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Como enfrentar seus medos na carreira

Ter alguns temores é absolutamente natural, mas isso não pode se tornar um empecilho para o crescimento profissional. Saiba como parar de tremer na base

Por Gabriel Ferreira
Atualizado em 15 out 2024, 16h44 - Publicado em 14 mar 2015, 08h12
Paula Yamakawa, Ibope (André Lessa/)
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Numa das primeiras sensações que Carla Leonato, de 28 anos, sentiu quando teve de assumir, em 2014, o cargo de gerente de trade marketing da Mondelez, fabricante de alimentos, foi medo. Por ser jovem, mulher e dar um grande passo na carreira, ela ficou realmente preocupada.

A essas inseguranças se somou o fato de que a profissional estava mudando de área de atuação, pois, antes da mudança, ela tinha experiência apenas em empresas dos segmentos de higiene e beleza. “Temia não dar conta e não ser bem-aceita na equipe”, diz Carla.

Inseguranças como as da profissional são mecanismos de proteção desenvolvidos por nosso corpo ao longo do tempo. É natural do ser humano sentir um arrepio na espinha quando está em uma situação de perigo iminente, seja um assalto, seja uma reunião importante.

Situações potencialmente perigosas, como enfrentar um ano complicado economicamente (caso do Brasil em 2015), dar um grande passo na carreira ou discordar de um chefe difícil, podem trazer alguma sensação de desconforto.  

Mas o medo tem um aspecto positivo de aumentar a produtividade. “A pessoa se torna mais cautelosa e assertiva”, afirma Marcelo Olivieri, da Talenses, empresa de recrutamento, de São Paulo. Foi o que ocorreu com Carla.

Os temores a ajudaram a compreender o que precisava mudar em suas atitudes para dar conta dos novos desafios. “Passei a enxergar que, na verdade, eu me cobrava muito mais do que os outros”, afirma Carla. Com o tempo, descobriu que uma boa dose de planejamento ajudava a cumprir as tarefas com mais facilidade e diminuía a ansiedade. “Hoje enfrento desafios maiores sem perder o sono.” 

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O problema é quando os temores são tão grandes que, em vez de trazer alguma cautela, paralisam. “Em excesso podem sabotar o profissional, que acaba não enxergando o quadro da forma correta”, diz Adriana Fellipelli, da Fellipelli Consultoria, de São Paulo, que usa a neurociência para processos de coaching.

Essa distorção pode prejudicar o desempenho profissional. “A pessoa toma decisões que não fazem nenhum  sentido quando analisadas com calma”, afirma Erica Ariel Fox, consultora americana e autora do livro Winning from Within (“Vencer vem de dentro”, numa tradução livre, ainda sem edição no Brasil), que orienta profissionais há mais de 20 anos.

Segundo ela, não foram poucas as vezes em que ouviu executivos de renome apontar o medo como a principal causa das decisões erradas. O maior problema é a omissão: o profissional cria um nível de aversão ao risco que o leva a abrir mão de oportunidades para sua carreira ou sua empresa. “É normal confundirmos situações que deveriam requerer alguma atenção extra com algo absolutamente assustador”, diz Erica. 

Quem se vê diante de situações de insegurança deve estar disposto a pedir ajuda — seja a um parente, seja a um amigo — ou, em casos mais graves, a um profissional.

Com essa ajuda externa, torna-se mais simples reparar nas próprias reações e corrigir posturas. “Temos a tendência de querer resolver a situação rapidamente, mas o melhor é aprender a conviver com esse sentimento e agir com calma”, afirma Erica. A ideia é que a pessoa descubra os principais motivos de sua insegurança e trabalhe para diminuí-la. No caso de questões técnicas, fazer um curso ou dedicar-se diariamente aos estudos pode ajudar.

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Quando são receios ligados a comportamentos ou relacionamentos, uma conversa franca — ou a simples disposição de se arriscar mais — pode fazer diferença. “É melhor enfrentar a questão e corrigir o rumo do que simplesmente não agir”, diz Marshal Raffa, da consultoria de RH Thomas Case, de Campinas, em São Paulo. A seguir, você descobre o que está por trás de alguns dos principais medos que podem afetar sua carreira e o que fazer para enfrentá-los.

Os sentimentos dos outros 

Há momentos em que é preciso dar um feedback mais duro ou informar colegas e chefes sobre um fato desagradável. Em situações assim, muitos preferem não se posicionar ou perdem a mão e tratam os outros com pouco tato — e, assim, podem perder oportunidades. “Sempre fui direta no meu jeito de falar e sabia que isso poderia me trazer problemas”, diz Renata Galindo, de 29 anos, gerente de logística de uma multinacional do setor farmacêutico.

