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Wall Street derrete, mas Ibovespa segura a bronca

S&P 500 cai 2,57%, e força a sexta queda consecutiva do Ibov. Mas o tombo aqui foi bem menor: 0,50%.  

Por Juliana Américo, Alexandre Versignassi
27 jan 2021, 19h45

O Ibovespa fechou o seu sexto dia consecutivo de queda – o tropeço desta vez foi de 0,50%, a 115.882 pontos. Nos últimos pregões, as maiores preocupações do mercado eram o avanço da Covid-19 no país e o risco fiscal (com a eventual chegada de novos gastos públicos, que podem colocar a dívida interna bem ao norte dos 100% do PIB). Não que a pandemia tenha freado, ou a novela da volta do auxílio emergencial tenha expectativa de um final feliz para o mercado, que não gostaria de ver mais esse gasto público. Mas o culpado do dia foi Wall Street

O mundo estava de olho no Federal Reserve. O Banco Central dos EUA anunciou que vai manter a taxa básica de juros entre 0% e 0,25% e o programa de compras de ativos (como títulos de dívida de empresas) em US$ 120 bilhões por mês. 

A decisão não surpreendeu, porque o Fed já tinha indicado que os juros zerados e o programa de injeção de dólares teriam um prazo de validade longo, mas também não agradou. O mercado queria mais dinheiro. 

Jerome Powell, o presidente do Fed, também ressaltou que o futuro da economia ainda é incerto, e depende completamente dos programas de vacinação (que não vão bem nos EUA nem na maior parte do mundo, por falta de doses). Não que a fala tenha sido assim um choque, mas, quando o presidente do Fed mostra pessimismo, o mercado não solta foguete. 

Nisso, o S&P 500 caiu 2,57%. E até o Nasdaq, que está ansioso com o balanço das big techs, afundou 2,61%. Ou seja: a boa notícia é que o Ibovespa mostrou alguma resiliência, e não acompanhou o desabamento americano na íntegra.

A insegurança causada pela lentidão nas campanhas de vacinação está de fato tomando conta dos ânimos globais. Na Espanha, por exemplo, o governo está suspendendo a vacinação da primeira dose em algumas cidades – e isso inclui a capital Madri – por causa da falta do imunizante.

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Já Portugal decidiu suspender os voos entre o país e o Brasil a partir  de sexta-feira (29). O governo português está preocupado com a nova variante da doença, que tem se espalhado por aqui. E não é para menos: os hospitais locais já enfrentam falta de leitos e escassez de oxigênio – está sendo discutida até a transferência de pacientes para outros países. Resultado: o índice Stoxx 600 Europe fechou em queda de 1,11%, para 403 pontos.

As empresas brasileiras também estão sofrendo com isso. O minério de ferro teve alta de 0,92% e isso já seria o suficiente para alavancar os papéis de mineradoras e siderúrgicas. 

Mas os casos de Covid-19 estão aumentando na China, e o mercado teme que as cidades de lá passem por lockdowns. Isso pode afetar a demanda por aço e prejudicar as exportações brasileiras. A Vale e a Usiminas foram as que mais caíram: 2,78% e 2,66%, respectivamente.

O setor de papel e celulose também foi afetado pelos temores em relação ao futuro das exportações. A Suzano registrou queda de 5,97%, seguida pela Klabin (-3,75%). 

Quem evitou o Ibov de afundar ainda mais, foi o petróleo. O tipo Brent, que é referência internacional, fechou em baixa de 0,20%, enquanto o WTI (referência nos EUA) subiu 0,46%. A Petro seguiu o movimento da matéria-prima americana: a Petrobras Distribuidora teve alta de 2,14%. Já as ações ordinárias e preferenciais da Petrobras se valorizaram em 1,41% e 1,38%, respectivamente. 

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Os bancos também ajudaram, depois de recuperar as perdas do início do dia. O Banco do Brasil liderou as altas do segmento, subindo 2,44%. 

Mas quem ganhou mesmo o selo de destaque do dia foi a Cielo. A empresa de meios de pagamentos inaugurou a temporada e o resultado agradou os investidores: lucro líquido de R$ 298,2 milhões no quarto trimestre, o que representa uma alta de 34,7% em relação ao mesmo período de 2019. Os papéis da companhia dispararam 13,35%. 

Balanços na gringa

Abriu a temporada de balanços das gigantes americanas. Na terça-feira (26), depois do fim do pregão, a Microsoft divulgou que teve lucro líquido de US$ 15,4 milhões no quarto trimestre – alta de 32%. Por conta disso, a empresa fechou hoje no azul (0,25%), apesar do tombo da bolsa onde a companhia de Satya Nadella está listada, a Nasdaq.

Apple, Tesla e Facebook divulgaram os seus resultados nesta quarta (27), depois do fechamento das bolsas. O FB teve lucro líquido de US$ 11,22 bilhões. O resultado ficou acima das expectativas dos analistas, e reverteu o movimento de queda nas ações – elas fecharam o dia em baixa de 3,51%, e passaram para o terreno positivo (0,25%) no after market (o mini-pregão que rola depois do oficial). 

A Tesla não teve a mesma sorte. Reportou um lucro de US$ 270 milhões, abaixo do que o mercado esperava. E suas ações, tão valorizadas nos últimos tempos, engataram uma queda de 4,50% no after.    

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Já a Apple fez história – de novo. Lucrou US$ 28,76 bilhões – bem acima da expectativa do mercado, que era de US$ 23 bilhões. Mais. Pela primeira vez, apresentou um faturamento trimestral acima de US$ 100 bilhões. A expectativa, aliás, era de US$ 103 bilhões nesse quesito. Faturaram US$ 111 bi. Nessa toada, logo logo ela será a primeira empresa a dar meio trilhão de dólares de lucro em 12 meses. Nisso, ela também reverteu as perdas do dia. Fechou em -0,77%. No after, negociava em alta de 0,45%. 

Ou seja: um dia tétrico para as bolsas terminou com uma luz no fim do túnel. Que seja assim com as vacinas também.   

    

Maiores altas

Cielo: +13,35%

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Azul: +5,49%

Eztec: +4,04%

Energisa: +3,92%

Gol: +3,74%

Maiores baixas

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Suzano: -5,89%

TOTVS: -4,55%

Notre Dame: -3,78%

Klabin: -3,75%

Hapvida: -3,69%

Dólar: +1,51%, cotado a R$ 5,40

Petróleo

Brent (referência internacional): -0,20%, cotado a US$ 55,35 o barril

WTI (referência nos EUA): +0,46%, cotado a US$ 52,85 o barril

Minério de ferro: +0,92%, cotado a US$ 166,69 por tonelada em Qingdao (China)

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