Infraestrutura e desenvolvimento sustentável: entenda o que faz e qual a importância do Banco do BRICS

As operações do Novo Banco de Desenvolvimento incluem as áreas de energia limpa e eficiência energética, infraestrutura de transporte, água e saneamento, proteção ambiental, infraestrutura social e infraestrutura digital.

Por Maria Elena Rodriguez, Marta Regina Fernandez y Garcia, Renan Canellas, The Conversation
Atualizado em 18 Maio 2025, 23h45 - Publicado em 18 Maio 2025, 08h00
O Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, participa da cerimônia de abertura do Primeiro Encontro de Sherpas da Presidência Brasileira do BRICS em Brasília, Brasil, em 26 de fevereiro de 2025.
 (Ton Molina/NurPhoto/Getty Images)
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O Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, da sigla em inglês, New Development Bank) é um banco multilateral de desenvolvimento estabelecido em 2014 pelos países BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) durante a VI Cúpula do agrupamento, realizada em Fortaleza.

O propósito do Banco é investir em projetos de infraestrutura e de desenvolvimento sustentável em países emergentes para minimizar a lacuna de financiamento que persiste nesses países nesses tipos de programas. Com sua sede na cidade chinesa de Xangai, o NDB é presidido hoje por Dilma Rousseff, indicada pelo presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva.

A presidência do Banco é exercida por 5 anos em um sistema de rodízio. O primeiro país a comandar o NDB foi a Índia (2015-2020). Dilma substituiu o diplomata Marcos Troyjo, que havia sido indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. O mandato da ex-presidenta brasileira se estenderia até julho de 2025, quando, em tese, seria substituída por uma indicação russa.

No entanto, durante a Cúpula de Kazan (Rússia), o presidente russo Vladimir Putin propôs a recondução de Dilma ao cargo: a decisão foi tomada levando-se em conta as sanções ocidentais impostas à Rússia e também pelo fato de que o Brasil presidirá a XVII Cúpula do BRICS, daqui a dos meses. Por unanimidade, Dilma Rousseff foi reeleita para seu segundo mandato, com duração de cinco anos, período que será contado a partir do dia 7 de julho de 2025, quando os chefes de Estado do BRICS estarão no Rio de Janeiro, onde ocorrerá a cúpula.

Expansão para além do bloco

Desde 2021, o Banco iniciou um processo de expansão para além dos países do BRICS. Em setembro daquele ano, Bangladesh tornou-se membro do NDB, e em outubro foi a vez dos Emirados Árabes Unidos. Em fevereiro de 2023, o Egito aderiu ao Banco.

Além destes, o Uruguai já foi aceito como um futuro membro. A nação sul-americana já foi admitida pelo Conselho de Governadores do NDB, mas só será oficialmente país-membro quando depositar o seu instrumento de adesão.

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Como é possível notar, não existe uma correspondência exata entre os integrantes do Banco e do BRICS. Os Emirados Árabes Unidos e o Egito, por exemplo, passaram a integrar o Banco antes de entrarem no agrupamento. Já Bangladesh e Uruguai não fazem parte do BRICS, nem constam na lista de Países Parceiros do grupo.

Isso acontece porque, ainda que seja uma iniciativa do BRICS, o Banco é uma instituição completamente independente, o que possibilita a adesão de outros países em desenvolvimento que não estejam circunscritos no grupo. As operações do NDB dividem-se nas seguintes áreas de atuação: energia limpa e eficiência energética; infraestrutura de transporte; água e saneamento; proteção ambiental; infraestrutura social; e infraestrutura digital.

Além disso, durante a pandemia da COVID-19, o Banco dispôs de um programa emergencial de resposta à crise econômico-sanitária. A meta desse programa era fornecer até US$ 10 bilhões em assistência relacionada à crise, incluindo apoio à recuperação financeira dos países-membros.

Desde sua criação, o Banco tem priorizado projetos de infraestrutura e de desenvolvimento sustentável que impulsionam o crescimento econômico e melhoram a vida das pessoas nos países associados à instituição. De acordo com o NDB, tudo o que é feito objetiva moldar um futuro mais sustentável“.

