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Quer apostar em Marfrig, JBS e cia? Combine antes com os russos.

Frigoríficos já acumulam queda de mais de 20% em dois meses. Ouça o analista Mané Garrincha. E entenda qual é a treta. 

Por Alexandre Versignassi
Atualizado em 17 out 2024, 10h43 - Publicado em 9 out 2020, 17h43
 (Rickson Liebano/Getty Images)
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Existem duas leis que você deve respeitar acima de tudo. Uma é a de Murphy, a do “o que pode dar errado vai dar errado”. A outra é 100% nacional, e funciona ainda melhor: o fator Garrincha. 

Se você sabe bem do que eu estou falando, pode pular este parágrafo. Se não, vem comigo. É aquela lenda urbana sobre Mané Garrincha, na Copa de 1958. Vicente Feola, o técnico, teria dito na preleção para o terceiro jogo do torneio, contra a União Soviética: “Mané, você pega a bola e dribla o primeiro zagueiro. Quando chegar o segundo, você dribla também. Aí vai até a linha de fundo e cruza pro Vavá marcar”. E o atacante, talvez o driblador mais espetacular que o mundo já viu, retrucou: “Tudo bem, professor, mas o senhor já combinou com os russos?”

É mais ou menos o que está acontecendo com o quarteto gelado da bolsa: JBS, Marfrig, BRF, Minerva – os grandes frigoríficos. As ações deles estão entre os destaques das carteiras recomendadas pelas casas de análise para este mês, de acordo com um levantamento do UOL economia.   

Não é de hoje. Marfrig, a mais recomendada, e JBS, maior produtor de proteína animal do mundo, já tombaram 20% entre a máxima dos últimos meses (que foi outro dia, no final de agosto) e o fechamento de hoje. Minerva e BRF tiveram seus picos recentes um pouco depois, em setembro. E caíram 20% do mesmo jeito. Para apostar nelas, então, vale combinar com os russos.

E o fechamento de hoje foi ainda pior. Num dia de leve queda no Ibovespa (-0,45%), o quarteto gelado caiu forte – Minerva (-2,31%), BRF (-2,68%), Marfrig (-3,47) e JBS (-3,88%) caindo forte.  

Um desses russos é a baixa oferta de boi gordo no mercado. Boi gordo é a matéria prima dos frigoríficos. Eles compram dos criadores de gado, abatem, cortam, congelam e vendem as peças para os supermercados.

A arroba, porém, está 60% mais cara do que no ano passado – dada a diminuição na oferta. Ela diminuiu por conta do clima seco, que faz os pastos sofrerem, e diminui o ritmo de engorda do bicho. Os bois seguem magrinhos, abaixo do peso necessário para o abate. Aí não dá outra: baixou a oferta, aumentou o preço.

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Os frigoríficos, por outro lado, não conseguem repassar alta no boi gordo para os consumidores. Nem aqui, nem lá fora. O preço médio nas exportações de carne congelada caiu de R$ 4,9 mil a tonelada em janeiro para R$ 3,9 em agosto. Isso com o dólar em alta e tudo. Agora, com a tendência de baixa na moeda americana – queda de mais 1,1% hoje, a R$ 5,52 – a perspectiva piora para os frigoríficos. 

Nisso, temos outro zagueiro russo na jogada (a falta de vigor do dólar). E forma-se uma tempestade perfeita para os frigoríficos, já que suas perspectivas de lucro para o resto do ano vão para as cucuias. Por essas, várias unidades deles decretaram férias coletivas – não vale a pena operar a 100% da capacidade se há risco claro de prejuízo.  

A Associação Nacional de Pecuária Intensiva (Assocon), aposta que essa situação deve seguir até 2023. A Marfrig, por outro lado, afirma que até o fim do ano tudo deve voltar ao normal. A ver.    

Construtoras em alta

Na ponta mais feliz do Ibovespa está a construtora MRV. Ela soltou um balanço prévio do terceiro trimestre com resultados bem gordinhos: R$ 1,9 bilhão em vendas de imóveis – 41% a mais do que no mesmo período do ano passado. O JP Morgan deu sua benção, dizendo que esse número superaram suas projeções em 14%. Quando vem um bancão dizendo que teve suas expectativas superadas em relação a uma empresa, não dá outra. Uma boiada de investidores corre para as compras. E a MRV ficou com a medalha de ouro desta sexta: uma alta espantosa de 9,40%. A subida puxou também as ações da rival Cyrela (+4,59%). Ponto para os analistas, aliás, já que boa parte deles já apostava no setor do imobiliário antes dessa notícia. 

Para quem tem dinheiro em ações gringas (coisa que tem ficado cada vez mais comum por aqui), o dia foi tão feliz quanto o dos acionistas da MRV e da Cyrella: S&P 500 (+0,88%) e Nasdaq (+1,39%) fecharam bonito. 

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Tudo por conta da esperança renovada em mais estímulos para a economia (empréstimos a fundo perdido, cortes de impostos etc.). A saída dos tais estímulos depende de um acordo entre republicanos e democratas – e a proximidade das eleições não estava ajudando no diálogo. 

Mas hoje Steven Mnuchin, o Paulo Guedes de Trump, se encontrou hoje com a deputada democrata Nancy Pelosi, o Rodrigo Maia dos EUA. E a expectativa é que a dupla tenha chegado a um acordo para a aprovação de estímulos na casa de US$ 2 trilhões. 

Se isso vai ser o bastante para colocar a economia americana nos trilhos, e sem criar uma inflação grotesca do dólar no meio do caminho, ninguém sabe. Para ter certeza mesmo, só combinando com os russos. 

Ainda que, de vez em quando, o que pode dar certo dá certo de qualquer jeito. Que o diga Mané:

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Bom feriado!  

MAIORES ALTAS

MRV: 9,40%

Magalu: 6,67% 

CVC: 4.75%

Cyrela: 3,91%  

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Gol: 3,46%

MAIORES BAIXAS

IRB: – 7,24%

JBS: – 3,88% 

Marfrig: – 3,47%

Braskem: – 3,09%

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Petrobras: – 2,87% 

Barril de petróleo

Brent: -1,13%, a US$ 42,85

WTI: -1,43%, a US$ 40,60

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