Continua após publicidade

Estas empresas vêm apostando no potencial das bikes

Conheça cinco negócios inovadores que vêm apostando nas bicicletas para gerar negócios sustentáveis e lucrativos

Por Michele Loureiro
Atualizado em 23 dez 2019, 12h33 - Publicado em 2 mar 2018, 17h00

As bicicletas têm se popularizado como alternativa de mobilidade nos grandes centros do Brasil, seguindo uma tendência mundial. Conforme estudo do Ibope e da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), em São Paulo, capital mais populosa do país, houve um aumento de 66% no número de pessoas usando esse meio de transporte em 2016.

No ano passado, foram fabricadas 667 363 bicicletas produzidas no Polo Industrial de Manaus (PIM), e a previsão da Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo) é que esse mercado cresça 9% em 2018. Na OLX, site de compra e venda online, foram 7 milhões de buscas pelo equipamento e por itens relacionados em 2017. Enquanto o setor celebra o bom momento, empreendedores atentos aproveitam para criar negócios inovadores.

Para Carlos Cenai, economista e especialista em empreendedorismo, de São Paulo, apesar de o segmento estar em consolidação e ter pontos de atenção, como problemas de infraestrutura nas vias e legislação frágil, o mercado tem um grande potencial. “Há muitas possibilidades inexploradas, um bom sinal para quem busca ganhar dinheiro.” Conheça, a seguir, cinco iniciativas que estão dando o que falar no segmento das duas rodas.

ELÉTRICAS E ARTESANAIS

Continua após a publicidade
(Germano Lüders/VOCÊ S/A)

Quando começou a cursar engenharia mecânica, Victor Hugo Cruz, de 28 anos, não imaginava que seria dono de uma fábrica de bicicletas elétricas. Amante do veículo, Victor sempre o usou como meio de transporte. Em 2012, para facilitar o deslocamento até a universidade, começou a pesquisar modelos elétricos.

Encontrou preços exorbitantes e escassez de opções. Para ter uma ideia, o modelo elétrico mais barato costuma ser vendido por 3 000 reais. Resolveu, então, produzir a própria bike. “Foram quatro protótipos até o resultado ficar dentro do esperado”, diz. Decidido a arriscar, em 2014 divulgou seu projeto na plataforma de financiamento coletivo Catarse.

Foram 80 pedidos: cada pessoa investiu 4 000 reais e esperou um ano pela bicicleta. “Passei a me dedicar integralmente a isso.” Foi assim que nasceu, numa pequena oficina no bairro de Pinheiros, em São Paulo, a Vela Bikes. No ano passado, a empresa captou 1,1 milhão de reais com dois grupos de investidores, abriu uma loja na capital e montou a própria fábrica com uma linha de produção artesanal que emprega 18 pessoas. “Fazemos tudo, até a bateria, com componentes importados da Panasonic no Japão”, afirma o engenheiro. Há fila de espera para o produto até março. “Recebemos, em média, 60 pedidos por mês e estamos ajustando a estrutura para ampliar a produção.”

Continua após a publicidade

FOCO NAS CIDADES INTELIGENTES

(Alexandre Marchetti/VOCÊ S/A)

Em 2011, a prefeitura de Toledo (PR) buscava um parceiro para ajudá-la a replicar o modelo de compartilhamento de bicicletas que estava pipocando ao redor do mundo. “Na época, nenhuma empresa grande se interessou devido ao porte do lugar [com cerca de 120 000 habitantes]. Nós, no entanto, enxergamos uma oportunidade”, diz Mauricio Sena, administrador de empresas e CEO da Mobhis, startup de Cascavel (PR).

Ao desenvolver o sistema para Toledo, a Mobhis criou um nicho: o de compartilhamento de bicicletas em municípios de até 500 000 habitantes. A receita do negócio vem de publicidade: empresas interessadas em estampar sua marca nas bicicletas pagam por isso. Em 2016, a Mobhis implementou seu sistema em Passo Fundo (RS), com 100 bicicletas e dez estações. Segundo Mauricio, o negócio acaba de atingir o break even, o equilíbrio entre receitas e despesas. O próximo passo será lançar um aplicativo que ajuda motoristas a encontrar vaga para deixar o carro e terminar o trajeto usando bicicletas compartilhadas.

Continua após a publicidade

Por meio de sensores em vias públicas, o sistema mapeia onde há vagas e bicicletas disponíveis. “A ideia é integrar os modais de forma eficiente”, diz. O app recebeu aporte de 400 000 reais do governo paranaense e chegará ao mercado neste ano. Incubada no Parque Tecnológico Itaipu, em Foz do Iguaçu (PR), a Mobhis tem sete empregados, todos eles dedicados a pesquisas em inteligência artificial. “Apostamos no conceito de cidades inteligentes e no compartilhamento agregado à tecnologia”, diz Mauricio.

DE TÁXI, OU MELHOR, DE BIKE 

(Germano Lüders/VOCÊ S/A)

O economista Danilo Lamy, de 31 anos, trabalhava num banco de investimento  em Nova York quando viu a ascensão do Uber. Impressionado com o sucesso da empresa de compartilhamento de veículos, passou a refletir sobre o modelo de negócios.

