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Conheça os investimentos protegidos pelo Fundo Garantidor de Crédito

Algumas aplicações oferecidas por bancos e financeiras menores podem conciliar lucratividade superior à do Tesouro e proteção semelhante à da poupança

Por Por Luciana Lima
Atualizado em 17 dez 2019, 15h18 - Publicado em 2 nov 2016, 07h00

Já virou consenso que investir na poupança no atual cenário de inflação alta é jogar dinheiro fora. Em 2015, a rentabilidade da aplicação ficou em 8,07%, muito abaixo dos 10,67% da inflação. Na prática, isso quer dizer que quem aplicou na poupança viu seu dinheiro perder poder de compra. 

Mesmo assim, a opção ainda é a campeã de popularidade no Brasil. Segundo uma pesquisa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), o investimento na caderneta continua sendo a escolha de 69,5% dos brasileiros, que atribuem a preferência à segurança trazida pela poupança. 

Mais recentemente, os títulos do Tesouro também caíram no gosto dos investidores brasileiros. Por serem assegurados pelo governo federal e acompanharem a taxa Selic, eles aliam solidez semelhante à da poupança com um maior rendimento. 

Porém, o que pouca gente sabe é que há outras opções para conciliar a tão sonhada lucratividade com a segurança. Em bancos e financeiras menores, é possível conseguir condições que proporcionem ganhos até maiores do que no Tesouro. “Essas instituições financeiras são pouco populares e, por isso, possuem taxas mais atraentes. Para conseguir mais clientes, muitas remuneram até mais que 100% da taxa de juros”, diz Cláudio Ferro, CEO da plataforma Poupa Brasil, especializada em investimentos em pequenos bancos e financeiras. Isso pode significar uma rentabilidade mensal a partir de 1,21%. A título de referência, a rentabilidade de um título Tesouro Selic com vencimento em 2017 fica em 1,16% ao mês. 

Embora vistos com desconfiança por muitos consumidores, os investimentos oferecidos por essas instituições são assegurados pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC) e podem ser uma boa opção em relação aos grandes bancos. Desconhecido da grande maioria, o FGC, criado em 1995, é uma associação que concentra todas as instituições financeiras do país. 

Mensalmente, os bancos e financeiras contribuem para formar uma reserva para ressarcir os investidores em caso de quebra ou calote de alguma das empresas associadas. “O FGC ajuda no desenvolvimento do sistema financeiro nacional como um todo, dando mais visibilidade a bancos menores. O Brasil tem mais de 300 bancos, mas, se formos contar, só lembramos dos grandes e mal conseguimos listar as instituições”, diz André Crepaldi, planejador financeiro de Campinas (SP). 

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O FGC reembolsa até 250 000 reais por CPF e instituição bancária, e cobre os investimentos em instituições privadas, além de depósitos em conta-corrente e poupança. “Ou seja, você, com seu CPF, pode investir em vários bancos com aplicações de até 250 000 reais cada e ficar protegido pelo FGC em todos eles”, afirma André. “O ideal é aplicar em cada instituição um valor abaixo desse limite para que a rentabilidade que o título prometia também esteja protegida, e não apenas o valor inicial”, diz o planejador. O prazo para recuperação do dinheiro em caso de quebra da instituição é de dez a 15 dias após o envio das informações para o FGC. 

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Um desses títulos menos conhecidos é o RDB (Recibo de Depósito Bancário), uma aplicação semelhante ao CDB (Certificado de Depósito Bancário) e que pode chegar a remunerar até 116% da taxa DI. Diferentemente dos CDBs, os RDBs podem ser emitidos por financeiras, mas são inegociáveis e intransferíveis. “Ambos são considerados títulos de baixo risco, pois o retorno é previsível, mas os RDBs não podem ser revendidos pelo investidor, o que diminui sua liquidez”, diz Felipe Sotto-Maior, sócio-fundador da Vérios, empresa administradora de investimentos. Apesar de o título não poder ser negociado, na plataforma Poupa Brasil é possível resgatar a aplicação a qualquer momento, mediante diminuição da rentabilidade para 90% do CDI.

 

Acesso facilitado

Lançado no fim do ano passado, o Poupa Brasil é um site da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), especializado em oferecer RDBs de instituições de pequeno e médio porte. “Pretendemos facilitar o acesso a essas instituições. Atualmente reunimos 11: um banco e dez financeiras de diferentes tamanhos”, diz Claudio.

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Após o cadastro na plataforma, é possível adquirir os RDBs dos associados, investindo um valor mínimo de 1 000 reais e máximo de 100 000 reais. “Nossa ideia é manter os investimentos dentro da proteção do FGC. Para valores maiores, sugerimos fazer mais de uma aplicação”, diz o CEO do Poupa Brasil. Também não é possível escolher a instituição, pois a plataforma distribui automaticamente os investimentos entre os associados, de modo que todos captem recursos. O Poupa Brasil não cobra taxas dos investidores e permite acompanhar a aplicação online.

