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Conheça a Mesa Company, uma startup brasileira que se tornou multinacional

A proposta é formar times de especialistas para resolver problemas de grandes empresas em uma semana. Google, Nestlé e Coca-Cola estão entre os clientes.

Por Monique Lima
Atualizado em 22 fev 2021, 14h46 - Publicado em 8 fev 2021, 06h00
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A Mesa se reúne por cinco dias inteiros para encontrar soluções palpáveis, prontas para o mundo real, que vão ser aplicadas imediatamente. (Mesa Company/Divulgação)
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Por cinco dias, 12 pessoas selecionadas a dedo se reúnem para uma imersão. Elas ficam confinadas em uma sala, com tudo que precisam: comida, água, ferramentas de trabalho e mobílias confortáveis. Parece um Big Brother versão pocket, mas é a Mesa, um sistema de trabalho intensivo que coloca profissionais multidisciplinares juntos para encontrar soluções. Barbara Soalheiro, CEO da Mesa Company, defende que esse é “o melhor método para resolver um problema”.

O apelo dessas palavras é forte, principalmente pela dificuldade das companhias em encontrar respostas para seus impasses. Empresas quando estão com problemas têm basicamente três opções de atuação: 1) buscar outra companhia similar para reproduzir a solução; 2) admitir um profissional para resolver a questão; ou 3) contratar uma consultoria para pedir ajuda.

A primeira opção, a do benchmarking, depende de achar um case parecido com o seu. Não é simples, já que cada empresa tem o seu espírito.
A segunda opção envolve um processo de recrutamento – já que a escolha de um profissional com esse tipo de capacidade não é trivial. O mais recorrente, então, é a terceira via: a contratação de uma consultoria empresarial.

Para Barbara, porém, nem sempre uma consultoria é a melhor solução para o que a empresa precisa. “As ideias e os conselhos que elas oferecem muitas vezes são distantes da realidade porque esses profissionais não sentem na pele o dia a dia do negócio nem as dores de aplicação do que estão indicando”, diz. O conceito da Mesa, então, nasceu justamente para corrigir esse problema e propor uma quarta via para sanar dores corporativas.

Inspiração x aprendizado

Nascida em Belo Horizonte e jornalista de formação, Barbara resolveu rapidamente os problemas da vida. Teve uma carreira meteórica. Aos 23 anos era uma das editoras da revista Superinteressante. Aos 26 anos, já era diretora de redação – estava à frente da Capricho. Aos 27, em 2008, deixou a redação para fazer um curso na Itália, na Fabrica, uma requisitada escola de artes fundada por Luciano Benetton e pelo fotógrafo Oliviero Toscani, famoso pelas campanhas iconoclastas da marca de roupas de Luciano. E subiu na vida por lá também. Em pouco tempo, tornou-se editora-chefe da revista Colors, uma publicação internacional financiada pela Benetton. Rocket woman.

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Barbara Soalheiro, fundadora da Mesa, já tinha passado por cargos de diretoria antes dos 30. (Luiza Ferraz/Divulgação)

Mas esse período no topo do mundo tinha prazo de validade. O marido morava e trabalhava no Brasil. Ela sabia que, mais hora menos hora, voltaria para este lado do Atlântico. Foi o que aconteceu dois anos depois, em 2010. E decidiu abandonar o crachá. Dali em diante seria empreendedora.
Essa época era o ápice dos Ted Talks – palestras sobre assuntos diversos, em que as pessoas são selecionadas para falar sobre ideias consideradas inovadoras. Pois bem, ao ver essas apresentações, Barbara gostava da sensação de inspiração e ânimo que despertavam nas pessoas, mas sempre pensou que aquilo não servia para ensinar.

“Isso ficou na minha mente. Falar sobre um assunto, dar conselhos… Isso inspira pessoas, desperta vontade de fazer coisas, mas ensinar de verdade é colocar a mão na massa. É mostrar na prática como é que faz”, conta. Esse foi o primeiro insight para aquilo que se tornaria o método Mesa.
Começou como um projeto de educação, em 2011. Barbara convidava profissionais renomados para ensinar suas técnicas a pequenos grupos de alunos. Tudo de um jeito bem informal, com todos sentados em volta de uma mesa. Não existe forma melhor de interação, certo?
Mas ela ainda não estava satisfeita. Faltava alguma coisa para que o seu projeto de “ted talk na prática” deslanchasse. Ela precisava oferecer algo que fosse realmente único.

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Então veio o insight: transformar as mesas em laboratórios de design thinking para empresas. Isso significa juntar gente de diferentes backgrounds para atacar um problema específico. E da forma mais prática possível: o grupo deve bolar respostas palpáveis, e sair de lá, após cinco dias de reuniões de dia inteiro, com um protótipo da solução, pronto para ser aplicado no mundo real.