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Essa meta do Banco pode ser exemplificada pela estratégia institucional do NDB: a determinação é de que até 2026, 40% de todos os financiamentos serão direcionados a projetos relacionados às mudanças climáticas, incluindo operações que contribuam para a transição energética.

Para cumprir atingir seus alvos estratégicos, o NDB tem dado prioridade à expansão dos financiamentos realizados nas moedas locais de seus países-membros. Essa tática busca reduzir a exposição dos clientes às flutuações cambiais e facilitar o acesso do setor privado a recursos para financiar projetos. No entanto, até agora nenhum dos aportes ao Brasil e Rússia foram realizados em real e rublo, respectivamente.

Portfólio do NDB para seus países fundadores 2016 – 2024 (Maio/2024)

Para conhecer todos os projetos financiados pelo NDB, clique aqui

Segundo um estudo sobre a contribuição do NDB para o processo de transição energética dos países BRICS, são evidentes os esforços que o Banco tem feito para cumprir com o seu objetivo de ”moldar um futuro mais sustentável“. Os autores do estudo apontam que mais de 40% dos projetos do Banco já se encontram na área da transição energética. São principalmente programas de desscarbonização e eficiência energética ou os que envolvem ambos os objetivos, excluindo-se os relacionados com o enfrentamento da pandemia de COVID.

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Os autores argumentam que, entre os planos de transição energética, é evidente um esforço específico para a descarbonização, que abrange mais de 70% de todos esses projetos. A China e a Índia – os países do BRICS que mais consomem combustíveis fósseis – também são os líderes em aportes para a descarbonização, que representam cerca de 40% dos seus empréstimos totais.

Ao completar 10 anos de existência, no ano passado, o NDB recebeu avaliações positivas dos seus membros durante a Cúpula em Kazan. O primeiro-ministro indiano Narendra Modi afirmou que, nos últimos anos, o Banco surgiu como uma opção importante para ”responder às necessidades de desenvolvimento dos países do Sul Global“.

Xi Jinping, por sua vez, acenou para a importância de se alargar e reforçar o NDB. Somente assim, segundo o líder chinês, será possível “assegurar que o sistema financeiro internacional reflita de forma mais eficaz as mudanças no panorama econômico mundial”.

Aportes para o Brasil

É importante lembrar que em 2024 o NDB fez um aporte de US$ 1,115 bilhões (cerca de R$ 5,7 bilhões) para a apoiar a reconstrução do Rio Grande de Sul e para ajudar a reestruturar a sua economia. Naquele ano, entre os meses de abril e maio, o estado brasileiro foi atingido por fortes chuvas e enchentes.

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O montante será desembolsado em conjunto com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), o Banco do Brasil e o BRDE (Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul). A verba será concentrada em projetos de proteção ambiental; infraestrutura; água e saneamento básico; prevenção de desastres; infraestrutura agrícola, projetos de armazenagem e infraestrutura logística; desenvolvimento e mobilidade urbana e recursos hídricos.

Nesta sua primeira década de atuação, o NDB consolidou-se como uma importante alternativa de financiamento para projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável nos países do Sul Global. Com uma ação pautada pela busca de um futuro mais sustentável e pela valorização das moedas locais, o Banco vem ampliando seu impacto com a expansão de seus membros e com a diversificação de suas áreas de atividade.

Os desafios ainda permanecem. Um deles é o aumento da utilização de moedas nacionais nas operações. Mas o reconhecimento por parte dos seus países-membros demonstra o papel relevante que o NDB já ocupa no cenário financeiro internacional.

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Maria Elena Rodriguez, Diretora adjunta do Brics Policy Center e professora do Instituto de Relações Internacionais, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio); Marta Regina Fernandez y Garcia, Diretora do BRICS Policy Center e Professora Associada, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e Renan Canellas, Mestrando em Relações Internacionais, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio)

Este artigo foi republicado do The Conversation. Leia o artigo original.

 

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