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Vale a pena investir em bitcoin?

Cada vez mais popular, bitcoin se consolida como alternativa para quem busca aplicações fora da curva. Analise se vale a pena investir

Por Thais Folego
Atualizado em 17 dez 2019, 15h16 - Publicado em 26 out 2017, 16h00

No início deste ano, Jeferson Moreira dos Anjos, de Belo Horizonte, prestou serviços de programação para uma empresa fora do Brasil. Na época, a companhia sugeriu fazer o pagamento em bitcoin. Embora o programador, de 34 anos, já tivesse ouvido falar da criptomoeda, não possuía informações aprofundadas sobre o assunto. Foi pesquisar, surpreendeu-se com o enorme potencial de valorização do ativo e aceitou ser remunerado em moeda digital. A opção, até agora, tem se mostrado acertada: enquanto o valor do bitcoin subiu impressionantes 597% no acumulado de 2017, Jeferson viu o valor do cachê quadruplicar.

O principal gatilho para o atual ciclo de valorização foi a aprovação, em abril, de uma lei que reconhece as moedas digitais como meio de pagamento no Japão. Com a previsão de que 300 000 estabelecimentos passem a aceitar o bitcoin na terceira maior economia do mundo, a criptomoeda ganhou peso. “Uma moeda surge quando um grupo atribui valor a ela e a adota como meio de troca. Foi exatamente o que aconteceu com o bitcoin”, diz Alan Ghani, professor de economia e finanças na Saint Paul Escola de Negócios, de São Paulo.

Uma segunda razão para a alta é o fato de que importantes instituições financeiras começaram (finalmente) a dar o braço a torcer à tecnologia. Em relatório recente, o Goldman Sachs, maior banco de investimento do mundo, assumiu ser impossível “ignorar o avanço das criptomoedas”. Além do próprio Goldman Sachs, Citi, Santander, Itaú e Bradesco são alguns dos grandes bancos que já estão testando o blockchain (ferramenta que permite que a moeda virtual saia de uma conta e chegue a outra por meio de um código único), numa demonstração de que esse tipo de transação deve se popularizar.

Paralelamente a isso tudo, há ainda uma crescente desconfiança em relação às moedas tradicionais, gerada sobretudo pelas crises políticas. “O bitcoin tem servido de instrumento de reserva e fuga de recursos em nações com problemas. A demanda cresceu muito na Venezuela, na China e na Grécia, cujos governos restringiram transferências e saques de dinheiro”, diz Guto Schiavon, diretor de operações da corretora de moedas digitais Foxbit, de São Paulo.

 

Outro lado da moeda

A história do bitcoin, no entanto, não é feita só de fatores positivos. Um dos pontos de atenção a ser levado em conta antes de investir é que o preço das criptomoedas é muito volátil e é comum haver variações de mais de 10% para baixo ou para cima em um único dia.

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Durante o mês de julho, por exemplo, a oscilação chegou a 64% entre máximas e mínimas diárias, segundo o site bitValor, que compila dados desse mercado. De acordo com Felipe Sotto-Maior, presidente da Vérios, plataforma de gestão automatizada de investimentos, de São Paulo, a volatilidade da moeda é grande porque ela não tem valor intrínseco, então sua flutuação fica à mercê da relação entre oferta e demanda.

Jeferson, o programador mineiro que abre a reportagem, conta que, quando começou a investir em bit­coins, chegou a perder 3 000 reais em 20 dias. “Meu erro foi fazer operações sem usar ordem de stop loss [o mecanismo garante que, se os preços alcançarem certo nível, as perdas serão interrompidas]”, diz.

Hoje, para minimizar riscos, ele guarda o valor investido originalmente em sua carteira digital e faz novas apostas só com os bitcoins que embolsa como rendimentos. Assim, no limite, fica no zero a zero. A estratégia atual de investimento dele, menos arriscada, é recomendada por especialistas (incluindo os entusiastas). De acordo com planejadores especializados em bitcoin, o investidor só deve aplicar em moeda digital uma quantia que, se perdida, não causará abalos financeiros e emocionais.

Como esse ainda é um mercado altamente especulativo, a forma mais segura de aplicar é comprar a moeda, mantê-la em carteira, esperar a valorização e vender para embolsar os ganhos. No mundo dos bitcoins, vale a velha máxima de que grandes retornos vêm acompanhados de grandes riscos.

O que saber antes de fazer aplicações

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1. Apesar da popularização, o investimento ainda é arriscado?

Sim. Você pode ganhar ou perder muito dinheiro. Por isso, a recomendação é destinar, no máximo, 5% do patrimônio disponível aos bitcoins. Os principais riscos são: grande flutuação de preços, vulnerabilidade da tecnologia (o sistema não foi corrompido até hoje, mas é visado por hackers) e segurança dos intermediários (a corretora pode quebrar ou ser fraudada).

