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Saiba quais são os maiores desafios para o RH em 2018

Como os principais eventos e tendências em diversas áreas vão impactar as pessoas e exigir a atenção da área de recursos humanos

Por Mariana Amaro
Atualizado em 5 dez 2020, 19h12 - Publicado em 10 abr 2018, 16h00

Os últimos 12 meses foram bem agitados no Brasil e no mundo. A reforma trabalhista desencadeou protestos em várias cidades e, mesmo depois de aprovada, ainda recebe críticas de juízes. Depois de dois anos de queda, o PIB brasileiro voltou a subir, embora a uma modesta taxa de 1%.

O empresário Joesley Batista, dono da JBS, entregou à polícia gravações de uma conversa suspeita com o presidente Michel Temer. A automação se intensificou no mercado de trabalho e o vírus WannaCry invadiu mais de 230 000 sistemas, sequestrando informações de várias empresas. Uma onda de denúncias de assédio sexual derrubou um dos mais conhecidos produtores — e “predadores” — de Hollywood.

Os próximos meses deverão ser igualmente turbulentos, por uma série de eventos, da Copa do Mundo na Rússia às eleições presidenciais no Brasil. Com o avanço da tecnologia, modelos de negócios que duraram décadas estão em xeque. Ignorar a transformação digital ou o impacto das redes sociais na reputação de uma empresa pode significar uma perda de mercado quase imediata. O destino das companhias nunca foi tão incerto e imprevisível. E esse é o “novo normal”. “Nunca mais haverá uma situação plenamente confortável para as organizações”, diz Silvio Dulinsky, líder para América Latina, Europa e Eurásia do Fórum Econômico Mundial. “Em ano de eleições, o RH precisa estar preparado para mudanças cada vez mais constantes. A instabilidade política e econômica no país vai continuar no médio prazo.”

Além do impacto político e econômico, é preciso estar atento às mudanças provocadas pela evolução da tecnologia e da própria sociedade — dos limites da privacidade individual à segurança da informação. “Sabemos que vai ser mais um ano desafiador”, diz Cristina Palmaka, presidente da SAP. Como em todo processo de transformação, as pessoas e a gestão estão no centro do sistema. “A coisa mais importante neste momento são os talentos para assimilar o conhecimento. E as três competências fundamentais para o profissional do futuro são criatividade, empatia e coragem”, afirma a executiva. Pelos desafios que vêm pela frente — alguns deles detalhados nas páginas a seguir —, essas três qualidades serão mesmo muito necessárias.

A RETOMADA DA ECONOMIA

Depois de oito trimestres consecutivos de retração, a economia brasileira finalmente dá sinais de melhora. Segundo projeções da OCDE, o clube dos países ricos, o PIB do Brasil deverá crescer 1,9% neste ano. Para 2019, a expectativa é ainda mais positiva: 2,3% de expansão. A Selic, taxa básica de juro, que chegou ao patamar de 14,25% ao ano no fim de 2015, caiu para menos de 7% ao ano — o menor índice desde 1997.

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O desemprego, ainda que continue em nível preo­cupante, está em queda. A taxa de desocupados atingiu o pico de 14% em março de 2017, mas dali em diante começou a cair, até recuar para menos de 12% no último trimestre do ano, de acordo com dados do IBGE. Com a retomada do emprego, o consumo também volta, aos poucos, a se estabilizar. Do ponto de vista econômico, tudo indica que a pior fase da tempestade passou. “Finalizamos 2017 crescendo, com um aumento pequeno do PIB, mas, ainda assim, um aumento”, diz Eduardo Ricotta, presidente da Ericsson, fabricante de equipamentos de telecomunicações. “A taxa de desemprego também deve ter uma redução. É provável que se mantenha estável, mas não haverá uma grande melhoria.”

Para Dyogo Oliveira, ministro do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, a previsão é mais otimista. Segundo ele, 2018 será o primeiro de uma sequência de oito a 12 anos de crescimento. “Em 2017 começamos a sair do fundo do poço, e 2018 é o ano da retomada”, disse o ministro num evento recente. A geração de empregos, no entanto, deve demorar a chegar aos patamares de meia década atrás. “Se você faz um regime, acostuma-se com o novo corpo”, afirma Antonio Salvador, vice-presidente de RH e sustentabilidade do Grupo Pão de Açúcar. Em épocas de vagas magras, o GPA trabalhou para elevar a produtividade — e conseguiu aumentar em 40% seu índice por pessoa. “Esse tipo de coisa não volta atrás.” O GPA já teve 170 000 funcionários. Hoje está com 140 000.

