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O que é o efeito manada?

É um comportamento que explica várias bolhas no mercado financeiro – e tem origem na evolução. Entenda.

Por Bruno Carbinatto, Alexandre Versignassi
11 fev 2022, 06h35

“Se todo mundo pular pela janela, você vai pular também?” Hum… Nossas mães estavam erradas na formulação dessa pergunta retórica. Provavelmente você pularia junto. A culpa é da evolução. Somos animais sociais. Se todo mundo sair correndo, sentimos uma pulsão violenta de ir junto. No ambiente selvagem, no qual a humanidade passou 99,9% de sua história enquanto espécie, essa costuma ser a melhor pedida. Pode ter aparecido um predador, e só você não viu. Seguir a manada é um instinto de sobrevivência poderoso – logo, irresistível. E se a manada zarpar para um precipício, azar. 

Acontece o tempo todo no mercado financeiro. Um dos casos mais notórios foi a Bolha da Internet, entre 1996 e 2000, quando o índice Nasdaq subiu de 1.000 para 5.000 pontos, uma alta de 400% – absolutamente incomum para um índice que, na época, contava com 4.875 empresas (hoje são 3.566). Quanto mais companhias existem num índice, afinal, menos volátil ele fica, já que as altas e baixas de cada uma das ações cancelam-se mutuamente. Tínhamos ali uma alta generalizada. Puro efeito manada. 

Todo mundo estava maravilhado com as possibilidades que a internet (uma novidade na época) poderia trazer. Cada vez mais companhias entravam na Nasdaq, a bolsa americana que concentra as empresas de tecnologia, seguidas por hordas de investidores prontos para apostar suas fichas nelas. Boa parte delas, porém, sequer tinha um modelo de negócios: na ausência de faturamento, divulgavam números de audiência nos balanços.

Em meados do ano 2000, a ficha caiu, e a manada passou a correr na direção oposta. Entre junho e setembro daquele ano, o índice Nasdaq desabou de volta para os 1.000 pontos. Quem tinha entrado no auge, perdeu 80% do dinheiro. Pois é: o efeito manada se torna mais agudo nos movimentos ladeira abaixo. O psicólogo Daniel Kahneman, aliás, ganhou o Nobel de economia em 2002 justamente por ter provado isso cientificamente. Uma série de experimentos dele e de seus colegas mostra que, para cada indivíduo, a dor da perda costuma ser mais intensa do que o júbilo com o ganho. Logo, as quedas por efeito manada são mais bruscas do que as altas. Cuidado. Se você investir em alguma coisa só porque “todo mundo está fazendo isso” corre, sim, o risco de estatelar-se. Ponto para as mães. -

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(Arte/VOCÊ S/A)
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