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Só dá ela, a inflação

Até o Nobel Paul Krugman agora tem dúvidas se a alta de preços é transitória ou veio para ficar.

Por Guilherme Jacques, Tássia Kastner
16 nov 2021, 08h44

Só se fala nela, a inflação. Era para ser um problema transitório, na avaliação inicial dos economistas. A dúvida que persiste semana após semana é quão permanente ela se tornou.

Nesta terça, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que a alta de preços piorou em todos os aspectos, e a disparada de preços de combustíveis é a pior em 20 anos. “É importante ser realista e entender o quão disseminada está a inflação”, disse em um evento realizado nesta manhã em Portugal.

O BC brasileiro já começou a subir os juros para enxugar um pouco do excesso de dinheiro que circula pela economia desde o início da crise causada pela Covid. Nos EUA, os Fed (o BC deles) começou o desmame reduzindo o ritmo de compra de títulos, um instrumento que vai além de cortar ou subir juros para deixar o dinheiro mais caro ou mais barato: injeta dinheiro novo instantaneamente.

O lance é que o Fed mal começou a se mexer e, também por lá, o mercado financeiro também acha que é pouco. Será preciso um aspirador mais potente de dinheiro para evitar que a inflação continue subindo.

Só que não há uma resposta fácil. Inflação se cria quando há dinheiro demais no mundo. Mas também quando algo fundamental para a engrenagem girar fica escasso: é o caso do petróleo, a que Campos Neto se referiu hoje. 

Os preços da commodity começaram esta terça em alta depois que a Agência Internacional do Petróleo previu alta da demanda pela matéria-prima até o fim deste ano. A esperança do mercado, por outro lado, mora na quarta onda de Covid, que começa a assolar a Europa. A possibilidade de novas medidas de restrição de circulação colocaria um freio na alta de preços, isso enquanto os países exportadores mantém a oferta restrita.

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É um cenário tão atípico que o Nobel de Economia Paul Krugman decidiu rever suas expectativas. Nessa sequência de tuítes, ele tentou provar seu ponto: o dinheiro dos BCs não foi o bastante para turbinar a demanda, essa que causaria a inflação. Para ele, o X da questão ainda é a disrupção da oferta de produtos. O que não significa, ele arremata, que a inflação continua sendo transitória, como ele apostava no começo.

Na dúvida, investidores tateiam. Os futuros americanos hoje operam em leve queda, em um dia marcado pelo encontro virtual entre Joe Biden e Xi Jinping — sem nenhum acordo formal fechado. Aqui, o foco continua em Brasília e a tramitação da PEC dos Precatórios no Senado.

Boa semana!

Humorômetro - dia com tendência de baixa

Futuros S&P 500: -0,08%

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Futuros Nasdaq: -0,08%

Futuros Dow:-0,03%

*às 8h32

Europa

Índice europeu (EuroStoxx 50): 0,26%

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Bolsa de Londres (FTSE 100): 0,13%

Bolsa de Frankfurt (Dax): 0,28%

Bolsa de Paris (CAC): 0,36%

*às 8h33

Fechamento na Ásia

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Índice chinês CSI 300 (Xangai e Shenzhen): 0,02%

Bolsa de Tóquio (Nikkei): 0,11%

Hong Kong (Hang Seng): 1,27%

Commodities

Brent: 0,63%, a US$ 82,57*

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Minério de ferro: 1,11%, a US$ 90,04, no porto de Qingdao na China

*às 8h35

Agenda

9h – O Banco Central divulga o IBC-Br de setembro. Ele é um indicador da atividade econômica no país.

10h30 – Os EUA divulgam os números das vendas no varejo em outubro. A expectativa é que elas sigam aquecidas mesmo com a inflação.

11h15 – O Fed (banco central americano) divulga a produção industrial de outubro.

market facts

Longe das criptomoedas

O CFO do Twitter, Ned Segal, disse em entrevista nesta segunda que “não faz sentido agora” investir em criptomoedas, como o bitcoin. Segundo ele, a rede do passarinho azul prefere ativos menos voláteis e, consequentemente, de menor risco. Movimento contrário, por exemplo, ao da Tesla – a fabricante de carros elétricos de Elon Musk, assim como o dono, investe em criptos. Além da volatilidade, o que espanta companhias é a falta de regulamentação contábil, tanto que quem entra nessa tem instalado seus próprios conselhos para definir regras e padrões.

Longe do pleno emprego

Com desemprego em 13,2% no segundo trimestre deste ano, o Brasil ainda está longe do chamado pleno emprego. Para atingi-lo, a taxa deveria ficar entre 8% e 10%. A última vez que isso aconteceu foi entre 2012 e 2014, antes de a recessão assombrar o país. E a próxima vez que deve acontecer, segundo um estudo da FGV, é talvez em 2026. Para isso, no entanto, o PIB teria que crescer 2,2% de 2022 em diante, mas não é bem isso que os economistas estão prevendo. Para o próximo ano, a previsão é de estabilidade ou recessão. Juros altos e  incerteza política tampouco nos ajudam.

Vale a pena ler:

O sucesso e o fracasso da pandemia

Em 2022, é provável que a pandemia tenha desaparecido. Mas a covid-19 seguirá como uma doença endêmica, de surtos locais e sazonais, como a gripe. E deixará um legado, de fracasso e sucesso. Sucesso porque, em menos de dois anos, mais de 1,5 bilhão de vacinas já estavam sendo produzidas no mundo, as formas de tratamento com medicamentos foram aprimoradas e a mortalidade reduzida. E fracasso porque o custo foi muito alto – a The Economist estima que o número de mortes durante a pandemia foi três vezes maior que o normal para o período. Entre essas duas pontas, sucesso e fracasso, a desigualdade se intensificou. Vacinas estão sendo acumuladas por países ricos, enquanto os mais pobres seguem expostos ao que logo será mais uma doença. Leia aqui (em inglês).

A nova onda das divisões

Nos últimos tempos, grandes conglomerados entraram na onda da divisão de seus negócios. Johnsons & Johnsons, GE, Dell… tem para todos os gostos. E tem um motivo também: com tudo misturado, é difícil para os investidores avaliarem potenciais e riscos de cada negócio. Ou seja, fragmentadas as operações podem se tornar mais atrativas. É possível entender quais braços daquele conglomerado são mais lucrativos e quais demandam mais cuidado. A CNN Brasil explica esse movimento adotado por várias empresas gringas aqui.  

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Eletrobras e Gafisa divulgam seus resultados após o fechamento do mercado.

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