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Por que empreender não é para todo mundo

Autor defende que muita gente abre empresa pelas razões erradas e mostra em quais casos é melhor desistir

Por Alvaro Bodas
Atualizado em 8 abr 2021, 11h30 - Publicado em 9 nov 2020, 16h00

Ser dono do seu próprio tempo, nunca ser demitido, não ter mais que aturar um chefe chato, ficar rico. Essas são algumas das razões que têm levado cada vez mais brasileiros a empreender.

Entretanto, essas motivações são vistas com ressalvas por Fabio Rodrigues, empresário e autor do livro “Na dúvida, não empreenda!” (Editora Migalhas).

De acordo com a pesquisa Empreendedorismo no Brasil, realizada pela GEM (Global Entrepreneurship Monitor) com apoio do Sebrae e divulgada no primeiro semestre deste ano, há no Brasil quase 52 milhões de empreendedores.

Mas quase metade das micro e pequenas empresas brasileiras morre antes de completar dois anos, segundo o estudo Sobrevivência das Empresas no Brasil, divulgado também pelo Sebrae no final de 2016.

“Para fazer uma empresa vingar, a pessoa precisa se preparar, fazer cursos práticos, montar um plano de negócios e ter uma boa reserva financeira”, explica Fabio.

Nascido em Brasília há 43 anos, Fabio é formado em administração pela Universidade de Brasília, tem pós-graduação em marketing pela ESPM e mestrado em ciências empresariais pela Universidade de Lisboa.

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Foi executivo da Claro, Microsoft e Nokia e hoje está à frente da U5 Marketing, uma empresa que atua no Brasil e em Portugal e tem entre seus clientes companhias como Claro, Net, Embratel, TIM, Lenovo, Sephora, Accor Hoteis e Herbalife.

Fundada há oito anos, a U5 disponibiliza serviços de design para grandes empresas por meio de um contrato mensal. Com sede no bairro do Morumbi, em São Paulo, e uma filial em Lisboa desde o ano passado, a empresa conta com 66 funcionários. 

Na entrevista a seguir, Fabio revela os principais mitos do empreendedorismo, dá dicas para quem quer criar um negócio e revela como saber se alguém tem vocação para empreender.

O que leva as pessoas a empreender, no Brasil? 

Aqui, a maioria empreende por necessidade, e não por oportunidade ou vocação. Muitas vezes, o que motiva é a perda repentina ou o medo de perder o emprego, o surgimento de uma possível grande ideia ou mesmo cursos motivacionais de empreendedorismo, que geram muita empolgação.

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Outros pedem demissão e investem em franquias completamente fora da sua área de atuação, só porque determinado segmento está em alta. A chance desse tipo de investimento dar errado é muito grande.

É preciso conhecer o negócio, o assunto, o mercado, os produtos, os clientes daquele ramo em que você vai atuar. Não dá para começar do zero, tem que ser algo que faça parte do seu universo, das coisas que você entende e domina.

Quais os maiores erros que as pessoas cometem ao empreender? 

O primeiro é não entender ou não dar importância ao fluxo de caixa. É básico saber quanto entra e quanto sai do negócio, dia a dia, mês a mês e anualmente para não entrar no vermelho.

O segundo erro é abrir uma empresa com muitos sócios logo de cara, porque, quanto mais sócios, mais o negócio tem que dar lucro. Os sócios dividem o lucro, por isso eles têm que ter uma razão de existir, tem que ter um valor complementar, não podem ser pessoas da mesma área, senão não faz sentido.

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Outro erro é querer começar grande, alugando salas ou escritórios caros. Tem que começar aos poucos, um passo de cada vez, de forma sustentável. 

Quais os principais mitos do empreendedorismo?

O maior é que é fácil. Outro é que qualquer um pode ser empresário. Tem que ter vocação. Ter um negócio não é para todo mundo, porque a sua vida muda completamente.

Outro mito é que você vai ficar rico. A maioria dos negócios quebra, e quem não quebra não fica rico. Empreender é uma profissão como outra qualquer, leva tempo, tem que se preparar, estudar, passar por várias etapas.

E toda carreira ou atividade terá uma parte burocrática, chata e operacional que vai tomar 80% ou 90% da sua rotina. O dono do negócio gasta muito tempo com reuniões, contador, advogado, legislação, e-mails, notas fiscais, burocracia, viagens, documentação… uma porção de coisas que, muitas vezes, não têm nada a ver com a expertise do empresário.

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Quando você trabalha numa grande empresa, por mais alto que seja seu cargo, você é apenas uma parte de uma corporação muito maior, e geralmente não enxerga o todo.

Quando vira empresário, você tem que pensar em absolutamente tudo, desde comprar material de escritório até fazer café, limpar banheiro e lidar com pequenos problemas do dia a dia.

Como uma pessoa sabe se tem vocação para ter um negócio próprio? 

Basicamente, é um perfil de gastar pouco, ter consciência de controle financeiro e não dar o passo maior que a perna. Ousadia é importante, mas não pode ser muito arrojado – isso só funciona no cinema. O perfil ideal está mais para o conservador, o ousado demais geralmente quebra.

Empreender é entrar em um mar revolto, então tem que ter prudência e responsabilidade. A razão para empreender tem que ser vocacional e você tem que identificar oportunidades dentro da sua zona de conforto.

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Se a motivação para empreender for ficar rico, não empreenda. Se for para ter mais tempo, não empreenda. Se for o seu “plano B”, não empreenda. Se for para não ter mais chefe, não empreenda. 

Em quais casos é melhor desistir? 

O fluxo de caixa dá uma boa indicação disso. Projete quanto você vai gastar e quanto vai receber, e considere que os gastos sempre serão maiores que o previsto e que os recebimentos sempre serão menores, por causa de atrasos e inadimplência.

E surgem custos imprevisíveis, como equipamentos que quebram, contas adicionais, multas. Por isso, é importante calcular quanto você quer tirar de pró-labore do seu negócio. Se você quer embolsar 5 mil reais por mês, vai ter que faturar mais que o dobro disso. Caso contrário, é melhor repensar. 

O que você diria para quem está pensando em empreender?

Prepare-se muito. Invista na sua formação, faça cursos de fluxo de caixa, gestão de pessoas, vendas, marketing, administração, entenda as leis que regem o seu segmento, conheça os tributos e a burocracia envolvida. Faça algo que você já domina, venda algo que você conhece para um público que você conhece.

Tenha em mente que você precisará ter dinheiro para criar a empresa, manter a empresa funcionando e se manter durante todo o tempo em que a empresa não der lucro, o que pode demorar meses ou anos.

Por isso, comece aos poucos, teste o seu produto ou serviço para ver se há mercado, venda para os seus amigos, peça a opinião de pessoas próximas e, se tiver dúvida, não arrisque. Empreender é um passo muito importante e às vezes envolve todas as economias de uma vida inteira de trabalho, por isso é preciso todo esse cuidado.

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