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Claudio Lottenberg

Médico oftalmologista, é presidente do conselho do Hospital Albert Einstein e do Instituto Coalizão Saúde. Também atua como conselheiro da Unicef.
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Home office também tem limites – e é importante respeitá-los

Sete em cada dez pessoas tiveram algum sintoma de burnout desde que entraram em home office. Veja como tornar sua rotina mais racional.

Por Claudio Lottenberg
Atualizado em 21 jun 2021, 12h31 - Publicado em 21 jun 2021, 12h29
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 (Natalia Gdovskaia / EyeEm/Getty Images)
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Nossa atenção é um artigo bastante demandado em tempos de home office. Como se não bastassem as múltiplas tarefas específicas do trabalho a que temos que nos dedicar – dezenas de mensagens de WhatsApp, reuniões em sequência, inúmeros e-mails, relatórios, planilhas – ainda há aquelas específicas de casa – entregas de pedidos feitos pelo app, filhos que precisam de atenção…

Manter o foco no trabalho estando dentro de casa parece quase um lance da sorte. Sem dúvida, há ganhos: a mera dispensa de uma viagem diária até o local de trabalho, evitando o trânsito caótico e as condições do transporte coletivo das cidades é algo de que poucos, se alguém, sentem saudades. A alimentação também pode melhorar muito, com refeições feitas em casa – ainda que isso também seja um desafio em si: evitar alimentos ultraprocessados ou comer fora dos horários requer disciplina.

No balanço geral, o home office é algo positivo para a maioria. Um levantamento feito recentemente pela empresa de monitoramento de mercado e consumo Hibou mostrou que 64,8% dos brasileiros ouvidos querem se manter em home office mesmo após a pandemia. Isso é possível no caso de atividades mais voltadas a áreas administrativas e de tecnologia da informação. Além do mais, profissionais como advogados e consultores, entre tantos outros, encontraram no home office o formato ideal para ganhos de produtividade.

Mas, como em tudo, há um lado negativo. Com o trabalho em casa, perdemos o relacionamento próximo dentro do escritório – o contato informal que muitas vezes tínhamos, ao passar pela sala ou pela mesa de um colega. A conversa no cafezinho ou no bebedouro, a colaboração espontânea. E não só: almoços com os colegas, reuniões de trabalho fora do escritório, happy hour – também perdemos isso. Assim se formavam times: com essa construção de confiança e entrosamento, executar uma tarefa que exigisse trabalho em conjunto acontecia de forma muito mais fluida.

Muitas vezes, é dentro de uma linha informal de comunicação que as coisas se resolvem. É ruim perder isso – ainda mais depois de tanto tempo isolados uns dos outros.

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Grande parte de minha vida profissional se construiu dessa forma, por meio de relacionamentos sólidos. Não é que, distantes, tenhamos nos tornado ilhas incomunicáveis: trabalhando de casa, temos os aplicativos de videoconferência, os de troca de mensagens e mesmo o bom e velho telefone. Mas a espontaneidade própria do partilhar o espaço físico de trabalho se perde na comunicação por esses meios. E isso é uma perda efetiva, real.

Nos escritórios, os horários de início e de fim de expediente também costumavam ser mais bem definidos – apesar dos aplicativos de troca de mensagens e mesmo o email tornarem essa linha um tanto turva. Em casa, no entanto, o trabalho foi ocupando todos os momentos disponíveis – e assim acabamos com um expediente que dura todas as horas em que estamos despertos. Essa trilha conduz a pessoa à síndrome de burnout – um esgotamento crônico que pode acarretar sentimentos de exaustão, distanciamento mental do trabalho, negativismo e queda de produtividade. Outro levantamento, da plataforma Capterra, ouviu 418 profissionais brasileiros de pequenas e médias empresas e verificou que sete em cada dez funcionários tiveram algum sintoma de burnout desde que entraram em home office, com a pandemia.

A pandemia inclusive fez surgir um novo de esgotamento: a chamada “fadiga pandêmica”, que, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), decorre da excessiva vigilância contra o vírus – com reflexos nos sistemas hormonal e endócrino, o que eleva o risco de transtornos como ansiedade e depressão –, além do temor quanto à situação econômica.

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É certo também que as empresas têm ouvido os funcionários e já trabalham na implementação de regimes híbridos, envolvendo home office e trabalho presencial no escritório. Até porque há ganhos em termos de redução de custos. Ainda há questões envolvendo ajustes na legislação trabalhista, mas o modelo chegou de fato para ficar.

Há, claro, inúmeras sugestões de como evitar as muitas distrações de se estar dentro de casa e trabalhando. Algumas delas são:

1 – Durante a execução de um relatório, análise de planilhas ou reuniões por videoconferência, silencie as notificações em seus portáteis (smartphone, tablet, laptop). São trabalhos que requerem concentração, e notícias ou avisos podem esperar um pouco.
2- Reserve horários para retomar contato com o mundo exterior: faça pausas, tanto para retomar o foco como para conferir e-mails, mensagens e ligações, além de notícias.
3- Conscientize os familiares que o tempo passado no escritório é horário de trabalho: exceto por assuntos realmente urgentes, você não pode ser interrompido.

Trabalhar em casa depende de se fazer um ajuste fino em suas rotinas e tarefas. O segredo está em saber que um dia de expediente tem horários de início e fim, e eles não podem coincidir com todo o tempo desperto do seu dia. Em casa, é preciso também dedicar algum tempo à família, a algum lazer, alguma atividade física e a horas suficientes de sono. E cuidado com o burnout.

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