Este empreendedor se reinventou no mercado das maquininhas de cartão
Em 2011, ele fundou a Equals, empresa que faz gerenciamento inteligente de recebíveis de todas as bandeiras de cartão numa única plataforma.
Fabrício Costa, de 41 anos, brinca que é programador desde os 10 anos de idade, época em que começou a fuçar as letrinhas verdes que apareciam na tela dos computadores antigos. Natural de Franca, no interior de São Paulo, seu primeiro contato com a internet aconteceu quando a conexão ainda era discada, e ele e amigos elucubravam sobre como resolver a lentidão.
Graduado em sistemas da informação, iniciou a jornada empreendedora em 2005, logo depois que a instituição financeira na qual trabalhava em São Paulo faliu. Junto com dois amigos, um deles ex-colega no banco, abriu uma fábrica de softwares. “Até que chegou a crise de 2008 e, dois anos depois, nós quebramos”, afirma. Mesmo com o tombo, Fabrício não desistiu. Em 2011, ele e o atual sócio, Marcelo Garcia, fundaram a Equals, empresa que faz gerenciamento inteligente de recebíveis de todas as bandeiras de cartão numa única plataforma.
Quando iniciou o negócio, o momento era favorável. Naquele ano, o fim do duopólio da Visanet (atual Cielo) e da Redecard (atual Rede) levou a uma proliferação de novas bandeiras, criando entre varejistas a necessidade de um serviço que organizasse os pagamentos eletrônicos. “Tínhamos conhecimento bancário e de programação e enxergamos ali uma oportunidade certeira”, diz Fabrício, CEO da Equals. Hoje, a cada quatro transações em grandes lojistas, uma é conciliada pela empresa, que atende 40.000 pontos de venda no país.
Em 2018, a startup foi comprada pelo grupo Stone.Co, fintech brasileira avaliada em mais de 10 bilhões de dólares e listada na Nasdaq, a bolsa de valores de Nova York. A aquisição permitiu ampliar o horizonte e lançar um novo braço de negócio, o Raio-X, que oferece gestão de pagamentos eletrônicos a pequenas empresas.
Raio X do fundador
Qual “dor” você resolve?
São três principais: fazemos a gestão dos meios de pagamento, ou seja, juntamos as informações de todos os meios de pagamento de uma loja em uma única plataforma; realizamos auditoria das taxas para evitar cobranças indevidas, fora dos termos de uso das maquininhas; e promovemos governança nos balanços, com automatização e rastreabilidade das transações. É uma maneira de garantir a liberdade do empreendimento no momento de escolher seus meios de pagamento, já que a plataforma atende todas as opções de bandeiras de cartões de crédito que o mercado possui atualmente.
Como você teve a ideia do negócio?
Quando meu primeiro empreendimento quebrou, eu considerei abrir um segundo negócio dentro do meu escopo de conhecimento, que é programação e sistema bancário. Ao perceber uma nova demanda, que surgia com a quebra do duopólio nas maquininhas de cartões, nós resolvemos atuar no segmento.
De que maneira estruturou a empresa?
No início, a operação tinha seis pessoas [hoje a Equals tem 160 funcionários]. Éramos eu, Marcelo e mais quatro contratados. Por quatro anos funcionamos com investimentos próprios. A grande jogada para fazer a Equals se fortalecer foi manter os pés no chão, ser menos power point e mais vida real. Digo isso no sentido de conhecer muitos empresários que gostam de fazer palestras, promover reuniões enormes, mas nunca estão no escritório vendo e fazendo o negócio acontecer no dia a dia. A construção da Equals foi com trabalho duro e busca de conhecimento em nossa área de atuação.
Qual foi o melhor erro que você já cometeu?
Foi ter quebrado meu primeiro negócio. Ali eu aprendi a maior lição de empreendedorismo: a diferença entre lucro e riqueza. Meu primeiro empreendimento gerava lucro, o negócio se bancava, mas não gerou riqueza o suficiente para sobreviver a uma crise. O lucro está ligado a quanto de capital o negócio gera, já a riqueza, em minha visão, é quanto o serviço agrega — é o cliente não cancelar o contrato em uma crise porque realmente precisa de você. Por isso, ao criar a Equals, a regra número 1 era ser uma empresa rica, com diferencial de mercado, e não somente uma companhia lucrativa.
Que empreendedor te inspira e por quê?
Vou destacar o Bill Gates, mas por um motivo bastante específico. Quem conhece a história da Microsoft sabe que até hoje os sócios que ajudaram a criar a empresa seguem com ele, sendo parceiros e amigos. Isso é algo que admiro muito. Mesmo sem conhecê-lo, esse fato mostra que é alguém que inspira lealdade e confiança.
O pior e o melhor conselho sobre empreendedorismo que já recebeu?
O pior conselho acredito que quase todo empreendedor já ouviu: “desista, porque não vai dar certo”. Eu nunca dei ouvidos para isso e aconselho você a fazer o mesmo, principalmente se acreditar que sua ideia é necessária. O melhor conselho que já recebi foi ter humildade intelectual. Sempre escutar as pessoas que são mais experientes na jornada empreendedora e nunca deixar de estudar e buscar novos aprendizados.