Por que falta chip no mundo?
A conta do desabastecimento ainda vai para a Covid, mas existem outros culpados para essa crise.
Se você está pensando em comprar um computador novo ou trocar de carro, melhor preparar o bolso – ou esperar sentado. A escassez de chips mais complexos deve continuar até 2022. Os semicondutores simples, usados em máquinas de lavar roupa e cafeteiras, podem sofrer por ainda mais tempo.
O produto ficou mais caro e a produção, mais lenta. Até montadoras de carros têm feito paradas temporárias em suas fábricas por falta do componente. A Anfavea (associação de montadoras no Brasil) não descarta novas interrupções no segundo semestre. O impacto global estimado na renda de montadoras, para 2021, é de US$ 20 bilhões.
Virou lugar comum colocar o desabastecimento na conta da Covid. A paralisação de algumas fábricas e os cancelamentos de contratos lá no começo da pandemia ajudam a explicar a crise, mas não contam a história toda.
O fato é que houve uma tempestade perfeita. Isso de tudo levar chip fez crescer a demanda pelo componente; a indústria de semicondutores – altamente concentrada – já vinha operando no limite.
Isso era só o começo. A TSMC (Taiwan Semiconductor Manufacturing Corp), líder global do segmento, precisou cortar a produção por causa de uma seca – a indústria de chips é intensiva em água. Não bastasse isso, uma grande fábrica de semicondutores no Japão voltada ao abastecimento da indústria automotiva pegou fogo no começo deste ano.
Não é nada que a mão invisível do mercado não dê jeito. Chip não é urso panda. Se eles estão em extinção, bora fazer mais, certo? Certo. O problema é que demora. O investimento para montar fábricas de semicondutores é na casa de bilhões de dólares. E pode acabar no lixo se a escolha for por uma tecnologia que ficar obsoleta cedo demais. Ou seja: é um empreendimento de risco. E empreendedores a fim de assumir tal risco são, esses sim, um recurso escasso. São como pandas…