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Após diagnóstico de câncer em metástase, empreendedora cria marca de roupas voltada a pacientes oncológicos

Samantha Leal desenvolveu peças que têm zíperes estratégicos e tecidos pensados para facilitar a experiência da quimioterapia. Conheça sua história.

Por Sofia Kercher
14 out 2024, 08h00
Samantha Leal, fundadora da Santa Agatha Oncoclothes.
Samantha Leal, fundadora da Santa Agatha Oncoclothes. (Divulgação/Moniky Alves/VOCÊ S/A)
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une Goodfield é historiadora, cientista e escritora britânica, e está hoje com seus gloriosos 97 anos. Em 1975, ela escreveu um livro de nome Cancer Under Siege (Câncer Sob Cerco, sem tradução para o português), que tentava responder a, sumariamente, três perguntas: onde estávamos nas pesquisas contra o câncer, quem e como são os cientistas por trás de delas, e quais eram as perspectivas reais de encontrarmos uma cura.

A humanização da doença é um traço que transpassa a pesquisa e a obra de June. Ela traz a seguinte reflexão: “O câncer começa e termina nas pessoas. Em meio às abstrações científicas, às vezes esta verdade fundamental pode ser esquecida”. 

Ninguém entende isso melhor que Samantha Leal. A jornalista e empreendedora de 47 anos convive com um diagnóstico de câncer de mama desde 2015. Esse ano, ela decidiu condensar as experiências e dificuldades que viveu na última década em um empreendimento pensado especificamente para pacientes oncológicos: a Santa Agatha Oncoclothes. 

Com zíperes estratégicos nas mangas e na gola das roupas – para que a quimioterapia e outros exames possam ser realizados sem que o paciente precise sentir a temperatura fria dos hospitais – Samantha conta à Você S/A sua trajetória com a doença e com o novo empreendimento. Nossa história começa com o diagnóstico da jornalista (e, spoiler: chega a envolver até o Papa). Vamos lá.

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Convívio constante

O diagnóstico do câncer de mama chegou para Samantha em 2015. Ela decidiu realizar a mastectomia (remoção da mama), e a indicação da médica foi um remédio, em vez de quimioterapia.

Leal acreditava que a luta com o Imperador de Todos os Males havia acabado. Eis que, em 2022, vem o balde de água fria: o câncer havia reincidido, e um de seus linfonodos, que não havia sido removido na cirurgia inicial, estava contaminado. As células cancerígenas invadiram a corrente sanguínea e se alojaram em seus pulmões. Veio a sentença que nenhum paciente oncológico quer ouvir: sua doença estava em metástase.

“Eu pensei ‘pronto. Eu vou morrer. Dessa vez eu não escapo’”, conta Samantha.

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Além do medo natural de acontecer o pior, Samantha explica que tinha receio de que a quimioterapia a forçasse a parar de trabalhar. Ela estava no auge de sua carreira – finalmente trabalhando com algo que gostava, conta – e aquilo era parte importante de sua rotina. Somado, claro, às quatro crianças que precisa sustentar.

Resultado: a médica e ela optaram por um remédio mais moderno, um substituto para a quimio, e um bloqueador hormonal (dado que o câncer era de origem hormonal). O que Samantha nos explica é que, além dos sintomas serem similares à quimioterapia – o que a levava a fazer exames similares, e ir ao hospital com grande frequência – o bloqueador a levou a uma depressão clínica.

Em busca da joie de vivre

Naquele momento de tristeza, Samantha tomou uma decisão inusitada: decidiu que precisava viajar. “Conversando com minha terapeuta, percebemos que eu precisava fazer algo que amava. E a resposta era uma viagem. Algo que estava fazendo bastante pelo trabalho e que me foi impossibilitado pela circunstância”, diz. 

Comprou duas passagens para a Itália – uma para ela, outra para sua mãe – e zarpou aos ares na tentativa de reconquistar sua joie de vivre. Não sem antes requisitar uma audiência com o Papa Francisco (e conseguir, olhem só).

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“Eu pensei ‘pronto. Eu vou morrer. Dessa vez eu não escapo’”, conta Samantha.

A viagem foi a virada de chave para Samantha. Suas experiências, seu encontro religioso, sua motivação de voltar a desenhar… todos esses movimentos foram precursores para que ela começasse a construir a Santa Agatha. 

Buraco de mercado

Fato é: quando o diagnóstico é dado, o hospital se torna o segundo lar de pacientes oncológicos. É preciso fazer exames, coletar sangue, hemodiálise, inserção de cateteres, injeção de medicações… a lista é extensa. E demanda tempo.

Durante esses longos períodos no hospital, Samantha percebeu a lacuna de seu armário para lidar com essa nova realidade. Cortesia também das baixíssimas temperaturas – tanto causadas pela doença, quanto pelo próprio ambiente hospitalar. “Eu até cheguei a comentar com a enfermeira: poxa, se tivesse um zíper aqui, resolveria tudo, né?”, conta.

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Durante esses longos períodos no hospital, Samantha percebeu a lacuna de seu armário para lidar com essa nova realidade. (Divulgação/Moniky Alves/VOCÊ S/A)

A adição de quatro zíperes: dois na região da clavícula e dois na parte interna do braço. Samantha desenhou cerca de cem pilotos com sua modelista, e os vendeu durante seu tratamento. “Tive contato com uma demanda que eu não esperava que existisse. Vendi todos os protótipos para pacientes no próprio hospital que frequentava”, conta. 

Em parceria com sua modelista, Samantha desenvolveu o moletom stilo (R$ 209,90) e a blusa jogger (R$ 215,90). Também há disponível uma versão de manga curta do produto, que tem o zíper apenas para o uso de cateteres. 

O tecido também prioriza o conforto: há peças feitas de algodão, outras de dry fit.

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Investimento promissor

A marca de roupas deu uma guinada definitiva no meio deste ano. Depois de participar de do TJCC – Congresso do Todos Juntos Contra o Câncer – Leal encontrou uma investidora que topou injetar 4 parcelas de R$ 30 mil durante 4 meses na Santa Agatha – R$ 120 mil no total. 

Samantha percebeu a lacuna de seu armário para lidar com essa nova realidade. Cortesia também das baixíssimas temperaturas – tanto causadas pela doença, quanto pelo próprio ambiente hospitalar.

A ideia da empreendedora é aumentar o volume do negócio. Para o começo do ano que vem, ela tem planos de desenvolver um marketplace para comercializar suas peças – hoje vendidas diretamente pelo Instagram, administrado pela sua irmã. Além de, claro, continuar seu processo de tratamento – com a ajuda das roupas que desenvolveu.

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Depois de participar de do TJCC – Congresso do Todos Juntos Contra o Câncer – Leal encontrou uma investidora que topou injetar 4 parcelas de R$ 30 mil durante 4 meses na Santa Agatha – R$ 120 mil no total. (Divulgação/Moniky Alves/VOCÊ S/A)

A jornalista também pretende aumentar as opções de modelo – e nos revelou que, no momento, está estudando substituir o zíper com velcro, dado que, em exames como raio-x ou tomografia, não é possível entrar com seus produtos.

“Eu entendo que cada um tem sua história. A intenção das blusas é que, independentemente da sua trajetória, você consiga se sentir bem consigo mesmo”, finaliza.

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