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Por que confiar demais no FGC pode colocar em risco o sistema financeiro

Investir em CDBs de instituições em crise por conta da garantia retroalimenta a gestão temerária nos bancos, e pode minar a sustentabilidade de um mecanismo sólido. 

Por Tássia Kastner
10 mar 2023, 05h33
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 (Caroline Aranha/Fotos: Getty Images e Unsplash/VOCÊ S/A)
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​​O Fundo Garantidor de Créditos é um seguro. Está lá, mas você espera nunca utilizá-lo. No mês passado, o Banco Central decretou a liquidação de duas financeiras, a BRK e a Portocred, e jogou 54 mil investidores na fila do FGC

Esse fundo é alimentado com recursos de bancos e financeiras, e existe para dar estabilidade ao sistema como um todo. Se o banco A está em crise e não há um sistema de garantias, a tendência é que investidores também saquem o dinheiro dos bancos B, C, D e E por medo de que a crise do A não seja um fato isolado. A cobertura do FGC dá a segurança de que a grana está preservada, e previne uma corrida bancária.

O FGC tem uma segunda função: ajudar instituições financeiras menores a atrair depósitos. Você não compra um CDB de um banco do qual nunca ouviu falar – a não ser que tenha certeza de não tomar um calote. É essa garantia que o FGC proporciona.

Só que existe um problema nessa dinâmica. A cobertura do FGC faz com que investidores topem emprestar dinheiro a instituições financeiras extremamente arriscadas, como eram a BRK e a Portocred. As duas vinham registrando prejuízos e não possuíam o capital mínimo para operar. Ainda assim, conseguiram atrair investidores com ao menos 19 títulos de dívida. Num mundo sem seguro, isso não seria tão simples.

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O que mudou foi a popularização das plataformas de investimento das corretoras. Nelas, o FGC virou argumento de venda para todo e qualquer CDB. Basta filtrar pela maior rentabilidade e investir, já que o risco é virtualmente zero. A única condição para evitar o prejuízo é ter menos de R$ 250 mil (contando com o rendimento esperado) em cada banco, já que esse é o limite da cobertura. O FGC paga também a rentabilidade do título até o dia em que o BC decreta a falência da instituição. Nesse combo, existem menos razões para evitar negócios de menos credibilidade.

Em 2017, o FGC criou um limite adicional: o teto de R$ 1 milhão por investidor. Se você tiver R$ 250 mil em quatro instituições diferentes, atingiu o limite máximo de indenização. Esse foi justamente um esforço para desincentivar o comportamento mais arriscado de investidores com capacidade de avaliar os riscos por trás dos bancos nos quais está aplicando.

De qualquer forma, o acionamento do FGC é raro. A última liquidação financeira tinha acontecido em 2021, da Companhia Hipotecária Brasileira. E o caso mais recente de duas falências em um mesmo ano foi em 2018. No fundo, o maior seguro que o país tem é um sistema financeiro sólido. Já se os socorros do FGC se tornarem mais frequentes, essa situação pode mudar. Evitar o investimento em CDBs de instituições em crise, em última instância, ajuda a manter a própria estabilidade do sistema.  

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