Acabou-se o que era doce: cenário político pesa e derruba Ibovespa
Promessa de retomada do auxílio emergencial em caso de segunda onda acende alerta sobre o teto de gastos, e puxa queda de 2,20%.
Era doce, e se acabou. Era vidro, e se quebrou. O mercado caminhava saltitante pelos bosques desde a semana passada. O lobo do mau humor, porém, resolveu se atacar hoje. Ontem o Ibovespa já tinha fechado numa queda leve, de 0,25%. Hoje, porém, foi quase dez vezes isso. O índice perdeu 2,20% e fechou em 102.507 pontos.
A animação com a queda de Trump (que significa menos guerra comercial entre EUA e China) e com os bons resultados dos testes de vacinas durou pouco, em vista do aumento da segunda onda de Covid-19 na Europa e nos Estados Unidos. Chegou aquele momento de dúvidas, e de os investidores da B3 voltarem a olhar para a situação política interna do Brasil – que não vai bem, por sinal.
Foi durante essa olhada panorâmica do investidor para o cenário nacional que Paulo Guedes soltou a bomba do dia: afirmou que, se uma segunda onda de coronavírus chegar ao Brasil em 2021, não é uma possibilidade o retorno do auxílio emergencial, mas uma certeza. A quem torcia por mais equilíbrio nas contas públicas, então, o jeito é tomar duas atitudes em caso de segunda onda: sentar e chorar.
Sim. No segundo seguinte da fala de Guedes a lâmpada de manutenção do teto de gastos piscou e o mercado entrou em alerta. E motivos não faltam. O gasto do governo federal com o pagamento do auxílio emergencial em 2020 chegou a R$ 182,3 bilhões.
Nesse meio-tempo a dívida pública escalou de 75,8% do PIB ao final de 2019 para 90,6% em setembro deste ano, um percentual inédito na história do país – e que pode levar a uma elevação na taxa de juros, o que quebraria a retomada da economia. Resumindo: danou-se.
Ah, e o discurso de hoje foi ainda mais longe. A declaração não parou no auxílio emergencial. Guedes também voltou ao assunto dos impostos sobre transações digitais e adicionou o tema de taxação em cima de dividendos. Tudo o que o investidor queria ouvir, não é mesmo? – só que não.
Se o momento já era de retirada do dinheiro para a realização de lucros, aí é que a grana foi sumindo mesmo. E o iBovespa terminou o dia sentado, e chorando.
Tem balanço bom aí
Nem os balanços positivos de terceiro trimestre deram conta de animar investidores hoje. Mas vamos aos destaques de alguns deles mesmo assim.
A Via Varejo avançou no e-commerce e nos pontos físicos. O crescimento on-line foi de 219% em comparação com o mesmo período de 2019. Já as lojas voltaram à marca de 100% abertas em setembro e reforçaram os resultados. O lucro líquido foi de R$ 590 milhões e reverteu o prejuízo de R$ 346 milhões do mesmo período de 2019.
Só tem um problema. Foi mais um caso de “sobe no boato, desce no fato”. Muita gente entendeu que essa virada para o (ótimo) lucro já estava embutida no preço das ações. Elas já tinham subido 335% desde março, afina. Muitos que viveram essa alta decidiram, então, realizar o lucro antes que fosse tarde. E a empresa fechou numa baixa federal de 5,63% – algo que também aconteceu com a WEG há algumas semanas, nesta mesma rodada de balanços.
Já a JBS fez bonito e manteve a recomendação “acima da média” do Credit Suisse. O lucro líquido da empresa foi de R$ 3,1 bilhões neste trimestre, 778% acima do lucro do mesmo trimestre de 2019. Segundo a Guide, o valor representa um lucro de R$1,17 por ação. Uau.
Mas o dia foi fraco, de qualquer forma. O balanço também não rendeu bons números no pregão – provavelmente por falta de confiança na capacidade da empresa reproduzir esse resultado no futuro, já que as ações da JBS estão quase no mesmo preço baixo do início da pandemia. E o frigorífico fechou em baixa de 0,47%.
A maior alta do dia, de qualquer forma, ficou com outra empresa que soltou um bom balanço: a da Taesa. O lucro da transmissora de energia elétrica no trimestre foi R$ 631,9 milhões, 76,6% acima do mesmo período de 2019. A empresa ainda apresentou um plano de pagamento de dividendos que soma R$ 469,2 milhões.
Hm, pagamento bom de dividendos? Partiu compras. E o resultado não poderia ser outro: Top 1 do pregão de hoje, com subida de 3,56%.
Wall Street afundou o barco
Além do cenário político interno, as baixas em Nova York não ajudaram a bolsa brasileira hoje. Pelo contrário.
O motivo ao mesmo tempo que é velho, é novo. Ontem (11), os Estados Unidos registraram um novo recorde de casos diários de coronavírus: 144.270 novos infectados. O número de internações em um dia também foi recorde desde o início da pandemia: 65.368.
As medidas do governador de Nova York, Andrew Cuomo, foram quase imediatas, visto o estado ter sido o epicentro na primeira onda. Ele anunciou a volta do toque de recolher para academias, bares e restaurantes, às 22h, e proibiu reuniões privadas com mais de 10 pessoas.
Some isso aos avanços da doença na Europa, e nem a euforia da vacina aguentou. Afinal, mesmo que ela venha em relativamente pouco tempo, os efeitos da segunda onda estão assolando a economia.
Para piorar o pessimismo, as lideranças do Banco Central americano, Jerome Powell, e do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, mantiveram um tom receoso no discurso do dia. Falaram sobre como a pandemia é grave e inédita, de modo que não existe um plano definitivo para combatê-la. Também alertaram sobre a importância de os governos caminharem lado a lado com a Instituição Financeira para uma melhor resolução.
Basicamente: estão assustados com a segunda onda e não sabem mais o que fazer.
E não deu outra: bolsas lá embaixo. O S&P 500 recuou 1,00% e nem o Nasdaq se safou com suas valiosas big techs, tão vistas como “à prova de pandemia”: perdeu 0,65%.
Enfim, dia de desolação lá fora também.
Mas amanhã é um novo dia (e sexta-feira, vale lembrar)
MAIORES ALTAS
Taesa: 3,56%
B2W: 1,45%
Hapvida: 1,17%
Klabin: 1,08%
Marfrig: 0.67%
MAIORES BAIXAS
Azul: -6,34%
GOL: -5,92%
CCR: -5,72%
Eletrobras: -5,71%
Via Varejo: -5,63%
Dólar: +1,14%, a R$ 5,47
Petróleo
Brent: -0,62%, a US$ 43,53 o barril
WTI: -0,80%, a US$ 41,12 o barril