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Caixa mira populismo e entrega corte “fake” nos juros da casa própria

Vantagem do corte de juros é pura espuma: vai desaparecer com a próxima alta da Selic. Para o médio prazo, a tendência é que essa linha de crédito fique mais cara que as outras.

Por Tássia Kastner
Atualizado em 18 out 2024, 09h26 - Publicado em 17 set 2021, 12h46
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 (Wilson Dias/Agência Brasil)
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A Caixa Econômica Federal anunciou nesta quinta a redução dos juros do financiamento da casa própria, isso apesar de a Selic estar em uma escalada sem data para acabar. O evento foi precedido de duas semanas de entrevistas do presidente do banco, Pedro Guimarães, em que ele prometia algo bombástico. Entregou espuma populista.

O banco público vai reduzir as taxas de juros apenas na modalidade de financiamento atrelada à poupança, lançada pelo banco em março deste ano – na concorrência, existe desde outubro do ano passado. Quem contrata crédito por essa linha, paga uma taxa de juro fixa mais o rendimento da poupança. O que a Caixa reduziu foi a parcela fixa da linha, que caiu de 3,35% para 2,95% ao ano. E vale dizer que o Bradesco já cobrava 2,99% + poupança.

A essa taxa de 2,95% soma-se o rendimento da poupança, atualmente em 3,675% ao ano. Total: 6,625% – contra 7,025% neste momento.

Parece barato, mas tem um detalhe. A nova taxa começa a valer no próximo mês, quando a Selic provavelmente já terá subido para 6,25% (o BC decide isso na próxima semana, mas deixou como pista uma alta de 1 p.p.). Quando o cliente for efetivamente contratar o crédito, começará pagando 7,32% – mais que os 7% da linha tradicional de financiamento da própria Caixa. 

Pior: se as projeções do mercado financeiro estiverem corretas e a Selic encerrar o ano em 8% ao ano, essa linha de crédito imobiliário passa a custar 8,55%. A vantagem que existia sobre o resto do mercado desaparece. No teto da remuneração da poupança (6,17% a.a., que passa a valer se a Selic chegar a 8,5%), o crédito custaria 9,12% ao ano, mais caro que qualquer linha tradicional existente no mercado.

Não é só isso. A linha atrelada à poupança é pequena do ponto de vista de mercado e o Banco Central sequer produz estatísticas específicas para a modalidade. As regras para a classificação foram criadas só em maio e os dados ainda não são públicos. A Caixa disse em sua apresentação de resultados do segundo trimestre, que a modalidade já representa 40% das novas contratações. O banco não detalha todas as contratações nas quatro modalidades que oferece.

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A linha tradicional de financiamento imobiliário do mercado é uma taxa de juros fixa mais alta com correção pela TR (a taxa referencial, um indexador definido pela vontade do governo e que está zerado há anos). Essa é a que existe “desde sempre” e reinava sozinha até agosto de 2019. Só em junho, dados mais recentes no site do BC, foram R$ 17 bilhões em crédito concedido dessa maneira. 

A outra modalidade existente é o crédito com correção pelo IPCA, que somou R$ 300 milhões em concessões em junho. Essa linha foi lançada em agosto de 2019, e atingiu seu pico de contratações há um ano. A disparada da inflação, que beira os 10% ao ano, torna a modalidade pouco atrativa. 

Ainda na planilha de informações públicas do Banco Central (você confere aqui), existe a modalidade “outros”, onde pode ser incluída a linha da poupança até que ela ganhe uma categoria própria. “Outros” somou R$ 839 milhões em crédito concedido em junho. O BC não detalha o que há dentro dessa categoria.

Juros em alta

Pedro Guimarães tentou uma jogada eleitoreira, mas mexeu também com a memória recente dos brasileiros ao anunciar o corte de juros na contramão da tendência do mercado. Em 2012, a então presidente Dilma Rousseff usou os bancos públicos para tentar reduzir o custo do crédito na marra no país.

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O resultado foi inflação (causada por excesso de crédito), e um tiro na rentabilidade dos bancos públicos (além da Caixa, o Banco do Brasil entrou naquela ciranda).

Foram anos para recompor o rombo. E o motivo é simples. Banco ganha dinheiro com juro. A Selic é o custo do dinheiro. Para ter lucro, o banco precisa cobrar mais do que essa taxa –  o suficiente para pagar todos os seus custos e ainda cobrir eventuais inadimplências. Tem mais. Quando se trata de empréstimos de longo prazo, é preciso colocar na conta o juro futuro, que embute as expectativas do mercado de quanto o dinheiro vai custar lá na frente. Desde que a crise política se agravou no país, esses juros dispararam e foram para acima de 10% ao ano.

Concorrência

O ponto é que a Caixa nadou por décadas praticamente sozinha no crédito imobiliário, mas começa a enfrentar concorrência à altura dos demais bancos do país. No segundo trimestre do ano passado, ela respondia por 69% do mercado de crédito imobiliário; ao fim de junho deste ano, a fatia havia caído para 67%.

Quando a Selic caiu, os bancos privados aproveitaram para atrair clientes para a modalidade. A linha é segura para quem empresta, dado que o imóvel fica em garantia, e ainda fideliza correntistas, que firmam contratos de até 35 anos na compra da casa própria (o pagamento total acontece, em média, num intervalo menor, de 15 a 20 anos).

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Quem puxou a fila da redução de juros, no passado, foi o Santander, quando levou a taxa da linha tradicional a 6,99% ao ano. Depois foi seguido por Itaú, Bradesco e até pelos 7% atuais da própria Caixa.

Só que a subida da Selic e a previsão de juros ainda maiores lá na frente fizeram com que os bancos tirassem o pé e reajustassem suas taxas para a nova realidade do mercado. O foco é garantir que a operação continue dando lucro.

Nisso, as taxas hoje são as seguintes

Santander: 8,99% ao ano +TR

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Itaú:  8,8% a.a. + TR

Bradesco: 8,5% + TR

Caixa: 7% ao ano + TR

No fim, o verdadeiro anúncio bombástico da Caixa é que ela não vai subir os juros da linha tradicional. Resta saber por quanto tempo ela vai conseguir segurar a taxa sem comprometer a rentabilidade do banco novamente.

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