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Algum dia o dólar vai voltar a valer R$ 1?

Talvez. Mas não seria algo necessariamente bom. Entenda os fatores que definem o valor de uma moeda.

Por Alexandre Versignassi
Atualizado em 28 jun 2021, 11h18 - Publicado em 7 jun 2021, 13h35

É possível, mas isso não seria algo necessariamente bom. Vamos começar pelo começo: o que define o valor de uma moeda? São três fatores. 1) As coisas que você pode comprar com essa moeda. Se essas coisas estiverem em alta no mercado internacional, a moeda do seu país ganha músculo. 2) O interesse dos grandes investidores em comprar títulos públicos do seu país – eles trocam os dólares deles por reais para fazer isso; a demanda pela moeda nacional cresce, e ela valoriza. 3) A quantidade de reais em circulação – quanto menos houver, mais ele tende a valer.

Quando o real nasceu, em 1994, a cotação do dólar foi a R$ 0,93. Abaixo de R$ 1. O que rolou? Uma combinação dos itens 2 e 3. O governo passou a remunerar os títulos públicos em 50% ao ano – dez vezes mais do que hoje. Isso traz mais dólares para o país e também tira reais de circulação: investidores brasileiros preferem deixar seus reais parados, rendendo, do que gastar. A moeda fica mais escassa por aí; logo, valoriza. Para forçar ainda mais essa escassez, impediram os bancos de emprestar dinheiro depositado nas contas correntes.

As duas medidas em conjunto mataram a hiperinflação – os preços não sobem num ambiente com pouca moeda. De quebra, tornaram o real uma das moedas mais valorizadas do planeta.

Mas não por muito tempo. Juros altos e cabresto nos bancos são medidas temporárias. Elas sufocam a economia (que precisa de moeda para respirar). Pior: os importados ficam tão baratos que não há mais por que consumir produtos nacionais. Sem demanda, a produção do país definha. As empresas quebram, e você perde seu emprego. Fatality. Por isso, o ideal é sempre ter juros baixos, que não ajudam a moeda a ganhar valor diante do dólar.

E só existe uma receita para manter a cotação de uma moeda em alta sob juros baixos. A do item 1: uma bela demanda internacional por aquilo que o seu país produz.

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Esse fator tem ajudado na valorização do real perante o dólar neste ano. Minério de ferro, soja, milho e carne bovina, as matérias primas que o Brasil produz a rodo, passam por altas históricas. Os exportadores recebem em dólar, e trocam por reais no mercado interno. Com mais dólares circulando por aqui, a oferta de moeda americana aumenta – e o preço dela diminui (como acontece com qualquer produto cuja oferta cresce subitamente). O petróleo, outro grande item de exportação nosso, também vem numa alta significativa: em junho de 2021 o barril já estava 10% mais caro do que no pré-pandemia.

Altas nos preços das matérias primas, porém, são eventos cíclicos. Elas vêem e vão. Não seguram, sozinhas, o valor de uma moeda no longo prazo.

A melhor maneira de garantir essa estabilidade de longo prazo é o seu país fabricar produtos de alto valor agregado (smartphones, carros, aviões, robôs industriais). É isso que, no fundo, garante o valor do dólar, do euro, do iene. E é só isso que poderá, um dia, talvez, tornar o real uma moeda realmente forte.

Cotação máxima: R$ 11,75Esta foi a maior cotação do dólar desde 1994 em valores de hoje, corrigidos pela inflação. Foi em 22/10/2002 (o valor nominal, ou seja, o da época, era de R$ 3,95).Maior cotação nominal: R$ 5,93Em 14/05/2020 - já R$ 6,33 em valores de 2021.
(Arte/VOCÊ S/A)
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