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Estas empresas ajudam os funcionários a eliminarem as dívidas

Para 59% dos trabalhadores, as dívidas são a principal fonte de estresse. Diante desse cenário, companhias ajudam os funcionários a equilibrar as contas

Por Natalia Gómez
Atualizado em 15 dez 2020, 08h48 - Publicado em 11 jun 2020, 06h00

Contas atrasadas e orçamento que não fecha no final do mês são motivos de preocupação para muita gente: 61 milhões de brasileiros começaram 2020 perdendo o sono por causa das dívidas, de acordo com dados da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do SPC Brasil — um aumento de 4% em relação ao mesmo período do ano anterior. E perder o sono não é figura de linguagem. Segundo um estudo divulgado pelo Instituto Locomotiva, especializado em pesquisas sobre a classe C, em 2019, cerca de 55 milhões de pessoas disseram não conseguir descansar o suficiente quando estão no vermelho.

A tensão causada pelo endividamento gera uma série de consequências emocionais e físicas, como dores musculares, falta de atenção e aumento da ansiedade. E não é novidade para as empresas que funcionários inadimplentes são menos produtivos e correm o risco de cometer mais erros. “Além de faltar, profissionais nessa situação apresentam a síndrome do ‘presenteísmo’: estão fisicamente no trabalho, mas com a cabeça em outro lugar”, afirma Ana Maria Rossi, presidente do International Stress Management Association no Brasil (Isma-BR). “Outro efeito colateral são os problemas de relacionamento entre as equipes, pois os colegas passam a hostilizar esses trabalhadores que estão rendendo menos, o que piora a situação”, completa Ana Maria.

 

A instituição estima que os males do estresse no ambiente corporativo custaram o equivalente a 3,5% do produto interno bruto (PIB) anual do país em 2018, que foi de 6,9 trilhões de reais. E as dívidas podem ter relação com esse dado: o estudo Employee Wellness Survey, de 2019, feito pela consultoria e auditoria PwC, apontou que para 59% dos trabalhadores as finanças pessoais são a principal fonte de suas preocupações, superando o emprego (15%), relacionamentos (10%) e saúde (4%).

O problema fica ainda mais grave porque, para esquecer que estão no negativo, as pessoas lançam mão de comportamentos altamente prejudiciais para a saúde. Segundo um estudo realizado pelo Isma-Br em 2018, 56% dos entrevistados usavam bebidas alcoólicas para evitar pensar sobre as dívidas; 53% tomavam medicamentos e drogas para fugir do problema; e 35% descontavam a tensão em junkie food. “O estresse relacionado à saúde financeira afeta todas as idades e níveis da força de trabalho. E a dimensão financeira é tão fundamental quanto o bem-estar físico ou emocional”, afirma Felipe Bruno, líder da área de previdência da consultoria Mercer Brasil.

Tecnologia a serviço do bolso

Não é de hoje que as companhias desenham estratégias para auxiliar os funcionários a ficar no azul. Uma das mais tradicionais é a criação de cooperativas de empregados, que oferecem empréstimos com juros mais baixos que os bancos. Outras contam com centrais de atendimento para aconselhamento financeiro. Embora sejam úteis, os números citados no início da reportagem deixam claro que só essas iniciativas não evitam a inadimplência dos profissionais.

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Algumas empresas, como a startup de conserto de celulares Pitzi, encontraram na tecnologia uma solução para os problemas financeiros do time. “Nossa equipe é composta 70% de pessoas da área de atendimento, muitos no primeiro ou segundo emprego, com salários iniciais. Por meio de conversas, os empregados manifestaram que gostariam de receber o pagamento em datas diferentes para ajudar a fechar as contas”, afirma Lídia Gordijo, diretora de recursos humanos da Pitzi.

Para atender à demanda, a companhia começou a utilizar uma plataforma que permite o adiantamento de até 80% do salário dos funcionários, com base nos dias trabalhados. Os empregados podem sacar os valores em qualquer data do mês, mediante uma taxa de 9 reais por retirada. As antecipações começaram em outubro de 2019 e, até o final de janeiro de 2020, metade do quadro de 140 pessoas já havia usado o recurso. Em média, as antecipações giram em torno de 400 reais e costumam ocorrer por volta do dia 15. Além de disponibilizar o serviço, a Pitzi passou a efetuar o pagamento dos salários no primeiro dia do mês, em vez do quinto dia útil, como ocorria anteriormente.

