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Bolsonaro tenta mandar recado, mas quem fala mesmo é o Ibov em queda

Mercado quebra pratos com governo após plano de recorrer à contabilidade criativa para turbinar distribuição de renda

Por Luciana Lima e Tássia Kastner
Atualizado em 9 out 2020, 16h23 - Publicado em 29 set 2020, 19h06
Fim do casamento Brasília e Faria Lima? (Santje09/Getty Images)
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“Mercado, eu dou meu recado a vocês: se Brasil for mal, todo mundo vai mal”, afirmou o presidente Jair Bolsonaro nesta terça-feira (29). E então o casamento de Brasília com a Faria Lima deu mais um passo rumo ao divórcio, apenas para ficar em uma metáfora que está sempre nos discursos do presidente.

Foram pratos quebrados com queda de mais de 1% do Ibov, que vai se consolidando de volta nos patamares de junho, e só se salvou o dólar, que fechou estável a R$ 5,63. 

O recado de Bolsonaro era para a reação péssima que o mercado teve na segunda, após o governo anunciar que pretendia dar calote em precatórios (dívidas do governo com cidadãos, que foram originadas em outro calote, mas aí a Justiça mandou o governo pagar) e usar dinheiro da educação básica para turbinar o seu novo Bolsa Família, o Renda Cidadã. 

Ainda na segunda, o ministro da Economia, Paulo Guedes, ligou lá na Faria Lima para entender por que ficaram tão zangados, se era para tudo isso. Mas tal qual o casal no meio de uma DR, parece não ter dado atenção às queixas e achou que, depois de uma noite de sono, as coisas iriam se acalmar. Bom, não acalmaram.

A expectativa do mercado era de que o governo pudesse desistir da ideia de recriar pedaladas fiscais e contabilidade criativa, até porque a última vez que um presidente fez isso, o final foi um impeachment.

Em entrevista à Veja, o jurista Miguel Reale Jr, um dos autores dos impeachments dos ex-presidentes Fernando Collor e Dilma Rousseff, ajudou a refrescar a memória e afirmou com todas as letras: é pedalada fiscal e se trata de um crime de responsabilidade.

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Bom, aí Bolsonaro, que gosta do cargo, descobriu afinal, que ser presidente não é uma tarefa fácil. “Ser presidente, governador ou prefeito, não é sentar na cadeira e esperar a banda passar. Tem que tomar decisões, momentos difíceis. Não existe um momento mais difícil do que esse que estou vivendo aqui no Brasil, não existe”, declarou. E por fim admitiu que poderia buscar outras formas de financiamento para o Renda Cidadã.

Mas, em um sinal de que é realmente difícil tomar decisões em uma democracia, esqueceu de combinar com os russos, opa, com o senador Márcio Bittar (MDB-AC), que é relator do Orçamento para 2021 (mais precisamente o responsável por achar dinheiro para o programa). 

O senador se mostrou irredutível em manter o malabarismo fiscal e, não satisfeito, chegou até a citar possíveis valores das parcelas do Renda Cidadã, que ficaram faltando na coletiva do dia anterior. Disse que o programa deve pagar entre R$ 200 e R$ 300 – hoje o Bolsa Família gira em torno de R$ 190.

Ah, quando Bolsonaro se disse aberto a “outras sugestões”, aventou a possibilidade de privatizar algumas empresas para financiar o programa de transferência de renda. Entretanto, como observou a jornalista Rosa Riscala, do BDM Online, o problema é que essa opção também é inviável porque usa uma receita extraordinária para pagar uma despesa recorrente. É como vender o carro para pagar o aluguel. Uma hora o dinheiro do carro acaba, mas ainda é preciso pagar mensalmente o boleto da imobiliária.

Ao que parece, o recado dos mercados não foi suficientemente claro. Para entrar uma despesa, outra precisa sair. É isso que se espera de um governo liberal e comprometido com o teto de gastos. E isso vem sendo dito há dias na bolsa, no dólar e no mercado de juros.

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Mas se quiser se iludir, mercado e governo podem dizer que o dia ruim foi causado pelo exterior negativo. Mesmo com o índice de confiança do consumidor americano tendo subido a 101,8 pontos em setembro (a previsão era 90,1), Wall Street caiu em meio às expectativas para o primeiro debate entre Trump e Joe Biden durante a corrida presidencial, que vai ocorrer na noite de hoje. Dow Jones e S&P 500 terminaram juntinhos, em -0,48% cada um. Já o Nasdaq recuou outros -0,29%. 

É, pensando bem, a baixa deles foi bem mais modesta que a amargada por aqui. 

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Maiores altas

 Weg: +3.25%

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Lojas Americanas: +2.04%

Grupo Natura: +1.97%

Fleury: +1.37%

Braskem: +1.1%

Maiores baixas

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Azul: -7.71%

Gol:  -5.72%

Embraer: -4.09%

CVC: -4.00%

Rumo S/A: -3.77%

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Petróleo:

Brent: -3.75% 

WTI: -3.67%

Dólar: +0,07%, a R$ 5,63

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