O advogado Adriano Boni de Souza, de 36 anos, aderiu ao investimento nos RDBs graças à comodidade do acesso online aos bancos e financeiras menores. “Embora conhecesse a garantia do FGC para essas instituições e soubesse que elas oferecem melhores taxas, o contato com elas era difícil, geralmente por telefone, e demandava muito tempo”, afirma. No começo deste ano, Adriano descobriu o Poupa Brasil e, desde então, substituiu a aplicação de 5 000 reais mensais em planos de previdência pelos RDBs. “O retorno é muito maior e eu posso adquirir o título com prazos de acordo com os meus projetos”, diz.

Como funciona

Quanto maior o prazo até o vencimento, maior a rentabilidade dos RDBs, porque, assim como nos CDBs, quanto mais tempo o dinheiro permanece aplicado, menor a alíquota do imposto de renda que incide sobre ele. Outras opções de investimentos protegidas pelo FGC são as LCs (Letras de Câmbio), LCIs (Letras de Crédito Imobiliário) e LCAs (Letras de Agronegócio), estas duas últimas sem desconto de imposto. “Mesmo sem o desconto, é um erro afirmar que as LCIs e LCAs sejam as melhores opções. Para avaliar isso, é preciso fazer o cálculo comparando a rentabilidade líquida do CDB ou do RDB, uma vez que todos esses investimentos têm o mesmo nível de risco e proteção do FGC”, diz o planejador André Crepaldi.

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Então, da próxima vez, antes de aceitar a proposta do seu gerente, pesquise um pouco mais e considere aquele banco menos conhecido, verificando se seus produtos são protegidos pelo FGC. “Procure apurar se a instituição está inscrita no Banco Central”, diz Felipe Sotto-Maior, da Vérios. Com esses cuidados, não há desculpas para não diversificar e melhorar seus investimentos. 

Selo de garantia

Confira quais como são os investimentos protegidos pelo FGC, quais são suas taxas e as vantagens e desvantagens de optar por um deles.

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RDB 

Título de renda fixa emitido por bancos e financeiras. Pode ser pré ou pós-fixado. Quanto maior o prazo até o vencimento do RDB, menor o desconto do imposto de renda. Os valores mínimos e máximos de investimento variam conforme a instituição que emite o título. Podem remunerar até 116% do CDI.

• Como investir: diretamente com as instituições, por meio de uma corretora de investimentos ou no site do Poupa Brasil.

• Taxas: não há taxas de administração, mas algumas corretoras descontam de um percentual sobre o rendimento obtido pelo cliente.

• Vantagens: quando emitidos por financeiras e bancos menores, podem oferecer remuneração melhor que os CDBs.

• Desvantagens: são intransferíveis e inegociáveis, o que diminui a sua liquidez. Em algumas instituições, como o Poupa Brasil, é possível o resgate antecipado, mas com diminuição da rentabilidade.

CDB

Título de renda fixa emitido apenas por bancos. Pode ser pré ou pós-fixado e sofre descontos progressivamente menores do imposto de renda quanto maior o prazo da aplicação. Os valores mínimos e máximos de investimento variam de acordo com a instituição que emite.

• Como investir: através de corretoras ou diretamente nas instituições.

• Taxas: Não há taxas de administração, porém, em algumas corretoras, há cobrança de spread, um desconto no rendimento obtido pelo cliente.

• Vantagens: como pode ser negociado antes da data de vencimento, o dinheiro liberado pode ser liberado ao investidor no mesmo dia em que é solicitado. 

• Desvantagens: as taxas dos bancos costumam ser menos atraentes. Para os prefixados, só há garantia de rentabilidade quando o investidor resgata seu dinheiro na data de vencimento. Antes disso, o dinheiro pode ser resgatado, mas o rendimento dependerá do mercado naquele momento.

LC

A Letra de Câmbio é um título de renda fixa que só pode ser emitido por financeiras. Diferentemente dos RDBs e CDBs, seu capital tem o lastro de ações cambiais. Também há cobrança de imposto de renda e os valores para aplicação variam de acordo com o emissor.

• Como investir: por meio de corretoras ou diretamente nas instituições.

• Taxas: não possui. 

• Vantagens: a rentabilidade deste investimento é bastante expressiva. Algumas Letras de Câmbio pagam até 130% do CDI.

• Desvantagens: a letra de câmbio não permite  resgatar o dinheiro antes do prazo. Há a alternativa de vender o título para outro investidor ou optar por Letras de Câmbio com liquidez diária, que possuem menor rentabilidade, por oferecerem mais flexibilidade.

LCI e LCA

As Letras de Crédito Imobiliário e do Agronegócio são títulos de renda fixa emitidos por bancos, com o objetivo de financiar os setores imobiliário e o agronegócio. São isentas de imposto de renda, pré ou pós-fixadas e atreladas à taxa básica de juros da economia.

• Como investir: por meio de corretoras ou diretamente nas instituições.

• Taxas: não possuem.

• Vantagens: são isentas de cobrança de imposto renda e bancos menores costumam oferecer melhores taxas de remuneração. desde 2013, a taxa básica de juros cresceu sete pontos percentuais. 

• Desvantagens: o título só pode ser resgatado no vencimento e o dinheiro não pode ser tocado até lá. Algumas instituições estabelecem um valor alto para o investimento mínimo, que pode chegar a 30 000 reais.

Esta matéria foi publicada originalmente na edição 217 da revista Você S/A com o título “Seguros e rentáveis”

Você S/A | Edição 217 | Agosto de 2016 

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