Apesar da cautela com que muitos especialistas veem a recuperação da economia, a maioria está mais otimista do que estava um ano atrás. “Muita gente acredita que este é um período de retomada, o que pode significar que, de fato, seja, porque a economia funciona por expectativa. Se a confiança aumenta, a economia acelera”, diz Roberto Aylmer, professor na Fundação Dom Cabral e consultor de desenvolvimento humano. O aquecimento pode significar a necessidade de aumentar salários e trabalhar a retenção. Para Antonio Salvador, isso deve ser uma preocupação constante, inclusive em tempos de crise. “Nunca paramos de falar em desenvolvimento de gente”, diz o executivo do GPA. Como resultado do trabalho contínuo, o engajamento no grupo varejista aumentou de 54%, em 2013, para 67%, em 2017. “Quando você investe em retenção e em redução de turnover, precisa investir em tudo. Foi o que fizemos”, afirma. Em 2014, a rotatividade de pessoal no GPA era de 47%. Em 2017, o índice caiu para 26%.

Mesmo com a melhora gradual da economia, há outros aspectos que deverão entrar na pauta dos executivos em 2018. “Não há como evitar que algumas empresas deixem de existir”, diz Dulinsky, do Fórum Econômico Mundial. Para ele, o que o Estado precisa fazer é garantir que os funcionários tenham uma rede de proteção e possam ser recapacitados para realizar outros trabalhos. “Isso se reflete na atuação do executivo de RH, que precisa fazer com que a empresa assuma o papel de confiança para os trabalhadores.” Seja como for, estamos diante de um impasse econômico: por um lado, há uma concentração inexorável de renda, que não deverá se reverter no médio prazo; por outro, a sociedade já não aceita mais a exclusão. “Existe uma pressão pela busca de modelos econômicos capazes de diminuir esse abismo social. Essa vai ser a principal questão da pauta econômica nos próximos anos”, afirma Dulinsky.

AS INCERTEZAS DA POLÍTICA

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Não é exagero dizer que a eleição presidencial de 2018 será uma das mais imprevisíveis das últimas décadas. A começar pelo fato de que, agora, as empresas estão proibidas de fazer doações às campanhas eleitorais. A pulverização entre esquerda e direita e as manchas na reputação dos principais partidos, envolvidos em escândalos de corrupção, deixaram o pleito com muitas candidaturas indefinidas. “Embora haja eleição neste ano, nosso time de jogadores foi desclassificado. Até agora, todos os candidatos possíveis foram pegos no doping político”, diz Roberto Aylmer, da Fundação Dom Cabral. “Talvez surja um nome para mudar o que está acontecendo, mas, até agora, não há alguém novo com experiência política capaz de dar esperança de mudança.”

Com isso, o que pode acontecer é que, em vez de escolher uma pessoa ruim, tenhamos de escolher uma ainda pior. “Estamos céticos e cínicos com relação a uma mudança real”, diz o filósofo e economista Joel Pinheiro da Fonseca. “Nosso Judiciário está corrompido, estamos mergulhados em fake news e a sensação é que acabou a esperança. Todos foram para a rua, por um grande evento, que acabou em nada. Não vemos alternativas, não vemos sentido em protestar mais.” O desencanto, muitas vezes, leva à letargia. “Você vai se acostumando com notícias inaceitáveis. É impossível ficar em estado de alerta por tanto tempo”, afirma Aylmer.

O resultado disso é o aumento da volatilidade. “Esse ambiente político influencia a variação do dólar e, como a maioria dos componentes para nossos produtos vem do exterior, isso tem um impacto nos negócios”, diz Eduardo Ricotta, presidente da Ericsson. Nas últimas eleições, embora houvesse muita incerteza, havia também possibilidades. “Agora, pela primeira vez, vivemos um momento de total incerteza, inclusive de candidatos”, afirma Joel Pinheiro. Para ele, o caminho ideal para a estabilidade do país seria Lula concorrer e perder nas urnas. “Esse seria um resultado que todos aceitariam. Tirar de Lula a possibilidade de participar do pleito serve de pretexto para um dos lados dizer que as eleições são ilegítimas”, diz. “Se, por outro lado, ele concorrer e ganhar a eleição, seria chamado de ilegítimo pelo outro lado da população.”

