Mercado de orgânicos é oportunidade de negócio
Quase metade dos brasileiros prioriza a compra de alimentos orgânicos, segundo pesquisa. Veja orientações e certificações para empreender nesse segmento
O brasileiro aderiu à onda da comida natural e orgânica. O país já é o 4º colocado em consumo de alimentos saudáveis no ranking global e movimenta 35 bilhões de dólares por ano, de acordo com a empresa de pesquisa de mercado Euromonitor.
A tendência foi confirmada por outro levantamento, realizado pela consultoria Kantar. Segundo o relatório “Who Cares, Who Does”, ao fazer compras, 68,8% das pessoas declaram priorizar alimentos naturais, e 45,5% preferem adquirir produtos orgânicos. “Há oportunidades para os empreendedores em toda a cadeia produtiva, da parte agrícola à comercialização, da logística à confecção de embalagens”, afirma Luiz Rebelatto analista técnico do Núcleo de Agronegócios da Unidade de Competitividade do Sebrae Nacional.
A entidade divulgou um estudo com o perfil do produtor orgânico (veja quadro abaixo). Já são mais de 15 mil propriedades certificadas e em processo de transição – 75% pertencentes a agricultores familiares.
Apesar do crescimento do segmento de orgânicos, ainda existem alguns entraves que precisam ser vencidos, de acordo com a pesquisa do Sebrae. Para o consumidor, o maior deles é o elevado preço dos produtos, o que tem relação com os demais obstáculos apontados. A solução, nesse caso, é investir em algumas características que fazem com que o preço do alimento orgânico seja parecido com o do convencional, como comprar direto do produtor, em feiras locais, em que as intermediações são menores.
“Estudos mostram que, nesses casos, os preços são iguais. Se você se aproxima do fornecedor pode conseguir custos muito interessantes” diz Rebelatto. A seguir, o especialista dá outras dicas para quem deseja empreender nesse mercado:
1 – Quanto mais inovador o negócio e mais o empreendedor consegue preencher uma lacuna do processo produtivo ou daquele segmento especifico, maior a tendência de ter retornos financeiros significativos em espaços de tempo cada vez mais curtos.
2 – É fundamental ter um plano de negócios bem definido, estudar o segmento em que se deseja atuar, conhecer competidores, ambiente de negócios, mercado, tendências e desejos dos consumidores, buscar fornecedores, fazer curadoria de produtos de qualidade e estabelecer relacionamento com clientes de maneira diferenciada, para fidelizá-lo.
3 – O empreendedor precisa estar atento às características desse mercado e procurar atuar de acordo com as suas peculiaridades, como o perfil dos compradores de orgânicos. Trata-se de um consumidor mais engajado, preocupado com sustentabilidade e mais interessado em conhecer as particularidades da produção orgânica e sustentável.
4 – Para o produtor de hortaliças, a tendência é a de trabalhar com maior diversidade, tanto pelo melhor aproveitamento da área de cultivo (um dos requisitos dos orgânicos é diversificação, não a monocultura) quanto para melhorar o uso do solo, todos os meses do ano, com diversas espécies. Um ambiente mais diversificado facilita o controle de doenças e insetos. Além disso, possibilita ao consumidor maior poder de escolha e retornos diferenciados. Sempre levando em conta o plano de negócio.
5 – A tendência de alta no consumo de produtos orgânicos, o crescimento do setor e a oportunidade de ganhar dinheiro não devem ser sinônimos de amadorismo. Não empreenda visando somente ganhar dinheiro. Mais cedo ou mais tarde, esse segmento pode não apresentar mais essa tendência de crescimento. Se estiver envolvido com a filosofia da proposta dos orgânicos, outros elementos vão fazer o seu negócio se diferenciar.
Independentemente de qual seja o segmento escolhido, é fundamental planejar, se capacitar, formar uma boa lista de fornecedores e cuidar da fidelização dos consumidores. Tudo o que vale para negócios de outras áreas pode e deve ser usado para empreender no mercado de orgânicos, em qualquer elo da cadeia produtiva.
Raio-x do mercado de orgânicos no Brasil
Principais produtos produzidos
72%- Frutas (destaque para banana e uva)
64%- Hortaliças (destaque para a alface)
49%- Raízes
37%- Grãos
48%- Tubérculos
Principais canais de venda
72%- Consumidor final
55%- Feira de orgânicos
43%- Mercados de pequeno porte
Fonte: Sebrae
As certificações
Desde 2003, o Brasil possui uma lei que regulamenta a produção orgânica, definindo normas e controle de qualidade
- Certificação por auditoria: é a mais conhecida. A empresa especializada em certificação desenvolve um serviço, que é pago pelo produtor, pela indústria, pela pessoa jurídica ou física que está produzindo o orgânico. O custo tende a ser muito alto, principalmente para o pequeno produtor.
- Sistema participativo de garantia (popularmente chamado de certificação participativa): desenvolvido na forma de rede, geralmente envolve produtores, técnicos, organizações, consumidores, pequenas agroindústrias e feiras orgânicas.
Esse sistema gera uma credibilidade compartilhada por meio de visitas, intercâmbios e atuações entre pares, agora presente em 70 países. O mecanismo foi desenvolvido, dentre outros motivos, para diminuir o custo de certificação a pequenos produtores.