Imagem Blog

Guia dos Dividendos

Alexandre Versignassi, autor da coluna, é jornalista, diretor de redação da Você S/A e autor do livro "Crash – Uma Breve História da Economia".
Continua após publicidade

Nos EUA, só o 1% mais rico paga 20% de imposto sobre dividendos

Além disso, quem ganha até R$ 17 mil por mês não precisa pagar nada – o que coloca metade da população americana dentro da faixa de isenção.

Por Alexandre Versignassi
Atualizado em 27 jul 2021, 10h53 - Publicado em 7 jul 2021, 14h32

A ausência de impostos sobre dividendos é uma peculiaridade brasileira que está com os dias contados. O Projeto de Lei de reforma tributária passa a taxar os ganhos, na fonte, em 20%. 

Não é um absurdo. No Reino Unido, a taxa chega a 32,5%. No Canadá, a 38%. Mas vamos comparar com os EUA, já que lá estão listadas as maiores empresas do mundo.

Bom, nos EUA também cobram 20%. Com um detalhe: só o topo da pirâmide paga esse tanto. A renda média do trabalhador americano é de US$ 35.977 anuais. Vamos arredondar para US$ 36 mil. Dá US$ 3 mil dólares por mês. Em reais, uns R$ 15 mil.

Pois bem. Quem ganha até R$ 15 mil por mês lá de salário (e do que mais for) não paga imposto sobre dividendos. 

Por aqui, não tem isso. Pelo texto atual da lei, é 20% para todo mundo. Ganhou R$ 1 de dividendo, o governo pela R$ 0,20 – ganho você o salário que o Faustão tirava, ganhe você o mesmo que o pizzaiolo do Faustão.   

Continua após a publicidade

Nos EUA, a isenção vai um pouco além da renda média. Até US$ 40 mil – traduzindo para o nosso padrão, R$ 17 mil por mês. Claro que US$ 40 mil por ano é mais dinheiro aqui do que nos EUA (o câmbio alto dá uma distorcida nas coisas). Para ficar num exemplo lúdico: lembra do Breaking Bad? Então. O Walter White ganhava US$ 40 mil por ano – os roteiristas criaram esse valor para retratar o professor de química como um sujeito de classe média baixa (o que por lá pode significar ter uma casa de dois andares e mais de um carro na garagem, dependendo de onde você mora, mas essa é outra história). 

Seja como for, o fato é que 54% dos americanos ganha menos de US$ 40 mil por ano – e estão dentro da faixa de isenção do imposto sobre dividendos. Num país onde 65% das pessoas têm ações na bolsa, faz diferença.

Quem tira ganha entre US$ 40 mil e gordos US$ 441.450 ainda não paga os 20%. A alíquota fica em 15%. Isso abrange simplesmente 99% dos americanos. Segue a tabela: 

-
(Tiago Araujo/VOCÊ S/A)

Na prática, então o imposto sobre dividendos nos EUA é de 15%, e com isenção para metade dos contribuintes

Só o top 1% paga os 20% cheios. E para estar no 1% dos EUA você precisa ganhar quase 200 contos (de reais) por mês. Não vai fazer muita diferença no orçamento doméstico. 

Ou seja: se Ministério da Economia pensou em copiar a taxa americana quando propôs a taxa de 20%, das duas uma: ou não sabiam o que estavam fazendo ou jogaram 20% no Projeto de Lei para colher 15% do Congresso. Voto na segunda opção. De qualquer forma, o fato é que ainda deve passar muita água por baixo dessa ponte.  

Até a próxima. 

Continua após a publicidade

 

Publicidade