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Bolsas dançam conforme a música na guerra pela Casa Branca

Ontem investidores apostavam na “onda azul” para aprovação do pacote de gastos nos EUA; hoje, que Senado republicano deve barrar aumento de impostos.

Por Juliana Américo, Tássia Kastner
4 nov 2020, 19h29

A festa tá rolando. Mas a música que era um tuts-tuts do nada virou um pagode. E as pessoas continuaram dançando sem se importar. Dá para dizer que é isso que está acontecendo com os investidores americanos.

Ontem, o democrata Joe Biden começou na liderança; durante a madrugada, Trump já estava comemorando a vitória; e agora, a disputa está acirrada com Biden na liderança de novo. 

O mercado? Continua dançando como se nada — absolutamente nada — tivesse acontecido. A Nasdaq subiu hoje impressionantes 3,85% (11.590 pontos); S&P 500 teve alta de 2,20% (3.443 pontos); e Dow Jones valorizou 1,34% (27.847). 

Com a vitória do Biden, o mercado espera um governo democrata gastador. E faz tempo que ele anseia pelo segundo pacote de estímulos à economia contra os efeitos da Covid-19. São prometidos US$ 2,2 trilhões, um valor um tanto exorbitante e que pingaria na bolsa certamente. Até ontem, esse era o ritmo da festa. Foi o que escrevemos no fechamento de mercado de ontem.

Mas o mercado contava que a aprovação desse pacote seria fácil. A expectativa era de que os democratas retomariam o controle do Senado, hoje republicano. É basicamente o que impediu que o dinheiro saísse antes da eleição.

Aí a apuração dos votos mostram uma vantagem republicana no Senado. O que o mercado viu para continuar subindo? “Senado republicano reduz a chance de aumento de impostos.” Trocou a música, a festa é a mesma. Só alegria. Além disso, com Biden na presidência, espera-se uma amenização da guerra comercial com a China.

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Esse foi o cenário político. Mas tem também o cenário corporativo. As empresas de tecnologia, em especial a Uber e Lyft, deram um impulso aos indicadores. O motivo: além da escolha do presidente, os eleitores da Califórnia aproveitaram que já estavam nas urnas para votar sobre algumas pautas locais. Uma delas é a proposta de que motoristas das empresas de transporte e de entrega por aplicativo sejam considerados funcionários. 

Bom, a população aprovou com 58% dos votos e os profissionais continuam como autônomos. Sem encargos trabalhistas, os papéis subiram: a Uber decolou 14,59% e a Lyft, 11,28%. 

Outras techs aproveitaram a onda, mas aí precisamos voltar ao senado americano. O poder das big andam sob escrutínio dos legisladores, que não gostam nada, nada do poder de influência que elas têm. Chegou-se a discutir no congresso americano a regulação das empresas e até a divisão delas em unidades menores. Mas essa é uma ideia mais democrata que republicana. Aí com o senado na mão dos vermelhos, o risco de propostas como essa passarem é menor. Resultado: Facebook +8,32%; Amazon +6,32%; e Google +6,09%.

O Ibovespa seguiu Wall Street e subiu 1,97%, fechando o dia com 97.866 pontos. Mas as altas lá de fora não foram o único motivo. Os investidores estão felizes com o fato de o Senado ter aprovado a autonomia do Banco Central; deputados e senadores também derrubaram o veto do Bolsonaro à desoneração da folha de pagamentos de empresas de 17 setores da economia até 2021. 

Com a desoneração, as empresas podem optar por contribuir para a Previdência Social com um percentual que varia de 1% a 4,5% sobre a receita bruta, ao invés de recolher 20% sobre a folha de pagamento. Caso a desoneração não rolasse, as companhias alegavam que precisam demitir. E, bom, o Brasil não precisa de mais gente na fila do desemprego. 

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Fica o aviso, a notícia da desoneração pode ser lida amanhã de uma maneira completamente diferente. Algo como “o Congresso foi irresponsável, desoneração é ruim para a situação das contas públicas”. 

Entre as ações que se destacaram no pregão, estão as ligadas ao consumo e construção. A Cyrela disparou 7,27%; assim como Lojas Renner (6,96%), B2W (6,59%) e Lojas Americanas (4,96%). 

Mas não dá para todo mundo sair ganhando, né? Hoje, o prejuízo ficou com as siderúrgicas. Depois dos fortes ganhos de ontem, os investidores decidiram vender os papéis e realizar os lucros. CNS recuou 4,42%, seguida por Gerdau (-3,88%), Metalúrgica Gerdau (-3,75%) e Usiminas (-3,45%). 

Futuro incerto

Se os investidores vão continuar ignorando a instabilidade que as eleições americanas causam, é difícil prever. 

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O que a gente sabe, é que a disputa eleitoral ainda não chegou ao fim. A contagem de votos na Pensilvânia não vai terminar hoje – e o estado representa 20 dos 270 votos necessários para vencer a eleição, ou seja, as atenções estão voltadas para a região. 

E, por mais que o democrata Joe Biden seja o candidato presidencial mais votado da história dos EUA (com mais de 69,7 milhões de votos), voto popular não elege presidente lá na terra do Tio Sam. 

Além disso, Trump já falou que vai pedir a recontagem de votos, alegando fraude eleitoral nos votos realizados antecipadamente pelo correio – a expectativa é de que eles sejam majoritariamente para Biden. O atual presidente também afirma, sem provas, claro, que a virada de Biden em estados que garantiram a vitória de Trump em 2016 – caso de Wisconsin – é suspeita. 

A abordagem do republicano, obviamente, é pelas redes sociais. Mas, diferente de 2016, quando as mídias sociais foram essenciais na divulgação de fake news e em uma possível manipulação dos resultados, agora o Twitter até já bloqueou algumas publicações e alertou que outras contém informações falsas. 

Bom, sem a recontagem, o resultado oficial só deve sair na sexta-feira; com recontagem, o processo eleitoral pode se arrastar ao longo de todo o mês de novembro.

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Talvez seja bom segurar firme, porque tudo indica que o mercado ainda vai balançar.

Maiores altas

Cyrela: +7,27%

Lojas Renner: +6,96%

B2W: +6,59%

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EcoRodovias: +6,55%

Cogna: +6,43%

Maiores baixas

CSN: -4,24%

Gerdau: -3,88%

Metalúrgica Gerdau: -3,75%

Usiminas: -3,45%

Vale: -2,78%

Petróleo

Tipo Brent: +3,83% (US$ 41,23 o barril)

Tipo WTI: +3,96% (US$ 39,15 o barril)

Dólar: -1,88%, cotado a R$ 5,65

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