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Por que o dono da Patagonia decidiu doar sua empresa

Os US$ 100 milhões de lucro que ela dá agora vão 100% para o combate às mudanças climáticas. "A Terra agora é o nosso único acionista", afirmou o fundador.    

Por Camila Barros
15 set 2022, 18h34

Yvon Chouinard fundou a Patagonia, empresa de roupas para esportes ao ar livre, em 1973. Ele começou fazendo equipamentos de escalada para si mesmo e amigos – de lá, se tornou bilionário meio sem querer, e vem negando o estilo de vida ricaço ostentação desde então. 

E agora, aos 83 anos, Yvon decidiu doar 100% da empresa para ajudar a causa ambiental. “Embora estejamos fazendo o nosso melhor, isso não é suficiente. Precisávamos encontrar uma maneira de investir mais dinheiro no combate à crise [do meio ambiente], mantendo os valores da empresa intactos”, ele disse em carta aberta no site da companhia.

A Patagonia, hoje avaliada em US$ 3 bilhões, vai continuar sendo uma empresa privada com fins lucrativos – mas todos os lucros serão doados. A decisão de Yvon faz dele e de sua família os maiores doadores privados dos EUA, ultrapassando Warren Buffett e Bill e Melinda Gates. 

Em agosto, todas as ações com direito a voto – e que, portanto, decidem os rumos da empresa – foram doadas ao Patagonia Purpose Trust, fundo que será responsável por doar os lucros e manter o negócio funcionando de acordo com os princípios de responsabilidade social da empresa. Essa parcela corresponde a apenas 2% do total da empresa, e será administrada por membros da família e seus conselheiros mais próximos. Os outros 98%, ou seja, o grosso das ações que geram dividendos, vão para uma organização sem fins lucrativos chamada Holdfast Collective, que ficará responsável por receber todo o dinheiro e usá-lo em causas de combate às mudanças climáticas. 

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Note que a Patagonia não é uma empresa de capital aberto. Todas as ações pertenciam à família Chouinard. É que entrar na bolsa, vendendo papéis ao público, nunca foi uma opção para o dono da companhia.  

Na carta, ele disse que abrir o capital da companhia seria um desastre, e que “mesmo empresas públicas com boas intenções estão sob muita pressão para gerar ganhos de curto prazo, em detrimento da vitalidade e responsabilidade de longo prazo”.

Sim, se a ideia era fazer uma doação bilionária, Chouinard poderia simplesmente vender a companhia (fosse na bolsa, fosse de outra forma). O problema é que não dava para garantir o que os novos donos fariam com ela. 

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Na carta, intitulada “A Terra agora é o nosso único acionista”, o executivo afirma que a doação dos papéis foi mesmo o melhor caminho para garantir a independência da Patagonia. E gerar a certeza de que todo seu lucro – cerca de US$ 100 milhões por ano – vá para a prevenção do aquecimento global. “Verdade seja dita, não havia boas opções disponíveis. Então criamos a nossa”, ele disse.  

Em entrevista ao New York Times, Yvon disse torcer para que a medida “influencie uma nova forma de capitalismo que não resulte em algumas pessoas ricas e um monte de pessoas pobres”.

A Patagonia sempre vendeu o conceito ESG – mesmo antes de a sigla existir. Desde 1985, a empresa direcionava 1% do seu faturamento anual para o “One Percent for the Planet”, organização de causas ambientais que Yvon ajudou a fundar. Em 2012, ela ganhou o selo B Corp, para empresas cujo modelo de negócio visa o desenvolvimento social e ambiental. 

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