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Será um déjà-vu? Ibov termina setembro com cara de junho

Enquanto Ibovespa luta para voltar ao patamar de 95 mil pontos, Wall Street tem segundo trimestre seguido de altas

Por Juliana Américo, Tássia Kastner
Atualizado em 9 out 2020, 16h23 - Publicado em 30 set 2020, 18h28

Para quem ainda está no modo isolamento, com a sensação de que o ano está passando e nada acontece, há um alento: a bolsa brasileira também não sabe se está vivendo ou apenas existindo. Terminou setembro, mas parece mesmo que ainda é junho. Será um déjà-vu?

Vejamos: neste 30 de setembro, o Ibov fechou em alta de 1,09%, a 94.603 pontos. Em 30 de junho, o principal índice da bolsa brasileira estava em franca recuperação do vale da pandemia e bater os 95.056 pontos era, sim, uma excelente notícia. Tanto era que a Bolsa passou bastante tempo nesses três meses acima da simbólica marca de 100 mil pontos. Mas, sim, a bolsa hoje está pior que em junho. 

Há três meses, o problema parecia ser só econômico e com cara de ter solução. Agora é, com certeza, econômico e político. O que levou o mercado a passos largos para o campo negativo foi a decisão do governo de financiar a versão turbo do Bolsa Família (agora chamado de Renda Cidadã) com dinheiro do Fundo para Educação Básica (Fundeb) e de precatórios.

Faz dois dias que Faria Lima, parlamentares, Tribunal de Contas e até autores de pedidos de impeachment de presidentes passados avisam que isso é pedalada fiscal e contabilidade criativa. E que, veja bem, todo mundo lembra como o filme termina.

Depois do fechamento do mercado, nesta quarta, finalmente o governo teria enterrado a parte de usar o dinheiro dos precatórios, segundo a coluna Radar Econômico, da Veja. Isso que mais cedo o ministro da Economia, Paulo Guedes, tinha descartado a pedalada nos precatórios.

O problema é que parlamentares não tinham sido avisados: os senadores Fernando Bezerra e Márcio Bittar reafirmavam que o governo manteria a atual proposta de financiamento e que a decisão se daria em uma batalha a ser travada no Congresso Nacional para a aprovação do programa.

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E tem ainda a novela antiga que passa lá em Brasília, da briga de Guedes com Rodrigo Maia. O desentendimento entre os dois recomeçou no início do mês, após uma divergência em torno da necessidade de destinar recursos para um fundo de desenvolvimento regional que beneficiaria as regiões Norte e Nordeste. 

Como um bom folhetim é feito de ofensas e intrigas, ontem Maia foi ao Twitter reclamar que Guedes está atrapalhando o avanço da reforma tributária. No capítulo de hoje, o ministro comentou ter ouvido boatos de um possível acordo entre Maia e a esquerda para não pautar as privatizações. 

Deu tempo para a resposta: “Paulo Guedes está desequilibrado”, disse Maia.

Enquanto os políticos brigam entre si, o país afunda ainda mais na crise. Por mais que os dados do Caged mostrem que foram abertas 249,4 mil vagas formais de trabalho em agosto (acima da projeção de 122.447 postos), a taxa de desocupação atingiu 13,8% no trimestre de maio a julho de 2020. É a mais alta da série histórica iniciada em 2012 e já são mais de 13,1 milhões de brasileiros na fila do desemprego. 

Com esse quadro para projetar o futuro, o investidor local se desespera. E aqui está a prova de que é um déjà-vu. Parece igual, mas não é exatamente isso. 

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A coisa foi tão desajustada em setembro que o dólar voltou a subir para acima de R$ 5,60 (em junho estava em R$ 5,19), e os juros de longo prazo dispararam. 

Perceba, para os juros futuros pouco importou que a Selic continue em 2%. O mercado colocou a taxa lá para cima porque vê risco de desequilíbrio nas contas públicas. Só que isso ocorreu de uma maneira tão repentina que investimento em tesouro selic tá dando prejuízo, um belo sinal que o mercado tá de cabeça pra baixo. Na verdade, tá é com medo de emprestar até para o governo.

Mas uma notícia positiva dessa quarta-feira veio do noticiário corporativo. A Raia Drogasil subiu 6,79% no pregão depois de anunciar plano de abrir 240 novas lojas no ano que vem e outras 240 em 2022. Os números superaram as expectativas do Bank of America, que esperava 230 novos pontos de venda para cada ano.

Aqui ninguém duvidaria se dissessem que foi de tanto vender calmante para o mercado financeiro, desesperado com o que anda vendo em Brasília.

ANTIDEPRESSIVO

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Além de calmantes, talvez o investidor local precise também de um antidepressivo ao olhar como poderia ter terminado o trimestre caso o cenário doméstico não tivesse desandado nas últimas semanas.

Nos EUA, o cenário está muito melhor. O país registra o segundo trimestre seguido de altas nas ações. O S&P 500 e o Nasdaq Composite bateram uma série de recordes nos meses de julho e agosto. E, apesar da volatilidade ao longo de setembro, os índices americanos surpreenderam os investidores e fecharam o mês todos em alta: Dow Jones (1,20% a 27.781 pontos), S&P 500 (0,82% a 3.362 pontos) e Nasdaq (0,74% a 11.167 pontos). 

Esse é um sinal de que a economia pode estar saindo da UTI e se recuperando do covid-19. Mas, claro, nem tudo é positivo. Wall Street ainda espera um acordo entre democratas e republicanos sobre o pacote de auxílio econômico para driblar a crise; e o PIB americano registrou uma contração de 31,4% no segundo trimestre em termos anualizados.

Mas, assim como no Brasil, a política da maior potência mundial está pegando fogo. Ontem aconteceu o primeiro debate presidencial entre Donald Trump e Joe Biden. E foi um show de horrores que envolveu 1) não deixar o oponente falar; 2) falar dos filhos, 3) um cala a boca.

Foi tanto bate-boca que sobrou até para o Brasil.

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Biden afirmou que haverá consequências econômicas significativas se o país não cuidar da Amazônia e Bolsonaro não gostou nem um pouco da ameaça. O presidente publicou em seu Facebook que as palavras do candidato foram “lamentáveis” e que a “nossa soberania é inegociável”.  

Maiores altas

CSN: 7,70%

Raia Drogasil: 6,79%

Qualicorp: 5,13%

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Minerva: 4,63%

Cyrela: 3,75%

Maiores baixas

Suzano: -3,23%

Ultrapar: -2,23%

Equatorial Energia: -1,99%

Grupo Pão de Açúcar: -1,25%

Klabin: -1,12%

Dólar: – 0,37%, cotado a R$ 5,61

Petróleo

Tipo WTI: +2,37% (US$ 40,22 o barril)

Tipo Brent: +1,78% (US$ 42,30 o barril)

Minério de ferro: +5% (US$ 123 por tonelada)

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