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O caso do arroz é uma aula de economia a céu aberto

Como dizia o Mestre dos Magos, se você faz aparecer comida em um lugar, ela some de outro. Sumiu daqui. Entenda qual foi o grande erro do governo nessa história.

Por Alexandre Versignassi
Atualizado em 14 set 2020, 11h05 - Publicado em 14 set 2020, 10h57
 (O caso do arroz é uma aula de economia a céu aberto./Getty Images)
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Até outro dia, você precisava apelar ao trigo para explicar que dólar alto não atrapalhava só a ponte aérea GRU-Disney, mas também aumentava o preço do pão, já que o Brasil é importador líquido de trigo.

Agora o bicho pega pelo outro lado: o da exportação sob dólar alto. A única coisa boa de uma moeda desvalorizada é que ela ajuda nas exportações – se a cotação da sua moeda cai 30% em relação ao dólar, os produtos do seu país caem automaticamente 30% lá fora, e começam a desbravar novos mercados.

Arroz brasileiro começa a aparecer em Hanoi, Cantão, Manila, Perth. Mas, como dizia o Mestre dos Magos, se você faz aparecer comida em um lugar, ela some de outro. Sumiu daqui.

Junto com a diminuição da oferta por cortesia do cambio, veio também um boom na demanda, em parte por conta do auxílio emergencial, em parte por que, quando se troca o restaurante por quilo pela marmita, haverá mais arroz na marmita que no prato do quilo. Juntando tudo, tivemos a tempestade perfeita.

Vai passar? Vai. A área plantada de arroz, que vinha diminuindo nos últimos anos por conta das margens baixas do produto, vai aumentar.

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E mais importante. O aumento nas exportações zera a pressão por protecionismo tarifário. O Brasil cobra altas taxas de importação para proteger o produtor local. São 10% para o arroz com casca, contra 1% nos EUA.

Bom, quando o produtor local deixa de vender para o público local e passa a exportar, não há mais razão para a existência de uma tarifa protecionista – até por isso o governo zerou as taxas nesta semana.

Demorou. O único jeito de frear um aumento de preços causado por excesso de exportação de um produto é abrir as portas para a importação, o que aumenta a competitividade no mercado interno, e pressiona os preços para baixo.

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Só que as exportações não começaram a aumentar na segunda feira. Trata-se de um processo longo. E o governo ficou quieto, provavelmente influenciado pelo lobby mastodôntico do agronegócio.

O fato é que o agronegócio só precisa de proteção nos momentos em que o real está sobrevalorizado – aqueles em que um Ônix aqui sai mais caro que uma Mercedes lá fora (já foi o caso, não é mais).

Nessas horas, tarifa zero para importações pode, de fato, destruir o setor agrícola.

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Mas já faz tempo que o real atravessou a linha vermelha da subvalorização – que tantas benesses traz ao agronegócio, um setor que planta reais e colhe dólares.

O corte nas tarifas de importação, portanto, já deveria ter vindo há muito tempo – pelo menos desde o momento em que o dólar começou a chegar perto dos R$5. Isso colocaria um freio nos aumentos de preços para o mercado interno.

Mas não. Deixaram a bomba explodir antes. E o que restou foi o líder supremo da bagunça pedir aos supermercados que baixem os preços por amor à pátria – numa aula magna de má gestão econômica.

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