Restituição do IR: Como aproveitar o dinheiro para se organizar financeiramente
Segundo a Serasa, 67% dos brasileiros pretendem usar a grana para quitar dívidas. Confira dicas de especialistas para fazê-lo com eficiência.

á marco histórico para a restituição do Imposto de Renda em 2025. No total, 6,2 milhões de brasileiros receberão R$ 11 bilhões de volta do Leão: o maior valor já depositado na história para a maior quantidade de contribuintes.
Com essa bolada, distribuída ao longo de cinco lotes (o calendário completo, você encontra ao final desta matéria), quase 7 a cada 10 brasileiros pretendem honrar algum compromisso financeiro, como dívidas, contas inesperadas ou pendências que levaram ao nome sujo. É o que mostra um levantamento da Serasa junto ao Opinion Box, feito com quase 2 mil consumidores em maio deste ano. Número esse, vale dizer, que aumentou significativamente do ano passado para cá (em que 45% utilizaram a grana para esta finalidade).
Mas pagar (ou não) qualquer tipo de dívida requer um planejamento estratégico. É isso que argumenta o consultor financeiro Renan Diego, que divide essa categoria de gastos em dois espectros: dívidas “boas”(como financiamento de uma casa ou automóvel, por exemplo), e dívidas “ruins”, como as do cartão de crédito, contas em atraso e por aí vai. Vamos entender.
Bola de neve
Com os dados do Fisco, é possível calcular o valor médio da restituição este ano: R$ 1.746 por pessoa. Representa um aumento de 70% em relação a 2024, quando a média foi de R$ 1.024. Mas a amplitude do valor é significativa: o ideal é checar caso a caso no site da Receita Federal, neste link.
Com base nesse valor, está na hora de fazer um raio-X inicial das suas finanças. Isso deve te mostrar se há um orçamento mensal para aquele gasto recorrente ou não.
Se você está apertado nas parcelas do financiamento de um carro, apartamento, casa ou outro bem material, por exemplo, vale investir o valor da restituição para reduzir a chance perder aquele bem (e o dinheiro investido nele). “Se houver parcelas em atraso, o valor da restituição pode ser útil em momento crítico, especialmente no caso de bens que correm risco de serem leiloados”, aconselha Diego.
Essa técnica é chamada de “bola de neve” por Mila Gaudencio, economista consultora financeira do will bank. Segundo a especialista, que defende estratégias comportamentais aliadas à estratégia financeira, para quem tem mais de uma dívida, começar a quitar as menores pode trazer um fôlego importante na recuperação da sua conta bancária. “Essa confiança é fundamental para espantar a vergonha e desânimo nesta situação. Se ela está em falta, recomendo esse caminho”, diz. Afinal, o preço da sua paz pode ser o preço desta dívida.
Ela também complementa: se o dinheiro da restituição será usado para pagar contas do dia a dia (como é o caso de 23% dos brasileiros, segundo a Serasa), está na hora de rever o orçamento.
Dívidas de cartão de crédito e outros monstros horríveis
Para dívidas de cartão de crédito como cheque especial, rotativo do cartão ou empréstimos, o caminho é outro — especialmente pelos juros praticados. No primeiro caso, as taxas podem ultrapassar 150% no ano. Desde janeiro de 2024, a taxa de juros de rotativo e parcelamento do cartão não podem superar 100% do valor da dívida original: o que ainda significa que a dívida tem potencial de dobrar em 12 meses. Essa, sim, é uma tremenda bola de neve.
Para Renan, se você não consegue realizar o pagamento da dívida inteira (desconsiderados os juros, reitera), não é aconselhável pagar o mínimo. “Guarde esse dinheiro para conseguir negociar mais para frente. Ou procure imediatamente o seu credor com o valor da restituição. A negociação é essencial.” O especialista também citou o Feirão Limpa Nome, do Serasa — do qual você pode entender melhor como funciona aqui.
Essa técnica pode parecer improvável mas, para muitas instituições financeiras, é a melhor estratégia. Existem alguns motivos que explicam esse movimento, mas isso acontece, principalmente, porque o Conselho Monetário Nacional (CMN) exige que os bancos tenham uma reserva de capital para cobrir possíveis perdas com inadimplência.
É uma grana que fica imobilizada: não pode entrar ou sair enquanto as dívidas já existentes não forem quitadas. Isso limita a capacidade da instituição de conceder novos empréstimos ou investir em outras estratégias. Justamente por isso, ter essa dívida liquidada (ainda que com grande desconto) dá mais liberdade e mais crédito para o banco.
Ainda sim, Mila adverte: fazer esse tipo de negociação pode encerrar a relação que você tem com aquela instituição, que deixará de te aceitar como cliente. “Pense bem no que aquele banco pode te oferecer e se existe algo que você só pode encontrar lá antes de tomar essa decisão”, diz.
Outro lado da moeda
Como dito no começo desta reportagem, nem toda dívida é ruim. Existem dívidas que cabem dentro do nosso orçamento — e que devem, segundo Renan, ser deixadas em paz. “Se você está conseguindo pagar todo mês, esqueça a restituição. O melhor é guardá-la para criar uma reserva de emergência.”
Note: guardar é diferente de investir — coisa que 22% dos brasileiros pretende fazer esse ano, segundo outra pesquisa da Serasa e Opinion Box realizada em janeiro deste ano.
O primeiro, apesar de ser um movimento financeiro aconselhável, não é o mais inteligente neste momento, argumenta o consultor financeiro. “Hoje, está muito simples e acessível investir em algo além da poupança”, diz.
O especialista refere-se a investimento como o Tesouro Selic. O produto financeiro acompanha o rendimento da nossa taxa básica de juros, hoje em 14,75% ao ano. Isso significa que R$ 5.000 aplicados por lá podem render R$ 737,50 em 12 meses, por exemplo. “Você recebe mais de 1% ao mês de retorno, em um dos investimentos mais seguros do país, sem precisar se arriscar na bolsa de valores”, explica Renan. Isso pode ser feito por meio do seu banco, por corretoras ou pelo próprio site do Tesouro Direto.
Diego também cita os CBD’s. Aos que não estão familiarizados, é a sigla para Certificado de Depósito Bancário. Ele nada mais é que um título de dívida de bancos. Ou seja, quando você compra um CDB do Bradesco, você está financiando o banco. Simples assim.
Há a possibilidade de investir em CDB’s com liquidez diária (vide você consegue movimentar a grana a qualquer momento) e que renda mais do que 100% do CDI (taxa de juros utilizada nos empréstimos entre bancos por aqui). Ambas as informações são esclarecidas no momento do investimento.
Mila adiciona que, tanto no caso dos investimentos quanto do guarda-chuva financeiro, é essencial saber o porquê de você estar realizando essas movimentações. “Qual sonho você quer realizar? Uma viagem, casa própria, sua aposentadoria… é importante que o dinheiro tenha um destino.” Se não houver, na primeira oportunidade você vai voltar a gastá-lo sem peias.
Agora, para quem já garantiu um guarda-chuva financeiro e já investe, dinheiro de restituição na mão é vendaval. Ambos os especialistas defendem o equilíbrio: quanto mais se gasta dinheiro investido, mais dá vontade de investir. Esse movimento também é demonstrativo de uma boa saúde financeira.
Calendário da restituição do Imposto de Renda 2025
- 1º lote: 30 de maio
- 2º lote: 30 de junho
- 3º lote: 31 de julho
- 4º lote: 29 de agosto
- 5º lote: 30 de setembro