O real e o dólar viveram em regime de paridade entre julho de 1994 e dezembro de 1998. Anos de implantação do Plano Real – que não foi simplesmente um corte de zeros na moeda antiga, o cruzeiro.
Foi também um processo para solidificar a confiança na moeda nova. O Banco Central não podia deixar o dólar subir demais – isso encareceria as importações, e poderia trazer de volta a inflação.
O Brasil, então, pedia dólares emprestados ao FMI e o BC soltava no mercado para suprir a demanda por moeda americana. Desse jeito, foram mantendo o dólar sempre próximo de R$ 1.
Sob um câmbio desses, hoje, você compraria um iPhone 14 nos EUA por R$ 799. A passagem de avião sairia por R$ 330 – ida e volta. Pois é: R$ 1,2 mil por um iPhone 14 mais um bate e volta na Flórida.
Esse é o óbvio lado bom de uma moeda hipervalorizada. Mas há o ruim. Qualquer coisa produzida aqui fica absurdamente cara para os estrangeiros. E aí começa a faltar cliente para os exportadores.
Entre 1995 e 1998, o país acumulou déficits na balança comercial – ou seja, gastou mais com importações do que ganhou com exportações.
Isso não é um problema em si. Os EUA não registram um superávit desde 1975 e seguem firmes. A diferença é que a gente depende mais de exportações do que eles.
Não só. O que mais garante o valor de uma moeda é o PIB como um todo, sustentado pela economia interna. O dos EUA é de US$ 26,8 trilhões. O da União Europeia, US$ 17,8 tri. O do Brasil, US$ 2,0 tri.
Nesse quesito, não dá nem para o começo. O que sustenta o real é outro pilar: nossas exportações, que trazem moeda forte para o país.
Em 1998 a dívida externa chegou à sua máxima histórica, US$ 241 bilhões. O BC, então, decidiu parar de intervir no câmbio, e o dólar foi assumindo valores realistas de 1999 em diante.
Mas se manteve em patamares terráqueos. Cortesia das exportações.
Na virada do século, o Brasil exportava US$ 60 bilhões por ano. Em 2022, foram US$ 335 bi, com superávit de US$ 62 bi – maior da história.
Foi esse progresso que consolidou o real através das décadas, e nos livrou da necessidade de fazer dívida externa para segurar a cotação do dólar.