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Ele fracassou em 12 projetos, não desistiu e hoje fatura R$ 71 mi

Confissões de um empreendedor: conheça a trajetória de Ricardo Mateus criador da startup de construção civil Brasil ao Cubo

Por Monique Lima
Atualizado em 14 jan 2021, 17h05 - Publicado em 14 ago 2020, 09h17

Ainda adolescente, Ricardo Mateus, de 33 anos, começou a atuar como soldador e montador na companhia de estruturas metálicas do pai, na cidade de Tubarão, em Santa Catarina. Foi seu primeiro contato com o mercado de trabalho e o suficiente para que ele escolhesse a área de construção civil para se graduar. Na faculdade, por meio de um programa de iniciação científica, conheceu o conceito de construção modular, ou off-site, em que edifícios ou parte deles são construídos por meio de módulos individuais pré-fabricados e posteriormente montados nos canteiros de obras. “Eu fiquei fascinado e quis implantar a ideia na empresa da família. Fizemos 12 projetos em um período de dois anos, e todos foram um fracasso.” Com um prejuízo enorme, o pai de Ricardo deu o ultimato: “Ou você para com essa ideia ou sai da minha empresa”. Mas a empresa do pai ficou prejudicada e faliu em 2015.

Isso não fez Ricardo desistir da sua ideia de negócio e, em 2016, a Brasil ao Cubo nasceu em uma feira de construção. Desde então a companhia tem sido um sucesso. Em 2019, por exemplo, a startup viu o faturamento saltar de 6 milhões para 71 milhões de reais. Neste ano, em parceria com multinacionais como Ambev e Gerdau, a construtech foi responsável por duas grandes obras em meio à pandemia: o Hospital Municipal M’Boi Mirim Dr. Moysés Deutsch, em São Paulo, e o Hospital Independência, em Porto Alegre. A previsão é que, em 2020, o faturamento da startup salte para 310 milhões de reais. “Os projetos dos hospitais foram inesperados e aumentaram nossa expectativa”, conta Ricardo.


RAIO-X DO FUNDADOR

Qual “dor” você resolve?

Principalmente o tempo de entrega. Uma obra convencional enfrenta uma série de contratempos que postergam o prazo de finalização. Com a construção modular, todo o grosso da obra é feito na fábrica e somente a montagem é in loco, o que permite não só o atendimento de acordo com a data prevista, mas às vezes até a antecipação dos projetos. Também existem impactos em sustentabilidade, como menor gasto de água, uso de energia solar e nenhuma perda de material. Tudo é otimizado.

Como você teve a ideia do negócio?

Durante minha graduação em Engenharia Civil eu participei de um programa de iniciação científica na Universidade do Sul de Santa Catarina. Ali, conheci o conceito de construção modular e tive certeza de que era com essa ideia que eu queria trabalhar. Porém, apenas quando me especializei em Engenharia de Produção, em 2013, que a ideia do negócio da Brasil ao Cubo de fato aconteceu. Isso porque eu consegui juntar o modelo off-site com a fabricação aprimorada dos módulos das construções.

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Como foi tirar a empresa do papel?

Em 2013, fiz um empréstimo de 20.000 reais, aluguei um galpão e, junto com minha irmã e um amigo que trabalhava com produção, comecei a desenvolver um protótipo da construção em módulos. Depois do fracasso que foram as tentativas na empresa do meu pai, eu precisava de um produto que fosse eficaz para fundamentar a empresa. Durante três anos também estudei bastante sobre empreendedorismo e o ecossistema de startups. Até que em 2016, com o plano de negócios e o modelo prontos, lancei a Brasil ao Cubo em uma feira de construção. Começamos com seis pessoas e hoje temos mais de 200 funcionários.

Qual foi o melhor erro que você já cometeu?

Com certeza foi não ter o conhecimento necessário antes de colocar o projeto em prática. Embora eu tivesse a ideia, era preciso testá-la primeiro. Não possuir experiência antes de implantar a ideia do off-site na empresa do meu pai levou ele à falência em 2015. Quando comecei a Brasil ao Cubo, foi totalmente diferente.

O que precisou mudar em seus processos?

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A principal diferença foi que passamos a criar os módulos em um parque fabril, com materiais desenvolvidos para essa técnica e uma equipe especializada. Adaptei o sistema Plug and Play para a construção civil. Desse jeito, cada parte da obra se encaixa perfeitamente e resulta nas mesmas características das construções tradicionais. Tudo isso foi pensado e testado naquele primeiro protótipo. Os imóveis saem da Brasil ao Cubo com revestimento em cerâmica, instalação elétrica e hidráulica e até mesmo mobiliados.

Qual foi o melhor conselho sobre empreendedorismo que já recebeu?

É uma fala de Ozires da Silva, fundador da Embraer, que eu sempre carrego comigo: “Um país desenvolvido passa pela educação”. Buscar aprimorar meus conhecimentos foi o que me faltou no começo para ter sucesso com minha ideia e com meus planos.

E qual foi o pior?

Não foram exatamente conselhos ruins, mas falas descrentes. Muita gente duvidou do que eu estava fazendo. Ouvi várias vezes: “Construir um imóvel em uma fábrica? Imagina!”. Essa descrença ocorria inclusive com os fornecedores. Eu precisava explicar para o vidraceiro, por exemplo, que a janela não ia trincar no transporte até o canteiro de obras e que, se trincasse, eu me responsabilizaria. Eram pessoas que não conheciam o modelo ou não tinham nenhum embasamento teórico. muitas pessoas diziam que  o negócio não iria funcionar. e estavam erradas.

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