Como o presidente da Oracle está lidando com a crise
Com mais de 750 contratações em 18 meses, a inauguração de um novo data center e foco na austeridade, Cyro Diehl está levando a Oracle do Brasil para longe
Poucos presidentes de empresas no Brasil têm motivos para sorrir com a crise. Cyro Diehl, da Oracle, é um deles. Há quase 19 anos na companhia de softwares (seis deles na presidência da subsidiária brasileira), o engenheiro paulistano de 50 anos vive um bom momento na carreira e, ao contrário da maioria dos seus colegas de cargo, está até comemorando o momento atual.
“Estamos conseguindo contratar muitos profissionais excelentes que foram demitidos porque trabalhavam em empresas que não tinham políticas de avaliação de desempenho”, afirma Cyro. Nos últimos 18 meses, a empresa recrutou 750 profissionais no país, e não deve desacelerar tão cedo.
Como vocês estão vivendo esse período turbulento para tantas empresas e profissionais?
A economia diz que estamos passando por uma fase de desafios, mas a Oracle sempre se preparou para isso. Temos um escritório bonito, mas não luxuoso, e temos poucas camadas gerenciais. É uma estrutura enxuta em todos os sentidos. Quando há crise, você corta – quando tem onde cortar. No nosso caso, aproveitamos para saltar na frente dos competidores, porque acontece um fenômeno na crise: as pessoas continuam trabalhando, pensando, consumindo. Nossa meta é contratar, para ficar melhor do que nossos concorrentes.
Quer dizer, então, que a Oracle continua investindo em nosso país?
Sim. Mark Hurd, CEO da Oracle, disse que continuaria investindo no Brasil. Organicamente não tem crescimento, mas temos de buscar mais oportunidades. Por isso, investimos em gente. Empresas são pessoas. Nós não fabricamos nada se tirarmos as pessoas do escritório da Oracle. E é bom para nós que outras companhias estejam demitindo.
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Por que as demissões podem ser positivas assim?
Porque conseguimos contratar muita gente boa. Na maioria das vezes, as empresas acabam cortando gente que não seria cortada se a economia estivesse bem. Até porque nem todas as companhias têm um método de gestão e de avaliação de desempenho eficiente e acabam demitindo 10% do quadro sem avaliar a competência daquelas pessoas. Isso tem feito muita gente boa ser demitida.
Para quais áreas estão contratando?
Para todas, mas a que mais cresce é a Oracle Direct, que é o nosso setor de atendimento ao cliente. Nessa área, contratamos muitos jovens recém-saídos da universidade. É um call-center do futuro, que precisa de profissionais bem formados para fazer tracking e cuidar dos clientes. Nessa área, notamos quem gostou de alguma coisa e mandamos uma demonstração de produto, por exemplo. É um atendimento inteligente.
Qual o seu grande desafio como líder da Oracle no Brasil?
Continuar acreditando. Não estou dizendo para enfiar a cabeça no buraco, mas para ter discussões positivas. É muito comum que a gente se contamine pelo discursos do “está ruim”. Há desemprego, mas há alguns polos que crescem. O desafio é passar por essa turbulência com a cabeça erguida e mantendo o foco nos funcionários. Só cobro o que posso controlar. Como não controlo a economia, não choro por causa disso.
A crise pode ser boa para reajustar as expectativas, não?
É verdade. A nova geração não tinha enfrentado nenhuma crise. Mas a minha geração já. Eu estou com 50 anos, tenho cicatrizes – e houve crises piores. Para a Geração Y, que queria crescer rápido demais e tinha baixo compromisso com as empresas, a crise ajuda a colocar o pé no freio e a refletir sobre a importância de ter um emprego.
Esta matéria foi publicada originalmente na edição 214 da revista Você S/A com o título “Contratando na crise” e pode conter informações desatualizadas
Você S/A | Edição 214 | Maio de 2016
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