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Acabou-se o que era doce: cenário político pesa e derruba Ibovespa

Promessa de retomada do auxílio emergencial em caso de segunda onda acende alerta sobre o teto de gastos, e puxa queda de 2,20%.

Por Monique Lima, Alexandre Versignassi
Atualizado em 17 out 2024, 10h33 - Publicado em 12 nov 2020, 18h41
 (Cavan Images/Getty Images)
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Era doce, e se acabou. Era vidro, e se quebrou. O mercado caminhava saltitante pelos bosques desde a semana passada. O lobo do mau humor, porém, resolveu se atacar hoje. Ontem o Ibovespa já tinha fechado numa queda leve, de 0,25%. Hoje, porém, foi quase dez vezes isso. O índice perdeu 2,20% e fechou em 102.507 pontos. 

A animação com a queda de Trump (que significa menos guerra comercial entre EUA e China) e com os bons resultados dos testes de vacinas durou pouco, em vista do aumento da segunda onda de Covid-19 na Europa e nos Estados Unidos. Chegou aquele momento de dúvidas, e de os investidores da B3 voltarem a olhar para a situação política interna do Brasil – que não vai bem, por sinal. 

Foi durante essa olhada panorâmica do investidor para o cenário nacional que Paulo Guedes soltou a bomba do dia: afirmou que, se uma segunda onda de coronavírus chegar ao Brasil em 2021, não é uma possibilidade o retorno do auxílio emergencial, mas uma certeza. A quem torcia por mais equilíbrio nas contas públicas, então, o jeito é tomar duas atitudes  em caso de segunda onda: sentar e chorar. 

Sim. No segundo seguinte da fala de Guedes a lâmpada de manutenção do teto de gastos piscou e o mercado entrou em alerta. E motivos não faltam. O gasto do governo federal com o pagamento do auxílio emergencial em 2020 chegou a R$ 182,3 bilhões. 

Nesse meio-tempo a dívida pública escalou de 75,8% do PIB ao final de 2019 para 90,6% em setembro deste ano, um percentual inédito na história do país – e que pode levar a uma elevação na taxa de juros, o que quebraria a retomada da economia. Resumindo: danou-se.

Ah, e o discurso de hoje foi ainda mais longe. A declaração não parou no auxílio emergencial. Guedes também voltou ao assunto dos impostos sobre transações digitais e adicionou o tema de taxação em cima de dividendos. Tudo o que o investidor queria ouvir, não é mesmo? – só que não. 

Se o momento já era de retirada do dinheiro para a realização de lucros, aí é que a grana foi sumindo mesmo. E o iBovespa terminou o dia sentado, e chorando. 

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Tem balanço bom aí 

Nem os balanços positivos de terceiro trimestre deram conta de animar investidores hoje. Mas vamos aos destaques de alguns deles mesmo assim.  

A Via Varejo avançou no e-commerce e nos pontos físicos. O crescimento on-line foi de 219% em comparação com o mesmo período de 2019. Já as lojas voltaram à marca de 100% abertas em setembro e reforçaram os resultados. O lucro líquido foi de R$ 590 milhões e reverteu o prejuízo de R$ 346 milhões do mesmo período de 2019. 

Só tem um problema. Foi mais um caso de “sobe no boato, desce no fato”. Muita gente entendeu que essa virada para o (ótimo) lucro já estava embutida no preço das ações. Elas já tinham subido 335% desde março, afina. Muitos que viveram essa alta decidiram, então, realizar o lucro antes que fosse tarde. E a empresa fechou numa baixa federal de 5,63% – algo que também aconteceu com a WEG há algumas semanas, nesta mesma rodada de balanços.   

Já a JBS fez bonito e manteve a recomendação “acima da média” do Credit Suisse. O lucro líquido da empresa foi de R$ 3,1 bilhões neste trimestre, 778% acima do lucro do mesmo trimestre de 2019. Segundo a Guide, o valor representa um lucro de R$1,17 por ação. Uau. 

Mas o dia foi fraco, de qualquer forma. O balanço também não rendeu bons números no pregão – provavelmente por falta de confiança na capacidade da empresa reproduzir esse resultado no futuro, já que as ações da JBS estão quase no mesmo preço baixo do início da pandemia. E o frigorífico fechou em baixa de 0,47%. 

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A maior alta do dia, de qualquer forma, ficou com outra empresa que soltou um bom balanço: a da Taesa. O lucro da transmissora de energia elétrica no trimestre foi R$ 631,9 milhões, 76,6% acima do mesmo período de 2019. A empresa ainda apresentou um plano de pagamento de dividendos que soma R$ 469,2 milhões. 

Hm, pagamento bom de dividendos? Partiu compras. E o resultado não poderia ser outro: Top 1 do pregão de hoje, com subida de 3,56%

 

Wall Street afundou o barco 

Além do cenário político interno, as baixas em Nova York não ajudaram a bolsa brasileira hoje. Pelo contrário. 

O motivo ao mesmo tempo que é velho, é novo. Ontem (11), os Estados Unidos registraram um novo recorde de casos diários de coronavírus: 144.270 novos infectados. O número de internações em um dia também foi recorde desde o início da pandemia: 65.368. 

As medidas do governador de Nova York,  Andrew Cuomo, foram quase imediatas, visto o estado ter sido o epicentro na primeira onda. Ele anunciou a volta do toque de recolher para academias, bares e restaurantes, às 22h, e proibiu reuniões privadas com mais de 10 pessoas.

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Some isso aos avanços da doença na Europa, e nem a euforia da vacina aguentou. Afinal, mesmo que ela venha em relativamente pouco tempo, os efeitos da segunda onda estão assolando a economia. 

Para piorar o pessimismo, as lideranças do Banco Central americano, Jerome Powell, e do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, mantiveram um tom receoso no discurso do dia. Falaram sobre como a pandemia é grave e inédita, de modo que não existe um plano definitivo para combatê-la. Também alertaram sobre a importância de os governos caminharem lado a lado com a Instituição Financeira para uma melhor resolução. 

Basicamente: estão assustados com a segunda onda e não sabem mais o que fazer. 

E não deu outra: bolsas lá embaixo. O S&P 500 recuou 1,00% e nem o Nasdaq se safou com suas valiosas big techs, tão vistas como “à prova de pandemia”: perdeu 0,65%. 

Enfim, dia de desolação lá fora também. 

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Mas amanhã é um novo dia (e sexta-feira, vale lembrar)

 

MAIORES ALTAS 

Taesa: 3,56%

B2W: 1,45%

Hapvida: 1,17%

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Klabin: 1,08%

Marfrig: 0.67%

 

MAIORES BAIXAS 

Azul: -6,34%

GOL: -5,92%

CCR: -5,72%

Eletrobras: -5,71%

Via Varejo: -5,63%

 

Dólar: +1,14%, a R$ 5,47 

 

Petróleo 

Brent: -0,62%, a US$ 43,53 o barril

WTI: -0,80%, a US$ 41,12 o barril

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