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Memes, vídeos e sátiras digitais: o Brics visto pelas lentes da Geração Z

A cúpula, que para muitos poderia soar distante e hermética, rapidamente se tornou tema de humor, crítica e debate entre milhões de pessoas conectadas.

Por Armando Alvares Garcia Júnior, The Conversation
12 jul 2025, 12h00
brics
 (Bluesky/Divulgação)
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A cúpula do BRICS, realizada no Rio de Janeiro, reuniu representantes de Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul e dos novos países-membros, atraindo atenção global para debates geopolíticos, desafios econômicos e a redefinição do papel do bloco no cenário internacional. Enquanto analistas, diplomatas e jornalistas discutiam acordos, declarações oficiais e jogos de poder, nas redes sociais, um outro universo fervilhava: o da criatividade digital da geração Z.

Longe da formalidade dos salões oficiais, jovens brasileiros e de outros países do BRICS transformaram o evento em matéria-prima para memes, vídeos virais, paródias e sátiras digitais. A cúpula, que para muitos poderia soar distante e hermética, rapidamente se tornou tema de humor, crítica e debate entre milhões de pessoas conectadas.

Discursos dublados no Tik Tok

A cena se repetiu em várias plataformas. No TikTok, jovens postavam vídeos dublando discursos de presidentes, simulando conversas de WhatsApp entre líderes do bloco, ou criando challenges coreografados ao som de músicas típicas de cada país. No Instagram, a tradicional “foto de família” dos chefes de Estado ganhou montagens que comparavam a reunião a festas de aniversário esvaziadas, memes de “falta o/a fulano/a”, além de filtros e efeitos que ridicularizavam, com irreverência, o tom solene da diplomacia internacional.

No X (antigo Twitter), threads satíricas detalhavam os bastidores imaginários da cúpula: desde disputas fictícias para decidir quem escolheria o restaurante do jantar oficial, até brincadeiras sobre as dificuldades de tradução simultânea entre tantos idiomas. No YouTube, influenciadores reagiam a notícias da cúpula usando humor, ironia e análises em tom descontraído.

Esses exemplos concretos mostram como a geração Z apropria-se de eventos de grande impacto e os traduz para sua linguagem cotidiana, ainda que muitas vezes com erros grotescos por falta de conhecimento e parcialidade de seus divulgadores. Temas como desdolarização, expansão do bloco e reformas institucionais, presentes no debate oficial, são reinterpretados com piadas sobre moedas alternativas, trocas de figurinhas digitais e paródias de “negociações” em grupos de amigos.

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Por trás do humor, há uma lógica de engajamento político e cívico que não deve ser subestimada. Memes viralizam, facilitam o entendimento simplificado de temas complexos e criam um sentimento de pertencimento em torno de grandes questões globais, ainda que sejam muitas vezes tendenciosos. Quando jovens riem de uma ausência importante na foto oficial, ou brincam com as promessas dos líderes, estão também expressando críticas, desconfianças e expectativas em relação ao futuro.

Mecanismos de construção de identidade

O fenômeno não é exclusivo do Brasil. Na Índia ou na África do Sul, por exemplo, perfis jovens também satirizaram a cúpula, trocando memes que exploravam estereótipos culturais, diferenças linguísticas e desafios diplomáticos. O BRICS, assim, tornou-se um “evento global” tanto na esfera política como na cultura digital transnacional.

O meme serve, ainda, como mecanismo de construção de identidade. Ao ironizar a cúpula, a juventude se posiciona como observadora crítica — não alienada, mas engajada por novas formas de participação. Isso não elimina o ceticismo, mas revela um desejo de proximidade, tradução e debate. Em vez de aceitar passivamente discursos oficiais, a geração Z os reelabora para sua vivência, questiona, desafia e, às vezes, subverte símbolos de poder.

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Além do entretenimento, muitos memes abordam temas sérios. As imagens comparando o luxo dos salões oficiais com cenas do cotidiano nas periferias do Rio de Janeiro, acompanhadas de frases como “Aqui também queremos desenvolvimento sustentável”, assumem o rol de críticas sociais. Essas manifestações mostram que, mesmo de forma lúdica, a cultura digital pode provocar reflexão e pressionar por mudanças concretas.

A ascensão desse fenômeno lança desafios e oportunidades para a diplomacia tradicional. Se, por um lado, a viralização pode banalizar debates, por outro, abre portas para novas audiências. Nunca foi tão necessário para líderes e diplomatas aprenderem a dialogar com linguagens, formatos e símbolos da cultura jovem.

Entender que memes são também arenas de disputa política e cultural é passo fundamental para qualquer instituição que queira manter relevância. O BRICS, ao ser ressignificado nas redes, mostra que o engajamento dessa geração pode ser irreverente, crítico, plural e também globalizado.

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A cúpula do BRICS no Rio não se fez apenas nos bastidores diplomáticos e nas manchetes da imprensa nacional e internacional, mas também na tela dos smartphones, nos trending topics, nos grupos de WhatsApp e nos memes. Rir, satirizar e criar são, para milhões de jovens, formas de pertencer, participar e reinventar a política internacional para o século XXI.

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