“Não deixe nada ao acaso”: 5 lições empresariais de Abilio Diniz

O empresário (1936-2024) deixou três livros a respeito de sua jornada – refletindo inclusive sobre aquele que teria sido o maior erro de sua vida. Veja alguns dos conselhos.

Por Sofia Kercher
Atualizado em 20 fev 2024, 16h37 - Publicado em 20 fev 2024, 15h30
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 (Bloomberg / Colaborador/Getty Images)
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undador do Grupo Pão de Açúcar e vice-presidente do conselho administrativo do Carrefour no Brasil, Abilio Diniz deixa um legado gigantesco ao empreendedorismo brasileiro. Ele escreveu três livros sobre o assunto: “Caminhos e Escolhas: o equilíbrio para uma vida mais feliz”, escrito em 2004; “Reflexão, Equilíbrio e Paz“, de 2014; e “Novos Caminhos, Novas Escolhas“, de 2016.

Neles, Abilio forneceu maiores detalhes e reflexões sobre seu sequestro, em 1989; os acontecimentos que levaram a sua saída do Grupo Pão de Açúcar; além de sua abordagem em relação à família, exercícios físicos, alimentação e religiosidade. 

Seguem aqui alguns conselhos valiosos que ele deixou para empreendedores.

Lições de Abilio Diniz

1. Não deixe nada ao acaso, nem pontas soltas

Essa era a filosofia de vida de Valentim Diniz, pai do empresário. Segundo Abilio, não ter escutado esse conselho fez com que ele cometesse seu maior erro empresarial: a elaboração do contrato de 2005 com o francês Jean-Charles Naouri, CEO do Grupo Casino. A briga entre ambos resultou na saída do empresário do Grupo Pão de Açúcar (GPA). 

O Casino detinha 23% do GPA, fez um novo aporte e, após um acordo com Diniz, passou a controlar 50% das ações. Ficou combinado que, após sete anos, o controle isolado da empresa iria para a mão dos franceses, via transferência (simbólica) de uma única ação. Abilio permaneceria como presidente do conselho, ajudando a ditar os rumos da companhia — mas como sócio minoritário. 

Eis o pulo do gato. Preocupado com a cláusula, Abilio conversou com Naouri, e o francês garantiu que Diniz nunca deixaria o comando do Pão de Açúcar se não quisesse. Essas garantias foram confirmadas pelo contrato, redigido pouco tempo depois. 

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Esse, segundo ele, foi seu maior erro. “Errei porque cedi muito, não briguei o suficiente antes de assiná-lo, deixei muita coisa sem estar escrita, negligenciei alguns pontos importantes, não prestei a devida atenção e não coloquei todas as questões de forma clara. O fato de já conhecer os meus sócios havia seis anos não me exime de culpa.”, conta Diniz em seu último livro. 

Anos mais tarde, a insatisfação com o acordo geraria uma crise de confiança com o grupo Casino, que viu nas movimentações do empresário uma tentativa de quebrar o contrato firmado em 2005. O resultado dessa briga você sabe: Diniz deixou o comando da empresa em 2013. 

Lembrei, mais uma vez, de três frases marcantes que meu pai me dizia: “Abilio, prefiro que você atravesse no farol vermelho com cuidado do que passe no verde sem olhar para os lados”; “Não deixe nada ao acaso”; “Amarre tudo muito bem, nunca deixe pontas soltas.” Este foi o meu maior erro empresarial: a elaboração do contrato de 2005 com Jean-Charles Naouri. Eu deveria ter escutado o meu pai.

Abilio Diniz em Novos Caminhos, Novas Escolhas

2. Quem trabalha muito não tem tempo de ganhar dinheiro

A frase, que faz parte do folclore empreendedorista, também é um conselho de Valentim Diniz. Para ele, aquele que só se concentra no lado operacional — ou seja: não para, pensa e medita sobre aquilo que está acontecendo com a empresa — tem mais dificuldade de conquistar suas metas.

A frase ressalta a importância que Diniz (e seu pai) davam ao lado estratégico de qualquer operação. “Se quisermos ter resultados mais sólidos, é preciso raciocinar antes de passar para a prática”, escreve em Novos Caminhos, Novas Escolhas

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3. Todas as empresas são, essencialmente, iguais

Na época mais aguda do conflito com o Casino, em 2011, Diniz foi convidado a assumir a presidência da BRF — empresa do ramo alimentício criada a partir da fusão da Perdigão e Sadia. Em seu livro, o empresário conta que teve um momento de dúvida: como ir para outro ramo que não o varejo?

“Eu sempre estive do outro lado do balcão, sempre fui um varejista, um homem da distribuição, na ponta da cadeia e encostado no consumidor. Como é que agora eu iria passar para o lado da indústria?”

Ali, ele se lembrou de algo que sempre falava aos seus alunos enquanto professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV): todas as empresas são, essencialmente, iguais. Elas são compostas por gente e processo, processo e gente. Portanto, o que restava é entender se a proposta realmente valia a pena — e mergulhar de cabeça nos estudos. 

“Quanto mais estudávamos, mais acreditávamos que aquele era um ótimo e estimulante projeto (…). Eu não tinha mais dúvidas”, explica. Abilio, então, vendeu as ações que tinha do Pão de Açúcar, comprou papéis da BRF e assumiu a administração da empresa — apesar de resistências do Grupo Casino, que alegava um conflito de interesses. Ele assumiu o cargo em abril de 2013 (e encerraria suas relações com o GPA em junho do mesmo ano).

4. Não tenha medo da sua idade

Quando assinou o contrato para reestruturação do Pão de Açúcar em 2005, Abilio tinha 68 anos. Ao final dos sete anos previstos, 75. 

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O empresário falava regularmente sobre a importância de tirar proveito da idade: quanto mais se vive, mais se acumula conhecimento e sabedoria. Para ele, com uma mente e corpo saudável, esses certamente seriam os melhores anos da sua vida. Mentalidade essa bem resumida no título de sua Ted Talk: “Comecei a fazer 80 anos com 29.”

Além de desestigmatizar sua idade, Diniz também entra em detalhes sobre a importância do exercício físico na sua vida, como ele descreve em  Caminhos e Escolhas.

“Esses últimos anos têm me trazido grandes alegrias e prazeres. Sinto-me vivo, cheio de energia e muito satisfeito com minhas novas realizações.”

5. Na presença do amor, tudo se transforma

Em seu último livro, Novos Caminhos, Novas Escolhas, Abilio dedica um capítulo inteiro para deixar clara a seguinte lição: as chances de sucesso se multiplicam no momento em que você coloca amor naquilo que faz.

Ele entendia que, se somos movidos por uma razão nobre e mostramos nossa preocupação para que tudo dê certo, todos ficarão contagiados. “Toda a engrenagem ao nosso redor gira com mais facilidade e, consequentemente, somos recompensados. Isso ajuda, inclusive, na hora de solucionar problemas. Sobretudo quando nos vemos diante de missões quase impossíveis”, escreve.

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A importância do amor também reflete em um rankeamento de prioridades. Claro, o trabalho é importante — você deve fazer algo que lhe dê prazer ou de que possa extrair satisfação. Mas não é só a isso que o empresário se refere no livro. 

Por exemplo: na época em que estava passando pela disputa pelo Pão de Açúcar, Abilio afirma que suas prioridades sempre foram sua família e sua saúde. Refugiado naquilo em que amava, pôde lidar com o enrosco de maneira mais eficiente. Ele resume: “Com essa consciência de que temos diferentes papéis e atividades, uns mais importantes que outros, podemos isolar ou reduzir o grau de estresse diário”.

Ficam as dicas. 

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