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Empreendedora aposta no mercado de presentes com álbuns de figurinha personalizados

Camila Sallaberry teve uma ideia diferente: presentear o namorado com um álbum de figurinhas cujos cromos eram fotos do casal. Daí nasceu a Fotoploc, que hoje vende 3 mil álbuns personalizados por mês – e fatura R$ 3,6 milhões.

Por Juliana Américo
Atualizado em 15 jul 2021, 15h00 - Publicado em 5 jul 2021, 14h59

O Brasil pode até ter perdido o status de país do futebol, dada a seca de títulos mundiais, prestes a completar 20 anos. Mas uma conquista ninguém tira da gente, pelo jeito: somos o país dos álbuns de figurinhas. Em época de Copa, pelo menos, não há quem possa contra os brasileiros nesse quesito.

Na última, a de 2018, o Brasil foi o país que mais consumiu o álbum oficial da Fifa, entre os 92 países onde ele foi distribuído. Ao longo do campeonato, a fábrica da Panini, em Barueri (SP), produziu 3,2 bilhões de cromos. A Alemanha ficou em segundo lugar, com metade das figurinhas (não chega a ser um 7×1, mas já dá para o gasto).

Números assim dão uma ideia de que há espaço para quem quer empreender no setor – mesmo sem concorrer com a editora italiana, que detém os direitos do álbum de demanda mais garantida do Universo.

Foi o que Camila Sallaberry, de 35 anos, descobriu. A brasiliense não estava feliz com os rumos de sua carreira. “Me formei em Economia, mas nunca exerci a profissão. Quando terminei a faculdade, já estava trabalhando como gerente de uma rede de supermercados aqui em Brasília, mas também sabia que não queria isso para a minha vida.”

Em 2012, ela criou coragem, pediu demissão e passou um semestre sabático enquanto decidia o que fazer. Nesses meses, fez um mochilão pela Ásia junto com o namorado (e agora marido) Paulo. E Camila teve uma ideia: por que não usar as fotos da viagem como base para um álbum de figurinhas personalizado? O casal já tinha o hábito de completar os álbuns de Copa. Montar um com fotos pessoais daria um belo presente de aniversário de namoro para Paulo, ela imaginou.

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E deu mesmo. Mas não foi só ele que gostou. Vários amigos acharam legal, e encomendaram álbuns com fotos deles. Em agosto de 2012, então, Camila lançou a Fotoploc, uma empresa especializada na produção de álbuns de figurinhas personalizados.
A ideia é que o cliente tenha a mesma experiência de um álbum de figurinhas desses que a gente compra nas bancas: abrir os pacotinhos e ir colando no álbum de acordo com o número – só não rolam as figurinhas repetidas, claro.

A Fotoploc tem 21 funcionários e oferece mais de 80 modelos de álbuns de figurinhas.

No primeiro ano de negócio, era tudo bem manual. Camila não encontrou gráficas que conseguissem imprimir o número atrás de cada figurinha. O jeito era fazer no braço. “Meus primeiros pedidos foram superamadores. Eu cortava a figurinha na guilhotina, ia olhando no arquivo de computador onde é que ficava cada foto e colava os números atrás de cada uma. Demorava quase uma semana para finalizar um álbum de 200 fotos”, relembra.

Pedras no caminho

Em 2013, Camila conseguiu um sócio investidor. O dinheiro foi usado para expandir a infraestrutura: alugaram um escritório e contrataram dois funcionários. Mas foi um passo maior do que a Fotoploc suportava. “Se passaram uns quatro meses e a empresa não tinha demanda suficiente para cobrir os custos. Eu estava falindo.”

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Para não perder o negócio, Camila voltou para a estaca zero: fechou o escritório e retomou a produção caseira. “Era só eu de novo.” E foi assim até 2015, quando ela se sentiu segura para tentar expandir novamente. Desta vez, foram três novos sócios, e mais planejamento. Eles investiram no marketing digital e redes sociais da marca, além de criarem uma ferramenta na qual o próprio cliente monta seu álbum no site da empresa.

Isso agilizou o trabalho, porque a equipe não precisava mais desenvolver um projeto do zero para cada álbum vendido. Foram 600 unidades produzidas em 2015, contra 90 em 2014. Deu tão certo que o faturamento anual da empresa subiu de R$ 30 mil para R$ 200 mil.