Continua após a publicidade

De volta ao Brasil, Danilo decidiu fazer algo parecido, só que com bicicletas — uma solução que julgava mais interessante para o problema crônico de congestionamento nas metrópoles. “Não conseguia mais achar normal gastar horas dentro de um carro no trânsito”, afirma. Em maio do ano passado, deixou oficialmente o emprego e usou as reservas financeiras para criar a Bikxi, nome que mistura as palavras “bike” e “táxi” e traduz a ideia do negócio. Enquanto fazia pesquisa de mercado, não faltaram “senões”. “As pessoas diziam que não queriam chegar suadas ao trabalho ou que não se sentiam seguras para pedalar pelas ruas da cidade.”

O primeiro passo foi investir numa frota de dez bikes elétricas (feitas sob medida com dois bancos e quatro pedais); o segundo, contratar 20 profissionais capacitados para conduzi-las por 20 quilômetros de ciclovias em São Paulo. Desde que iniciou as atividades, há cinco meses, já foram mais de 7 000 corridas. Para usar o serviço, os clientes baixam o aplicativo e são informados sobre o ponto de embarque mais próximo. As corridas são cobradas de acordo com a extensão do trajeto (cada quilômetro custa 2,15 reais) e pagas com cartão de crédito. “Há destinos que saem mais barato do que o transporte público — sem contar a experiência de ver a cidade de outro ângulo”, diz o fundador.

TURISMO SOBRE DUAS RODAS

(Germano Lüders/VOCÊ S/A)

A história da Bike Tour SP nasceu da paixão por bicicletas dos irmãos André e Daniel Moral, de 43 e 37 anos, respectivamente. Os dois decidiram unir o amor pelo veículo à oportunidade de ganhar dinheiro. Com essa premissa, a startup promove passeios de bicicleta pelos principais pontos turísticos da capital paulista, como a Avenida Paulista, o Parque do Ibirapuera e o centro histórico — sem cobrar das pessoas. Mas de onde vem o lucro se não há venda de ingresso?

Empresas como Bradesco, Decathlon e Lanchonete da Cidade, interessadas em divulgar sua marca, patrocinam o empreendimento. Desde a criação do negócio, em 2013, os irmãos já atenderam mais de 20 000 pessoas. Os grupos são formados por até dez interessados, que se inscrevem via site e pedalam nos fins de semana acompanhados por dois monitores.

Os ciclistas recebem um equipamento de áudio acoplado ao capacete, que traz informações sobre os pontos visitados, em português e inglês, e faz propaganda dos anunciantes. “Temos roteiros adaptados para idosos, surdos, cegos e cadeirantes”, diz Daniel, que era executivo de um banco antes de apostar na ideia. Responsável por fechar os patrocínios anualmente, ele garante que o negócio é rentável desde o primeiro ano de vida. A empresa conta com 100 bicicletas, incluindo elétricas e adaptadas. “Em 2018, vamos ampliar a área de atuação. Estamos estudando destinos como Santos (SP), Rio de Janeiro e Porto Alegre. O fato de não cobrar pelos passeios atrai companhias interessadas em associar sua marca à questão da mobilidade”, afirma Daniel.

ENTREGAS RÁPIDAS E SUSTENTÁVEIS

Continua após a publicidade
(Germano Lüders/VOCÊ S/A)

André Biselli, de 26 anos, ouviu muitas críticas quando decidiu trocar a tradicional carreira de direito num grande escritório de advocacia para abrir, em parceria com um amigo de infância, uma empresa de entregas com bicicletas, modelo comum em países da Europa, mas ainda incipiente no Brasil. Mesmo com as ressalvas, em 2012, ele e o sócio Vitor Castello Branco fundaram a Courrieros em São Paulo. Nos primeiros dois meses, André e Vitor fizeram pessoalmente as entregas para testar as rotas. “Foi a melhor forma de compreender os pontos fracos e fortes do negócio”, diz. Toda a estrutura foi montada com recursos dos próprios empreendedores. “Isso nos deu autonomia na tomada de decisão até encontrarmos o modelo ideal para ter crescimento orgânico”, afirma André. Hoje, os sócios comandam 140 funcionários. Do total, 120 são entregadores, divididos entre São Paulo e Rio de Janeiro. A companhia faz entregas para restaurantes; e-commerces, como Netshoes e Reserva; e empresas, como Banco Pátria e Google. Cada entregador pedala até 70 quilômetros por dia. Se não há entrega, pode ir para casa descansar e não precisa cumprir uma jornada obrigatória. O faturamento, de acordo com os empreendedores, cresceu 50% no último ano. “O que era motivo de chacota virou algo rentável”, afirma André. Para seguir crescendo, a Courrieros busca novos clientes que prezem pela sustentabilidade. “Nas grandes cidades a bicicleta é muitas vezes mais rápida do que a moto. Sem contar que, a cada quilômetro percorrido, a moto emite 113 gramas de CO2 — e a bicicleta, nada. É um nicho com muito potencial.”

Publicidade