoas num ano tão difícil?
A frustração é enorme, quando a equipe está fazendo a coisa certa e os resultados não vêm por fatores externos. Todo dia é um cliente ligando cancelando um pedido porque não está vendendo. O ambiente fica pesado. A pressão é muito grande e você precisa tomar medidas impopulares – de economia, corte de investimentos e de negócios. Mas evito repassar esse pessimismo focando no que estamos fazendo de bom. Desci muito mais na operação para liderar diretamente alguns processos. Nessas horas, é preciso mostrar para a equipe que a empresa tem comando.