Com o negócio crescendo, Camila chegou a oferecer impressão de fotos-ímãs para eventos corporativos. Sabe quando você chega à festa da firma e tem aquelas máquinas de fotos instantâneas? Era algo parecido. Até estava dando certo, mas ela achou melhor focar nas vendas pelo site.

Hoje, a Fotoploc conta com uma equipe de 21 pessoas e oferece mais de 80 modelos de álbuns – sem contar a opção totalmente personalizada. Com mais modelos prontos, afinal, os clientes podem ficar tentados a ter mais de um.

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(Diego Bresani/VOCÊ S/A)

Há títulos bem específicos, como “Amor de Madrinha”, feito só para receber fotos da criança com a dinda. E outros mais genéricos, para fotos de viagem (decorados com mapas) e para aniversário (com bolos e velas). Os que fazem mais sucesso, de qualquer forma, são os de aniversário de namoro: 75% das vendas.

Eles também vendem álbuns com temas licenciados – ainda que sejam sempre para receber fotos pessoais. É o caso de um do Corinthians. As páginas são decoradas com símbolos e cores do time. Isso emoldura os espaços para eventuais fotos no estádio (ou em qualquer outro evento que tenha a ver com o clube). Existem ainda opções para os torcedores do Flamengo; fãs do universo de quadrinhos da DC e de séries, como Friends e Game of Thrones. Para as crianças, há modelos com desenhos da Hello Kitty e do Mundo Bita (um canal no YouTube com músicas infantis).

R$ 3,6 milhões Foi o faturamento da empresa no ano passado.

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40 mil É a quantidade de álbuns que foram vendidos em 2020.

75% das vendas são de álbuns de aniversário de namoro.

Fator pandemia

O início da pandemia foi um outro desafio, como não poderia deixar de ser. A gráfica onde os álbuns são impressos, que fica em Santa Catarina, precisou fechar por três semanas para seguir as orientações de isolamento social. A empresa, então, paralisou as operações e só voltou em maio. A tempo do Dia dos Namorados, pelo menos.

E aí que veio a surpresa: em média, são vendidos 3 mil álbuns por mês. Mas no Dia dos Namorados de 2020, o e-commerce explodiu – foram 13 mil vendas. Lidar com um salto desses na demanda era um convite para a Lei de Murphy.

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E assim foi: “Tudo deu problema. O site e as plataformas de marketing do Google e Facebook travaram. A gente também teve um empecilho no envio dos arquivos para a gráfica, e eles atrasaram a entrega de todos os 13 mil pedidos”. Camila precisou fazer lives diárias nas redes sociais para tranquilizar e tirar dúvidas dos clientes. No final, menos mau: 80% dos pedidos conseguiram chegar antes do dia 12 de junho.

Lição aprendida. Agora, ela tem uma gráfica de reserva, que presta atendimento em períodos de alta demanda. A empresa também decidiu implementar um sistema de gestão interna para ter maior controle dos pedidos, dos prazos de entrega e dos insumos necessários. Deu resultado: em 2020, a empresa comercializou mais de 40 mil álbuns e faturou R$ 3,6 milhões – 70% a mais do que o resultado de 2019.

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(Diego Bresani/VOCÊ S/A)

Neste ano, o Dia dos Namorados não foi tão grandioso. As vendas caíram pela metade, e Camila imagina o porquê. “O perfil do nosso cliente são mulheres na faixa dos 20 anos que estão no primeiro ano de namoro. E a verdade é que, com a pandemia, elas não saíram, não conheceram gente e não estão namorando [risos].”

Não se trata de um dado científico, claro. O fato é que o Dia dos Namorados de 2021 registrou mais vendas em lojas físicas – 134% a mais, de acordo com o Índice Cielo de Varejo Ampliado, de abrangência nacional – pelo simples fato de que havia mais shoppings abertos. Talvez o pessoal tenha preferido sair de casa para comprar presente. Seja como for, Camila está otimista. A meta é dobrar o faturamento e alcançar a marca de 90 mil vendas. Para financiar a empreitada, a Fotoploc está participando de programas de aceleração e uma rodada de investimento de R$ 2,5 milhões.

Mais uma vez, o dinheiro servirá para dar um upgrade na tecnologia de criação de álbuns. Hoje, o cliente monta o produto no site. Agora, Camila quer lançar um aplicativo com inteligência artificial para ajudar a pré-selecionar as fotos e com um programa de edição para melhorar as imagens. “A gente quer estar preparado para quando a pandemia acabar e as pessoas voltarem a dar o play na própria vida.”

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