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Voltar ou não voltar ao escritório: qual a melhor decisão?

Especialistas e executivos ainda não têm uma resposta padrão para a pergunta e o segredo está em ouvir os funcionários

Por Hanna Oliveira
Atualizado em 14 dez 2020, 14h09 - Publicado em 1 out 2020, 16h30

A crise humana provocada pelo novo coronavírus ainda é latente. No dia 29 de setembro, o mundo chegou ao número de 1 milhão de mortos pela covid-19, segundo dados do Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, foram mais de 142.000 mortos na mesma data. No entanto, indicadores importantes como o percentual de ocupação de UTIs e taxa de contágio, que ajudam a medir a gravidade dos casos e a contaminação, em algumas regiões têm baixado – e isso levou as autoridades a flexibilizar o isolamento social e permitir a abertura de alguns estabelecimentos. 

É nesse sentido que algumas empresas começaram a retomar gradualmente as atividades presenciais em escritórios, com regime híbrido de trabalho, promovendo rodízio entre os empregados. Mas em um contexto ainda longe de ser o ideal para o retorno ao trabalho físico e ainda sem uma resposta, do ponto de vista de saúde, para a covid-19, surge a dúvida: esse é o momento ideal de voltar?

Ainda não 

Para a Agrotools, uma AgTech que já tinha uma parte da equipe atuando remotamente, a resposta é “ainda não”. A equipe agiu rapidamente no decreto de pandemia e conseguiu, em 48 horas, colocar todo o time em home office. “Investimos em infraestrutura para que as pessoas não tivessem nenhum impacto de não estar fisicamente olhando um para o outro”, explica Rafael Gomes, diretor de operações da empresa.

Além da ajuda com estrutura, uma agenda de endomarketing com a união dos times de Marketing e RH impulsionou a empresa a criar agendas de saúde mental com atividades que buscavam ajudar num momento incomum, que combina trabalho remoto forçado e uma crise sem precedentes. “Ficar dentro de casa, o tempo todo, nem sempre é fácil. Então contratamos duas psicólogas para fazer touchpoints semanais com pessoas com mais ansiedade”, explica Lucas Tuffi, diretor comercial e de marketing da AgTech. 

Aos poucos 

Diferentemente da Agrotools, a Sem Parar tinha dois grandes desafios. O primeiro era colocar 700 pessoas em regime home office em tempo recorde; o segundo, garantir que funcionários dos pontos físicos de venda, espalhados em 300 municípios do Brasil, permanecessem em casa, pelo menos pelos dois primeiros meses mais intensos do isolamento social. Após esse período, para a operação física, discutiram como poderiam agir dali para frente. Mesmo com as vendas digitais, a atividade presencial é muito importante para o negócio: “O nosso diferencial são os dos pontos de venda. Onde a empresa está presente para ter esse contato real com cliente”, explica Maria Eduarda Bochner, diretora da área de RH da Sem Parar.

Assim, começaram uma retomada gradual de retorno ao trabalho físico em pontos de vendas, chegando apenas agora ao número de 85% de funcionários operando fisicamente e, mantendo o pessoal do grupo de risco ainda em casa. Para isso, seguiram os protocolos de saúde dos municípios, distribuiram equipamentos de segurança para funcionários e para suas família: “Contratamos um médico do trabalho para fazer consultoria com os funcionários através de um canal em que ele pode ligar para esse médico a hora que quiser para buscar orientação”, explica Maria Eduarda.

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Já para o time da área administrativa, que estava em home office, a discussão sobre retorno ao escritório começou recentemente, em um comitê multidisciplinar que discute a crise. “Não queríamos fazer nenhum movimento precipitado. Paramos para pensar: por que vou abrir? qual vai ser o ganho? As pessoas vão continuar fazendo reunião virtual”, relembra Maria Eduarda. 

Por isso, conduziram uma pesquisa interna com os funcionários, após meses de quarentena, perguntando se gostariam de retornar ao escritório. Quatro em cada dez participantes responderam que sim, mas não todos os dias. Um trabalho de remodelação do escritório estava sendo feito, com instalação de vidros de proteção nas mesas, disponibilização de material de higiene por todo escritório.

“Um ponto inquestionável é que não abriríamos o escritório sem ele estar preparado. Então tivemos esse processo paralelo que não foi rápido e levou cerca de cinco meses. Era inconcebível trazer o funcionário e colocá-lo em risco”, defende a diretora.