Segundo Lídia, as vantagens de adiantar o salário por meio de uma plataforma digital são confidencialidade e autonomia. “Esse é um tema delicado e muitos não se sentem confortáveis em falar no assunto com seus colegas ou líderes”, afirma. A companhia também disponibilizou o serviço de empréstimo consignado, com desconto em folha, por meio de uma parceria com uma startup de crédito. “Doze funcionários já rea­lizaram empréstimos nesse modelo. Foi uma forma de auxiliar aqueles que necessitavam mais”, afirma a executiva. Para 2020, a Pitzi está preparando cursos e palestras sobre finanças pessoais.

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Embora não tenha notado diminuição no absentismo, a companhia afirma que houve um impacto na produtividade da equipe. “Os atendimentos telefônicos ficaram mais ágeis. Isso acontece porque, quando estão estressadas, as pessoas pausam mais o trabalho para dar uma espairecida”, afirma a RH. A qualidade do atendimento do time também melhorou: o índice de clientes que retornavam tentando resolver o mesmo problema pela segunda vez caiu de 24% para 12%. “Sem se preocupar com as contas, é possível criar mais empatia com os consumidores e entender suas questões”, diz Lídia. Além disso, quem está com o bolso tranquilo se concentra mais nas tarefas profissionais. Segundo o estudo da PwC, quase metade das pessoas que têm problemas financeiros (47%) admite que se distrai no trabalho por causa das dívidas.

Benefício valorizado

Ajudar nas finanças pessoais dos empregados pode gerar, ainda, uma vantagem competitiva para as empresas: a manutenção de talentos. Isso porque, de acordo com a PwC, 78% dos profissionais endividados ficariam interessados em ir trabalhar em uma companhia que se preocupasse com as finanças pessoais dos empregados. Em contrapartida, apenas 5% das organizações possuem práticas nesse sentido, segundo levantamento da empresa de seguros Metlife.

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A Novartis, farmacêutica que emprega 2 200 pessoas no Brasil, é uma dessas exceções. Desde 1988 a companhia oferece um plano de previdência privada para os funcionários. Atualmente, a Novartis conta com 1 700 participantes ativos — equivalente a mais de 80% do quadro de funcionários — e quase 600 aposentados. Para cada real que o trabalhador aplica no fundo de pensão, a companhia contribui com outro.

Mas em 2017 a multinacional percebeu que só isso não bastava para ajudar os empregados a organizar o bolso. “Eles precisavam de ajuda para lidar com as finanças do dia a dia, pois, sem isso, seria impossível olhar para o futuro”, afirma Renata Desidério, diretora executiva da Previ Novartis, sociedade de previdência privada da companhia. “Eles pediam dicas e orientações de outros assuntos, por isso criamos um programa voltado para educação financeira de forma ampla”, diz a executiva.

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Assim surgiu o Futuro Ativo, um programa que reúne palestras e workshops com consultores e gestores de investimentos e ensina os empregados a fazer controle de gastos mensais, economizar e investir. Ao todo, cerca de dez eventos e campanhas educativas sobre educação financeira foram realizados desde a inauguração da iniciativa.

A equipe do projeto de bem-estar financeiro da Novartis, que possui quatro pessoas, tem recebido retornos positivos dos funcionários. “Eles relatam que a melhora na questão financeira reflete também em seu psicológico, na vida social e até mesmo na condição física”, diz Renata. Por essa razão, a farmacêutica já planeja outras ações, como a ampliação do plano de previdência para dependentes dos empregados e novas iniciativas educacionais. “Benefícios como esses também aumentam o nível de lealdade à companhia”, completa Renata.

Combater o endividamento dos funcionários também tem reflexos econômicos. Isso porque o consumo das famílias é importante para o PIB do Brasil. E uma população altamente endividada não tem renda para consumir, o que impacta diretamente o lucro (e a produção) das companhias. Embora à primeira vista as dívidas pareçam apenas um problema pessoal, ajudar os empregados a entrar no azul é bom para todo mundo — inclusive para o país.

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