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O mercado dos brechós de luxo

Crise econômica e apelo sustentável impulsionam lojas online que vendem roupas e acessórios de grife.

Por Roberta Scrivano
2 dez 2020, 16h00

A recessão econômica vivida pelo Brasil afetou o perfil de compra das famílias, inclusive para os consumidores de alta renda. O mercado de luxo tradicional encolheu entre os anos de 2015 e 2017, e mostrou leve recuperação em 2018, quando movimentou 26,2 bilhões de reais, cifra 7,8% mais elevada que a de um ano antes, segundo a consultoria Euromonitor.

Paralelamente a isso, várias lojas de grifes internacionais fecharam as portas no país, enquanto um novo nicho de mercado começou a se instalar no que se tornou um filão: os brechós de luxo. Pelo menos uma dezena deles está fazendo sucesso com um modelo de e-commerce, e mira quem quer gastar menos e consumir de maneira consciente, reaproveitando roupas.

Fundado em 2011 para ser um site em que as irmãs Gabriela e Daniela Carvalho venderiam os itens de luxo de seus próprios closets, o Peguei Bode, um brechó de luxo on-line, cresceu 40% em volume de vendas no primeiro semestre deste ano.

“Começamos com uma loja on-line caseira, anunciando no Facebook. No dia seguinte ao primeiro anúncio, já começamos a transacionar. Muitas amigas nos procuraram para saber se poderiam vender suas peças em nosso site”, diz Gabriela, que prefere não abrir os números de vendas on-line por considerar a informação estratégica.

No Brechó Agora É Meu, aberto mais recentemente, em 2017, Siomara Leite, sócia e fundadora do negócio, contabilizou uma elevação de 150% no volume de vendas entre 2017 e o ano passado, saindo de 132,9 mil para 327 mil reais. “Abri o Brechó quando percebi que meu escritório de decoração não estava indo muito bem. Foi uma oportunidade que constei quando, até um pouco desanimada, fiz um bazar neste nosso espaço”, afirma Siomara.

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“Deu tão certo que comecei a repetir os bazares. Até que decidi apostar todas as fichas nisso. Fechei as portas por vinte dias, repaginei os cômodos e dei vida às peças deixadas no canto dos armários.”

As empresárias não atribuem o crescimento das vendas apenas à crise enfrentada pelos brasileiros nos últimos anos. Para todas elas, há uma tendência forte de consumo mais consciente, que estimula a venda de produtos de alta qualidade a preços mais acessíveis.

Gabriela conta que, quando ela e sua irmã começaram o negócio, havia muito preconceito em usar peças já utilizadas. Além disso, diz ela, a palavra brechó era carregada de preconceitos, como local de coisas velhas e com mal cheiro.

Movimento no exterior

Em meados de junho, o brechó on-line americano RealReal anunciou que fará a abertura de seu capital (IPO) em Nova York e espera captar até 285 milhões de dólares e ser avaliado em 1,6 bilhão de dólares.

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Tal qual o Brechó Agora é Meu e o Peguei Bode, o RealReal faz vendas on-line, mas vai além de roupas e acessórios – vende também joias e arte. Fundada há oito anos, a empresa já alcançou status de unicórnio no mercado privado ao levantar 334,6 milhões em investimentos em nove rodadas de capitalizações.

Segundo o RealReal, o mercado que já existe de revenda de luxo está “desatualizado, fragmentado e cheio de produtos falsificados”. Não à toa, garantir a autenticidade dos itens vendidos é uma preocupação para Siomara, do Brechó Agora É Meu, e Daniela e Gabriela, do Peguei Bode. No caso do Brechó Agora É Meu, peças de valor muito elevado, como ocorre sobretudo com bolsas, precisam ter cartão de autenticidade, o local da compra e o código de autenticidade dentro da peça. “Após a compra, nós temos um sistema de identificação de cada peça”, afirma Siomara.

No Peguei Bode, há uma equipe especializada em fazer a autenticação. “Fazemos uma análise de cada peça e, em seguida, a submetemos a uma máquina de verificação de autenticidade, que adquirimos nos EUA”, diz Gabriela.

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