2. Qual é o tamanho do mercado de bitcoins atualmente?

Segundo estimativa do banco Goldman Sachs, o valor de mercado de todas as moedas digitais é de 120 bilhões de dólares, sendo que o bitcoin sozinho responde por cerca de 50% desse total. Há, hoje, 800 moedas digitais em circulação no mundo; apenas nove delas ultrapassam 1 bilhão de dólares em valor de mercado, enquanto 400 somam menos de 1 milhão de dólares.

3. Quais os prós e contras?

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Entre as vantagens está o custo das transações, bem menor do que no sistema financeiro tradicional. As moedas virtuais podem ser usadas em qualquer país e, por não serem controladas por um governo, não podem ser congeladas nem confiscadas. Entre os contras estão preço flutuante, falta de proteção contra perdas e risco de as carteiras serem hackeadas ou roubadas.

4. O bitcoin deve continuar a valorizar nos próximos anos?

“O potencial de valorização ainda é grande”, diz Rodrigo Batista, da corretora Mercado Bitcoin, de São Paulo. Isso porque há hoje cerca de 16 milhões de bitcoins em circulação no mundo e o algoritmo da moeda prevê um limite de emissão de 21 milhões. Mas qualquer problema que afete a credibilidade do sistema pode jogar o preço do bitcoin para baixo.

5. Vale a pena vender agora, em plena escalada de preços?

Se a aplicação chegou a um retorno suficiente para realizar seu objetivo (comprar um carro, pagar uma viagem ao exterior), aproveite a alta para vender. Se não, mantenha a aplicação. Um erro comum é vender o ativo muito rápido para embolsar o lucro e comprar novas moedas na baixa. Como a flutuação nesse mercado é acelerada, a maioria perde o timing.

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6. Que cuidados se deve tomar?

Como esse mercado ainda não é regulado por nenhum órgão fiscalizador, é preciso estudá-lo e pesquisar seus intermediários. Desconfie de promessas de retorno garantido. Após adquirir os bitcoins, não é aconselhável mantê-los na conta das corretoras, pois eles podem ser perdidos em caso de fraudes ou de quebra da empresa.

7. Onde se pode guardar a moeda?

Em carteiras digitais de vários tipos. No celular (MyCellium e Bitcoinwallet são opções), no computador (Bitcoin Core e mSIGNA), em hardware (Trezor e Ledger Wallet) e on-line (SmartWallet e Xapo). Os sites dessas empresas têm tutoriais de como criar e usar as carteiras. Como é um mercado visado por hackers, deve-se deixar a maior parte dos recursos em dispositivos sem acesso à internet, como um computador sem placa de rede ou hardware.

8. A divisão do bitcoin em duas moedas afeta as aplicações?

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A criação da nova moeda, batizada de bitcoin cash, visou elevar a capacidade de processamento dos bitcoins. Após a divisão, quem tinha bitcoins recebeu o mesmo montante em bitcoin cash (o tradicional vale 14  000 reais, enquanto o cash vale hoje 1 400 reais). Como tudo correu bem, a expectativa é que a nova moeda trilhe um caminho de valorização.

Onde comprar bitcoin

Bitcoin to you (bitcointoyou.com)

Oferece negociações exclusivamente com bitcoins. Para se cadastrar, basta informar nome e e-mail. Após o depósito na conta da corretora e o envio do comprovante, as transações estão liberadas.

Valor mínimo para investir: 10 reais

Custo: taxa fixa de 2,99 reais para depósitos até 159 reais e de 1,89% para depósitos acima de 160 reais. A cada operação de compra e venda executada, paga-se uma comissão de 0,25% a 0,60%.

Diferencial: oferece uma calculadora de bitcoin E uma carteira gratuita para guardar as moedas.

Mercado bitcoin (mercadobitcoin.com.br)

A corretora negocia as moedas digitais bitcoin, bitcoin cash e litecoin. O cadastro requer e-mail, CPF e data de nascimento e uma confirmação por e-mail.

Valor mínimo para investir: 50 reais

Custo: taxa fixa de 2,90 reais mais 1,99% do valor do depósito ou do saque de recursos da conta da corretora. Uma comissão entre 0,3% e 0,7% é cobrada a cada operação de compra e venda executada.

Diferencial: opera com três moedas digitais, o que é possível graças a uma tecnologia própria que, segundo a corretora, assegura menos instabilidade de sistema.

Foxbit (foxbit.exchange)

Faz transações de compra e venda de bitcoin. O cadastro é rápido: basta informar nome, e-mail e localização e realizar a confirmação via correio eletrônico. Ao se cadastrar, o investidor ganha 2 reais para começar a comprar. Após a corretora verificar o depósito do valor mínimo, pode-se solicitar a ordem de compra.

Valor mínimo para investir: 10 reais

Custo: a cada saque, cobra 1,39% do valor (mais 8,95 reais para bancos não conveniados). A corretora tem convênio com Bradesco, Caixa, Banco do Brasil e Banco Inter. Uma comissão de 0,25% a 0,50% é cobrada a cada compra e venda executada.

Diferencial: afirma ser a única corretora brasileira que divulga seu endereço de carteira pública para provar a existência dos recursos. Isso ajuda a auditar a corretora, fazendo a consulta em tempo real.

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