Carreira em W na tecnologia
Crescer profissionalmente nem sempre é subir de cargo. No mundo tech, o mais satisfatório para alguns pode ser transitar entre as trilhas, reavaliar rumos e se reinventar.

O crescimento profissional sempre foi visto de forma bastante linear: você entra em uma empresa e é promovido recorrentemente até chegar a uma posição de liderança. Por décadas, essa foi uma definição de sucesso tão forte que as pessoas passaram a desejar a ascensão verticalizada sem pensar muito sobre o que cada cargo exige, desde que a promoção aconteça.
Em alguns setores e companhias, o modelo ainda funciona. Não há nada de errado em segui-lo. Contudo, algumas complexidades surgiram com o passar do tempo, especialmente quando se trata da área de tecnologia.
No mundo tech, há uma série de possibilidades que vão além do gerenciamento tradicional. É por isso que o modelo em Y se popularizou nos últimos anos, permitindo que profissionais escolham entre seguir uma trajetória de especialização técnica ou de gestão de pessoas. A novidade pegou muito bem em vários negócios, e também é inteiramente válida como caminho profissional.
Mas e se, para alguns, o mais relevante e satisfatório for transitar entre as trilhas, reavaliar rumos e se reinventar?
É aí que entra o conceito da carreira em W, onde o crescimento profissional pode incluir retomadas, transições e pausas estratégicas, sem que isso represente retrocesso. É, em primeiro lugar, uma mudança de mentalidade que vê mais oportunidades e menos limitações.
Pense no W visualmente: ele dá uma sensação de fluidez, certo? Essa é a palavra-chave desse modelo. Ele pode começar com uma trilha inicial técnica ou generalista, um desvio em direção a algum tipo de liderança – não necessariamente formal! – e um novo ciclo, que pode ser uma retomada da área técnica, uma reinvenção de carreira ou mesmo uma pausa intencional.
Exemplos dessa trajetória
Na prática, podemos imaginar um desenvolvedor sênior que se torna líder técnico, depois Product Manager e eventualmente volta para a engenharia em uma área mais inovadora. Ou uma designer, por exemplo, pode liderar um time, empreender por um tempo e retornar ao mercado como consultora especializada.
Cada escolha se alinha ao momento de vida de cada um, aos seus contextos e aspirações. O crescimento vertical e fechado pode ir contra isso, limitando o profissional. Muitos talentos deixam boas empresas por falta de caminhos que façam sentido para eles. A promoção vira armadilha quando o único jeito de crescer é liderar times, mesmo que o profissional prefira a profundidade técnica, a autonomia ou a flexibilidade. Nem todo mundo quer o mesmo futuro na escada corporativa.
Empresas mais maduras em gestão de talentos já entenderam isso. O Google e a Intel, por exemplo, já aplicam o modelo em Y há anos, conferindo aos especialistas técnicos posições de tanto destaque quanto as dos gestores. Outras empresas, como o Nubank, têm trabalhado com flexibilidade de cargos, de forma que seus colaboradores podem manter a mesma posição enquanto mudam de ambiente, estrutura ou até área. Isso faz com que as pessoas tenham chance de testar novos horizontes e descobrir onde se encaixam melhor.
A carreira em W não significa desistir de crescer ou negar oportunidades de liderança. É crescer de um jeito mais inteligente, mais consciente e, acima de tudo, mais conectado com quem você é. O mercado de trabalho já exige reinvenções constantes; talvez seja hora de permitir que os profissionais façam parte da mudança.