Retorno voluntário 

Para o professor Paul Ferreira da Fundação Dom Cabral, a opção do retorno voluntário é o caminho a seguir: “Minha opção seria voluntária intercalando os dias em casa para que uma certa porcentagem de trabalhadores esteja sempre no escritório”, aponta, explicando também a importância de se ter mapeada cada função da empresa e suas disposições para avaliar a necessidade ou não do retorno à atividade presencial. 

Na visão do professor, também seria importante conduzir pesquisas internas para entender a intensidade do trabalho remoto e físico. Segundo uma pesquisa realizada pela própria Fundação Dom Cabral, de 1.070 entrevistados, 93% gostariam de fazer home office de duas a 5 vezes na semana, tendo contabilizado a preferência por uma vez na semana, apenas 7% de intenções. 

Hoje, o escritório da Sem Parar não tem mais do que 5% da força de trabalho frequentando-o fisicamente, em dias alternados. A empresa também tomou o cuidado de entender o adensamento de pessoas no condomínio em que o escritório está localizado. Para Maria Eduarda, justamente por esse ser um home office atípico, ligado a uma crise humana, a ida ao escritório gerou um efeito contrário do que tinha antigamente: “O escritório virou o refúgio, virou o momento que você consegue se concentrar, fazer atividades.

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Muitas pessoas estão buscando o escritório para trabalhar por um benefício próprio”, explica Maria Eduarda, contando que no dia a dia os funcionários precisam lidar com um cenário de tarefas domésticas, cuidado de familiares, divisão de internet em casa, tudo isso durante o horário de trabalho.Para a Agrotools, que decidiu permanecer com 100% da equipe em trabalho remoto, a produtividade e o regime de trabalho não tem sido problema. Mesmo com a crise, aumentaram o quadro de funcionários com 18 contratações no período, sendo quatro delas de cargos estratégicos, e conseguiram efetivar outros quatro estagiários. “A gente consegue perceber que as pessoas estavam gostando e com performance foi igual, senão, melhor”, relata Livia Costa da área de endomarketing, exemplificando que, em pesquisa interna, a aprovação do home office foi de 80%.

Por fim, o professor Paul Ferreira defende que se a decisão da empresa for de retornar às atividades presenciais, estabelecer a saúde dos trabalhadores como prioridade e reuniões digitais para todos da equipe é fundamental para não se criar um ambiente de desequilíbrio. “Assegurar que todos têm segurança e bem-estar. A questão da saúde organizacional é fundamental. E, enquanto tivermos pessoas em trabalho remoto, as reuniões continuem virtuais, mesmo para quem está fisicamente no escritório, para garantir que todos sejam envolvidos da mesma forma”, finaliza. 

E quando o RH se sente inseguro?

Para a fundadora da consultoria Resch RH, Jacqueline Resch, em primeiro lugar é importante entender que esse momento pede um olhar especial para as pessoas: “Muitos arranjos foram feitos e precisamos encontrar um equilíbrio entre produtividade e acolhimento”, defende. 

Além disso, realizar uma boa leitura entre o desejo de alguns funcionários, que inclusive estão se voluntariando para retorno aos escritórios nesse momento, e pessoas com mais medo ou com contexto diferentes, é primordial. “Se alguém trabalhar inseguro, isso provavelmente vai afetar o equilíbrio e a produtividade. Nesse cenário, melhor seria ficar em casa”, explica Jacqueline, complementando que é preciso compreender que as pessoas são peças fundamentais para que as companhias superem a crise. “Tem muita gente que coloca essa equação ‘resultado x pessoas’, numa oposição, e pelo contrário: as empresas vão alcançar resultados através de pessoas. Essas coisas não são dissonantes, elas são consonantes para mim”, diz Jacqueline.

Mas em alguns casos não é isso o que acontece e surge o famoso “top down”: a tomada de decisão sem a consulta e a ponderação de outras pessoas para refletir sobre um retorno presencial. Se o RH estiver nessa situação – e se sentindo altamente desconfortável com a atitude –  Jacqueline orienta que talvez seja a hora de pesar se seus valores estão de acordo com os valores da empresa. “Se a pessoa acha que essa decisão fere princípios, valores mais importantes, ou ela vai continuar batalhando por isso ou em algum momento vai perceber que isso diz respeito a valores maiores com os quais não quer mais conviver”.

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