Qualquer que seja o resultado, é ingênuo esperar por uma estabilidade no curto prazo. Dulinsky, do Fórum Econômico Mundial, estima que serão necessários mais dois anos, pelo menos, depois da posse do próximo presidente. Já Ana Lucia Caltabiano, vice-presidente de RH para a América Latina da GE, acredita que o resultado das eleições vai definir muito mais do que os rumos econômicos do Brasil — pode determinar também o nível de competitividade do país. Caberá ao RH estar preparado para mudanças cada vez mais constantes — e para embates mais acalorados, inclusive nas redes sociais. Essas ferramentas permitem o rápido compartilhamento de informações e, ao mesmo tempo, facilitam a polarização. “Uma das precauções que as empresas deveriam tomar é reforçar o código de conduta e informar os funcionários sobre o que é permitido ou não até nas redes pessoais, para evitar problemas que manchem a reputação da companhia como um todo”, diz Alexandre Marins, diretor de desenvolvimento de talentos da consultoria LHH América Latina.

OS AVANÇOS DA TECNOLOGIA 

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Em 2017, a inteligência artificial passou a rondar as reuniões de executivos de empresas com mais frequência. Neste ano, ela passará a ser aplicada nos negócios mais intensamente, seja como uma vantagem competitiva, seja para detectar possíveis ameaças externas. Um aspecto preocupante desse cenário é que: 2018 deverá ser o ano que marcará os primeiros ciberataques com o uso da inteligência artificial, de acordo com uma previsão da empresa de segurança digital Avast, que apontou também um aumento de ataque em massa nos serviços que usam blockchain, tecnologia que garante a segurança em operações realizadas com criptomoedas como o bitcoin.

Diante do que aconteceu no ano passado com o WannaCry, vírus que causou estragos ao invadir milhares de sistemas corporativos e roubar dados, o foco de muitas empresas, principalmente as de tecnologia, é a segurança. “Esse é um pilar fundamental da companhia, nossa prioridade número 1”, diz Cristina Palmaka, presidente da SAP, que vende software de gestão empresarial. Outra prioridade da executiva é acompanhar as inovações. “É preciso ficar atento a novos modelos de negócios e à capacidade de reinvenção. Antes, vendíamos produtos e licenças. Agora, oferecemos serviços e soluções cada vez mais personalizados.”

Nas fábricas, a inteligência artificial já está presente de forma bem avançada. “Temos hoje um robô que tem a precisão de um fio de cabelo na fabricação dos aviões. E estamos capacitando os trabalhadores para dominar essa máquina”, diz Ricardo Santos, da área de comunicação corporativa da Embraer.

Apesar das discussões sobre os efeitos colaterais do avanço da automação no mercado de trabalho, nem todos temem essa ameaça. “Os robôs não vão acabar com os operários de fábrica. Em todos os lugares que usam tecnologia para aumentar a produtividade, as pessoas ganham mais e são gerados novos empregos”, diz Ana Lucia, da GE.

Companhias do setor de serviços também tentam acompanhar essa evolução. O grupo de educação Kroton criou uma vice-presidência de tecnologia e transformação digital. “Deixamos neste ano de trabalhar no organograma normal e passamos a atuar em células. Vamos abandonar a missão e a visão e passar a atuar com propósito e manifesto”, diz Fabio Sampaio de Lacerda, diretor de recursos humanos da Kroton. A mudança na forma de pensar dentro da companhia também se refletiu numa reforma no edifício onde fica a empresa, na Avenida Paulista. Com um ambiente mais despojado, o espaço, inaugurado em fevereiro, traz elementos digitais sem armários nem gaveteiros, com uma cafeteria moderna e um espaço para silêncio.

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Este também será o ano que a tecnologia chegará, de vez, ao RH. No processo de recrutamento, por exemplo, ao buscar determinado profissional, há softwares que analisam as habilidades relacionadas com aquele cargo. Mas não somente isso. “Sabemos que pessoas que não se candidataram a nenhuma vaga nos últimos seis meses têm menos tendência a tentar uma nova vaga. Por outro lado, profissionais que estão há cinco anos numa empresa sem promoção são mais propensas a aceitar uma oferta”, diz Milton Beck, diretor regional para a América Latina do LinkedIn.

