QUEDA DE 70% NO ANO: Entenda a crise do Grupo Casas Bahia
MERCADO FINANCEIRO
Nos últimos anos, a Via, varejista dona das Casas Bahia e do Ponto (ex-Frio) deve ter perdido as contas de quantas vezes foi do céu ao inferno – e de quantas ficou presa no purgatório.
Em agosto de 2020, auge da corrida do e-commerce para suprir a demanda da pandemia, os papéis da empresa chegaram a valer R$ 20,56, número 2.600% superior aos atuais R$ 0,76.
Mudanças de estratégia e trocas de comando, somadas a um cenário macroeconômico adverso, foram alguns dos motivos capazes de virar a chavinha da opinião do mercado com relação à companhia.
Os dias de glória parecem estar mais uma vez no passado. No ano, os papéis VIIA3 (que, em breve, serão rebatizados como BHIA3) acumulam uma perda de 70%, o pior desempenho do Ibovespa.
Para Breno Francis de Paula, analista de Varejo do Inter, parte do problema da companhia está na performance abaixo do esperado no e-commerce.
“O consumo não é pujante desde a pandemia. As pessoas estão endividadas e com limitado acesso à crédito", diz Breno.
Com a pressão dos juros altos e a retomada do consumo das famílias ainda engatinhando, o varejo como um todo tem sofrido na bolsa — mas o calvário da Casas Bahia é maior.
O seu principal concorrente, Magazine Luiza (MGLU3), tem perdas de apenas 3% no ano; varejistas de outros setores, como Petz e Lojas Renner, caem 2% e 19%, respectivamente.
Na última apresentação da companhia ao mercado anunciaram uma mudança de prioridade: nada de expansão dos novos canais digitais e crescimento no número de lojas.
O objetivo agora é estabilizar a operação e fomentar um aumento na geração de caixa, com redução de despesas.
Para qualquer mudança acontecer, porém, é preciso de grana. A empresa vem rodando no prejuízo no último ano e reportou uma dívida bruta de R$ 8,7 bilhões ao fim do segundo trimestre.
A varejista fez uma oferta de ações (follow-on) especialmente malfadada, que deixou claro o baixo interesse do mercado.
Com a oferta, o grupo esperava injetar R$ 1 bilhão no caixa, mas conseguiu só R$ 623 milhões (valor 37% menor). Cada ação saiu por R$ 0,80, 31% abaixo dos R$ 1,17 do dia do anúncio da operação.
O desconto de 31% para viabilizar a oferta deixou uma má impressão. Ficou o sinal de que os executivos da companhia aceitaram seguir em frente porque não havia como abrir mão do dinheiro.
Em meio à crise, a empresa decidiu abandonar o nome “Via” e retornar às origens com o mais clássico Grupo Casas Bahia.