Cada mesa, agora, seria formada por um líder das reuniões (no princípio, a própria Barbara), especialistas no assunto a ser trabalhado e os tomadores de decisão da empresa que contratasse o serviço (pessoas que realmente decidem o que é aplicado e o que não é: pode ser o CEO, o executivo de inovação, o RH. O importante é ter a autoridade para decidir em nome da companhia). “Resolvemos problemas complexos, e por complexos entende-se que é uma missão que precisa de profissionais multifacetados, que podem agregar com suas experiências. A chave para a solução de problemas complexos é ter 100% de conhecimento e 100% das habilidades no mesmo time”, explica Barbara.

Cada dia foca em uma etapa do processo: exposição do problema na segunda-feira, discussões guiadas pelo líder da mesa na terça e na quarta, criação de um protótipo na quinta. Na sexta, finalização do projeto. E cerveja. Cinco dias é o tempo máximo.

A primeira cliente foi a Natura, em 2013. O desafio da empresa de cosméticos era criar um e-commerce funcional, que não tirasse a autonomia nem diminuísse o desempenho das revendedoras tradicionais, que atuam no porta-em-porta. A solução foi colocar essas revendedoras no online. O e-commerce Rede Natura passou a permitir a criação de lojas virtuais pelas consultoras da marca, de modo que, quando as clientes compravam pela internet, o sistema de comissão funcionava da mesma forma para a revendedora dona da loja correspondente. Bingo.

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Com o sucesso da experiência com a Natura, a fama da Mesa se espalhou pelo mundo corporativo. E foram chegando mais clientes: Coca-Cola, Google, Fiat, Nestlé, Sebrae, Serasa, SmartFit.

Até programa de TV o método Mesa já desenvolveu: o Desengaveta, da GNT. A missão era criar um conteúdo para o horário nobre capaz de reter a audiência em meio à concorrência pesada que rola entra as 21h e as 22h. A solução foi criar um combo TV e internet. O Desengaveta convidaria famosas a abrir seus guarda-roupas e selecionar peças para serem vendidas na plataforma de usados Enjoei. Ao final do programa, as peças seriam liberadas para compra e, se os fãs não quisessem correr o risco de perder a chance de ter a roupa do ídolo, eles precisariam acompanhar o programa inteiro.

O segredo, segundo Barbara, está na escolha dos especialistas. “Levamos para a Mesa gente que não teria atuado junta de outra forma. No encontro da GNT, estava a Ana Luiza McLaren, CEO da Enjoei. No do Serasa, o Matheus Morais, presidente da 99. É interessante para o cliente ter uma pessoa de outro lugar trabalhando em um projeto dele, e também para o profissional, que está colaborando em um segmento diferente.”

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(Arte/VOCÊ S/A)

A reputação do serviço rompeu fronteiras. A Mesa, então, montou uma sede nos EUA. E foi lá que eles atenderam um cliente mais do que especial: Kobe Bryant, a lenda da NBA. Kobe contratou os serviços da Mesa para criar uma instituição sem fins lucrativos, mas eficiente, na qual pelo menos 70% do dinheiro arrecadado fosse revertido para ações concretas.

Isso era um desafio porque, na maior parte dos casos, 60% do dinheiro dessas instituições vai embora no pagamento de funcionários, fornecedores e contas. Após cinco dias de mesa, o esquema operacional para a ONG de Kobe estava criado. Mas, infelizmente, não houve tempo de colocá-lo em prática. Bryant faleceu em janeiro de 2020.

Barbara comandava uma mesa nos EUA quando a pandemia estourou. “Estávamos em 20 pessoas, em imersão por cinco dias, bastante desatentos ao que acontecia no mundo. Quando voltei, comecei a me sentir mal e soube que outras 12 pessoas da mesa também apresentavam sintomas. Foi uma situação horrível.”

Modo online

Depois desse episódio, com quarentena ou sem quarentena, a CEO decidiu que os encontros presenciais estavam cancelados por tempo indeterminado, mesmo sabendo que a decisão poderia custar caro: todo método empregado desde 2013 envolvia a imersão das pessoas reunidas presencialmente, em volta da figura da mesa. E agora, como seria? “Pensei que era o fim do negócio.”

Não foi. Antes da pandemia eram feitas, em média, 45 mesas por ano, e o número se manteve em 2020. Os clientes passaram a contratar versões online, e a adaptação global ao Zoom até ampliou o leque de especialistas disponíveis: já aconteceram mesas com pessoas em quatro países diferentes. “Foi um recomeço, na verdade. Uma comprovação de que o importante é o método. E ele funciona em qualquer ambiente.” Até o happy hour permanece – de forma remota, claro.

Outro fruto ampliado no pós-pandemia foi o Mesa School, um curso online. A ideia já vinha de antes. Pequenas e médias empresas tinham dificuldade para marcar mesas dedicadas a elas. Era difícil conciliar com projetos maiores, de grandes corporações. Então Barbara decidiu abrir o sistema de trabalho e criar o curso, que desenvolve líderes para as reuniões de prototipagem. Mais de 500 já estão formados, e espalham pelo mundo a ideia que Barbara teve para gerar boas ideias.

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