Ela procurou ajuda de chefes que tinham mais habilidade com a gestão e conseguiu mudar. “Aprendi a me controlar e a tratar os assuntos de forma mais objetiva”, afirma. 

Os grandes projetos

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O mercado cada vez mais globalizado e competitivo faz com que todo projeto assuma ares de grande tarefa. “Não saber se vai dar conta de um desafio é absolutamente natural até para quem já está em um cargo alto”, afirma Adriana, da Fellipelli.

O medo de não estar preparado para uma responsabilidade maior do que estava acostumado fez com que o administrador Maurício Gentile, de 30 anos, recusasse propostas profissionais. “Não tinha confiança para dar alguns passos”, diz. Foi então que ele resolveu se preparar melhor.

Depois de estudar o funcionamento de mercados internacionais, ele aceitou a proposta para ser gerente de vendas da fabricante de resinas Nitro Química para a Europa. “O medo foi bom porque me fez buscar conhecimento e me preparar para lidar com desafios maiores.” O ideal mesmo é tentar enfrentar o desafio e entender quais habilidades você precisa desenvolver para dar conta do recado, mas não se deixar abater por ainda não estar pronto. 

O risco de errar

Todo profissional cometerá alguns erros durante a carreira. Mas é preciso ter cuidado para que a expectativa do dia em que vai falhar não acabe virando desculpa para não agir. “O medo de errar tem de servir de motivo para procurar mais conhecimento e não para deixar de fazer as coisas”, diz Marcelo, da Talenses. Foi essa a lição que Paula Yamakawa, de 36 anos, diretora de estatística do Ibope Inteligência, aprendeu ao longo da carreira nessa área.

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A ideia de que alguma falha em seu trabalho possa afetar os resultados das pesquisas oferecidas aos clientes é uma constante em seu dia a dia. Mas ela aprendeu a se defender. “Procuro sempre embasar muito bem as decisões que tomo, porque isso me dá mais segurança”, afirma Paula.

Mesmo assim, vez ou outra alguma coisa sai do planejado. “Nas próximas vezes redobro minha atenção, mas não posso deixar que a ideia de errar influencie meu trabalho”, diz Paula.

A necessidade de inovar

Fazer as coisas de maneira diferente significa, no limite, sair da zona de conforto. E isso incomoda. Então muita gente se apoia na velha desculpa: “Se deu certo até agora, não tem motivo para mudar”.

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O problema é que, em muitos negócios, continuar fazendo igual não é uma opção. “Antigamente, era difícil prever se uma empresa continuaria existindo em cinco anos”, afirma Erica Fox. “Hoje é difícil dizer se toda uma indústria ainda estará de pé nesse prazo.” Com tanta pressão para inovar, muita gente trava.

“É um temor ligado ao medo de fracassar. Inovar sempre envolve assumir riscos”, diz Marcelo, da Talenses. Fazer uma análise criteriosa do cenário ajuda a minimizar os erros.

A decepção com o desempenho

A expectativa que as pessoas  colocam na própria carreira é um dos principais elementos para alimentar os medos profissionais. “Jovens que passam por programas de trainee sofrem com isso, pois não sabem se vão entregar o que os outros esperam”, diz Felipe Maluf, sócio da consultoria YCoach, de São Paulo.

A pressão por resultados fabulosos pode afetar pessoas em qualquer fase da carreira. Ela acrescenta um peso enorme mesmo nas decisões pouco importantes. Um bom caminho para ganhar segurança é buscar aconselhamento com alguém mais experiente.

O fantasma de ficar sem trabalho

“No fundo, todos os medos que sentimos no trabalho estão ligados ao receio de ficar sem emprego”, afirma Marcelo, da  Talenses. É muito comum também quem passe a ter medo de como o currículo vai ser encarado por selecionadores depois de alguma passagem não muito positiva, como uma demissão ou falência.

Essa era uma das angústias da administradora Verena Stukart, de 31 anos, quando ela resolveu fundar a Mundipagg, empresa que desenvolve sistemas para pagamento via internet, setor no qual a  executiva tinha atuado antes.  “Arrisquei, mas temia não conseguir me recolocar no mercado caso fracassasse”, afirma Verena. “Foi um dos fatores que mais me fizeram refletir, mas achei que a empresa era promissora e que a experiência de montar um negócio seria válida de qualquer forma.” 

Para que o temor de perder o empregoou de ficar muito tempo parado não seja paralisante, a orientação é estar sempre preparado para contratempos, tanto com uma boa reserva financeira quanto com a rede de contatos sempre ativa.

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