Home office também tem limites – e é importante respeitá-los
Sete em cada dez pessoas tiveram algum sintoma de burnout desde que entraram em home office. Veja como tornar sua rotina mais racional.
Nossa atenção é um artigo bastante demandado em tempos de home office. Como se não bastassem as múltiplas tarefas específicas do trabalho a que temos que nos dedicar – dezenas de mensagens de WhatsApp, reuniões em sequência, inúmeros e-mails, relatórios, planilhas – ainda há aquelas específicas de casa – entregas de pedidos feitos pelo app, filhos que precisam de atenção…
Manter o foco no trabalho estando dentro de casa parece quase um lance da sorte. Sem dúvida, há ganhos: a mera dispensa de uma viagem diária até o local de trabalho, evitando o trânsito caótico e as condições do transporte coletivo das cidades é algo de que poucos, se alguém, sentem saudades. A alimentação também pode melhorar muito, com refeições feitas em casa – ainda que isso também seja um desafio em si: evitar alimentos ultraprocessados ou comer fora dos horários requer disciplina.
No balanço geral, o home office é algo positivo para a maioria. Um levantamento feito recentemente pela empresa de monitoramento de mercado e consumo Hibou mostrou que 64,8% dos brasileiros ouvidos querem se manter em home office mesmo após a pandemia. Isso é possível no caso de atividades mais voltadas a áreas administrativas e de tecnologia da informação. Além do mais, profissionais como advogados e consultores, entre tantos outros, encontraram no home office o formato ideal para ganhos de produtividade.
Mas, como em tudo, há um lado negativo. Com o trabalho em casa, perdemos o relacionamento próximo dentro do escritório – o contato informal que muitas vezes tínhamos, ao passar pela sala ou pela mesa de um colega. A conversa no cafezinho ou no bebedouro, a colaboração espontânea. E não só: almoços com os colegas, reuniões de trabalho fora do escritório, happy hour – também perdemos isso. Assim se formavam times: com essa construção de confiança e entrosamento, executar uma tarefa que exigisse trabalho em conjunto acontecia de forma muito mais fluida.
Muitas vezes, é dentro de uma linha informal de comunicação que as coisas se resolvem. É ruim perder isso – ainda mais depois de tanto tempo isolados uns dos outros.
Grande parte de minha vida profissional se construiu dessa forma, por meio de relacionamentos sólidos. Não é que, distantes, tenhamos nos tornado ilhas incomunicáveis: trabalhando de casa, temos os aplicativos de videoconferência, os de troca de mensagens e mesmo o bom e velho telefone. Mas a espontaneidade própria do partilhar o espaço físico de trabalho se perde na comunicação por esses meios. E isso é uma perda efetiva, real.
Nos escritórios, os horários de início e de fim de expediente também costumavam ser mais bem definidos – apesar dos aplicativos de troca de mensagens e mesmo o email tornarem essa linha um tanto turva. Em casa, no entanto, o trabalho foi ocupando todos os momentos disponíveis – e assim acabamos com um expediente que dura todas as horas em que estamos despertos. Essa trilha conduz a pessoa à síndrome de burnout – um esgotamento crônico que pode acarretar sentimentos de exaustão, distanciamento mental do trabalho, negativismo e queda de produtividade. Outro levantamento, da plataforma Capterra, ouviu 418 profissionais brasileiros de pequenas e médias empresas e verificou que sete em cada dez funcionários tiveram algum sintoma de burnout desde que entraram em home office, com a pandemia.
A pandemia inclusive fez surgir um novo de esgotamento: a chamada “fadiga pandêmica”, que, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), decorre da excessiva vigilância contra o vírus – com reflexos nos sistemas hormonal e endócrino, o que eleva o risco de transtornos como ansiedade e depressão –, além do temor quanto à situação econômica.
É certo também que as empresas têm ouvido os funcionários e já trabalham na implementação de regimes híbridos, envolvendo home office e trabalho presencial no escritório. Até porque há ganhos em termos de redução de custos. Ainda há questões envolvendo ajustes na legislação trabalhista, mas o modelo chegou de fato para ficar.
Há, claro, inúmeras sugestões de como evitar as muitas distrações de se estar dentro de casa e trabalhando. Algumas delas são:
1 – Durante a execução de um relatório, análise de planilhas ou reuniões por videoconferência, silencie as notificações em seus portáteis (smartphone, tablet, laptop). São trabalhos que requerem concentração, e notícias ou avisos podem esperar um pouco.
2- Reserve horários para retomar contato com o mundo exterior: faça pausas, tanto para retomar o foco como para conferir e-mails, mensagens e ligações, além de notícias.
3- Conscientize os familiares que o tempo passado no escritório é horário de trabalho: exceto por assuntos realmente urgentes, você não pode ser interrompido.
Trabalhar em casa depende de se fazer um ajuste fino em suas rotinas e tarefas. O segredo está em saber que um dia de expediente tem horários de início e fim, e eles não podem coincidir com todo o tempo desperto do seu dia. Em casa, é preciso também dedicar algum tempo à família, a algum lazer, alguma atividade física e a horas suficientes de sono. E cuidado com o burnout.