No GPA, com a adoção de novas tecnologias, o funcionário poderá acessar no celular as informações de seu holerite. A empresa também está investindo no uso da inteligência artificial e de robôs na área de gestão de pessoas. “No ano passado, tínhamos dez funcionários responsáveis por inserir e retirar empregados do plano de saúde. Era uma operação de guerra”, diz Salvador. “Hoje isso é feito por um robô.” Processos que duravam duas semanas agora são executados em horas. Para o executivo, o desafio do RH será descobrir o que fazer com os profissionais que perderam a função.

OS IMPACTOS SOCIAIS

Depois da enxurrada de denúncias de assédio e abuso sexual em Hollywood, mulheres de vários países vieram a público para exigir respeito. Mais do que isso: elas querem um tratamento igualitário com os homens — o que inclui, claro, a remuneração. Há muito o que melhorar nesse aspecto. No Brasil, segundo um levantamento da consultoria Catho, os homens ganham mais do que as mulheres em 25 das 28 áreas analisadas — em alguns cargos, a diferença é superior a 60%. “A questão não está relacionada ao percentual feminino nas empresas, mas à igualdade na liderança e no salário. Esse foi um tema recorrente no ano passado e continuará a ser em 2018”, afirma Milton Beck, do LinkedIn. Ele diz que não dá para esperar que a equalização dos holerites aconteça de maneira natural. “Isso levaria 50 anos. É importante ter ações específicas que foquem o problema.”

Há quem diga que a diversidade deveria ser trabalhada em níveis mais profundos — na inclusão e, principalmente, no pertencimento. “Não adianta ter funcionários diversos se essas pessoas não se sentem parte da companhia”, diz Beck. “E isso começa com o apoio da liderança, com o alinhamento aos valores e com a vivência.” De acordo com um estudo global do LinkedIn, 51% das empresas pesquisadas têm como foco a diversidade, 52% a inclusão e 57% o pertencimento. O assunto não pode ser encarado de forma superficial, como ainda ocorre com frequência. “Não é mais possível que as companhias adotem essa política apenas porque é o moralmente correto. Uma empresa que represente melhor a sociedade aumenta sua chance de desenvolver produtos e serviços mais adequados a seu público”, afirma Beck.

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Em outras palavras, um programa de diversidade não deve servir apenas para cumprir um papel social — ele tem uma função estratégica. “Sem um grupo diverso, não se consegue inovação. Quem faz a diferença dentro de uma companhia são os talentos”, diz Cristina Palmaka, presidente da SAP. No Brasil, a multinacional criou um programa pioneiro no setor de tecnologia para a contratação de autistas — atualmente, são dez funcionários com esse perfil. “Fizemos um trabalho desde o recrutamento e a entrevista até a incorporação desses profissionais”, afirma Cristina.

Outro tema que deverá continuar em alta em 2018 é o do combate à corrupção. Para os empregadores, a regra básica é educar e punir severamente. “O papel social da empresa passa por educar seus funcionários sobre questões como respeito, limites e ética nos relacionamentos interpessoais”, afirma Antonio Carlos Hencsey, líder de prática de ética e compliance da consultoria global Protiviti. Uma vez alinhados os valores com os funcionários e reforçada a comunicação sobre as diretrizes éticas, os abusos devem ser punidos, sem exceção.

A atuação justa da organização passa também por oferecer meios de denunciar anonimamente as irregularidades e de conduzir com profissionalismo as investigações para apurar os fatos. “Na GE, o sistema de compliance é bem abrangente. Todo mundo que vê uma coisa errada tem responsabilidade. Você não precisa ter provas. Se viu algo que o preocupou e quer relatar o fato, vamos analisar”, afirma Ana Lucia.

Para ela, há outras questões prementes na pauta dos executivos de RH. “Este é um ano para harmonizar os movimentos globais e estratégicos”, diz. Mais do que nunca, treinar o gestor para ser líder de pessoas será primordial em 2018. “Não há mais espaço para o chefe que atua pelo medo. A nova geração no mercado de trabalho não permite mais isso”, diz Ana.

Nunca foi tão importante a liderança neste ambiente em que vivemos. Lidar com jovens, com profissionais mais maduros e com pressões da sociedade exige também uma atuação mais forte do executivo de recursos humanos. 

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