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Petróleo tomba quase 10%. Antes de comemorar, olhe a alta do dólar

Moeda americana subiu a R$ 5,39. E o Tesouro IPCA+ voltou a pagar generosos 6% + inflação.

Por Tássia Kastner
5 jul 2022, 18h14

Petróleo tombou 9,5% nesta terça-feira e caiu para o menor patamar em dois meses. Antes de comemorar que a Petrobras poderá baixar os preços da gasolina, olhe para o dólar. A moeda americana escalou a quase R$ 5,40, tão cara quanto estava no começo do ano.

Por que isso aconteceu? Investidores acordaram de novo com medo dos efeitos de uma recessão global e decidiram fugir de (quase) tudo que seja commodity. Natural. A demanda por petróleo depende de que você tenha dinheiro para sair de férias, ou de que sobre dinheiro para comprar uma geladeira nova na Magazine Luiza (e pagar pelo frete). 

O mesmo vale para outros produtos, como cobre, algodão e também soja, milho e outros produtos agro. Essa turma toda caiu coisa de 4% nesta terça.

Tem uma segunda explicação, segundo o The Wall Street Journal. Os americanos estão começando a sair para as férias de verão. Isso significa que tem menos gente lá por Wall Street disposta a negociar commodities, o que deixa os preços mais voláteis (o que vale também para Chicago, para a bolsa de soja, milho e trigo e para os mercados europeus, onde o Brent é negociado).

Na dúvida, melhor vender. Não ajudou, nos ânimos do dia, a previsão do Citigroup de que o petróleo poderá terminar o ano a US$ 65 o barril. A última vez que se vendeu suco de dinossauro por esse preço foi em agosto do ano passado. Naquela época, o medo era de uma crise na China capaz de ceifar a demanda pelo combustível. O Citi foi ainda mais apocalíptico e previu uma queda a US$ 45 no fim do próximo ano, caso a recessão se confirme e os países não reduzam a produção.

O problema é o seguinte: até ontem, os investidores estavam em pânico e implorando que os países da Opep+ (o cartel dos exportadores de petróleo) elevassem a produção, um jeito de segurar a alta cavalar de preços. E ouvindo, claro, um sonoro “não”. 

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A alta do petróleo é considerada uma das causadoras da inflação global. E o jeito de controlá-la na marra é subir juros. Os juros em alta são o que ameaçam colocar o mundo em recessão. Quando? Ninguém sabe.

Tanto que ninguém teria coragem de escrever na pedra uma previsão como essa do Citi. Tampouco a feita pelo JP Morgan na segunda, de que os preços poderiam saltar a US$ 380 caso a Rússia decida brincar de guerra econômica e desabastecer o resto do mundo. Por enquanto, ela tem é inundado o globo com a sua produção de petróleo. Vende a aliados como Turquia, Índia e China, com desconto. Esses aliados redistribuem para o mundo, e todo mundo finge que o embargo está mais forte do que nunca.

Uma queda de quase 10% no petróleo não acontecia desde 9 de março. Aí deu a lógica. Petrobras e as outras petros do Ibovespa lideraram as maiores quedas do dia. As ações preferenciais da Petro (PETR4) caíram 3,74%, enquanto as PETR3, 3,96%. E elas até que não ficaram tão mal quando comparadas com a PetroRio e a 3R (confira abaixo, nas maiores quedas do dia).

Quando o petróleo cai desse jeito, a receita dessas empresas tende a encolher. E o brasileiro, que agora discute a política de preços de combustíveis da estatal na mesa de bar, faz festa.

Só que essa comemoração teve vida curta. O dólar subiu para perto de R$ 5,40 (R$ 5,389). Também culpa do medo de recessão, que faz investidores buscarem conforto na moeda americana, considerada o ativo mais seguro que existe. Se o mundo colapsar, você não quer ações, mas dinheiro na mão (ou, no máximo, emprestar dinheiro pro Biden).

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A Vale escapou da sangria porque o minério de ferro subiu na China antes de o mundo acordar com uma ressaca de commodities.

Por sinal, as bolsas americanas iam pelo mesmo caminho de desastre durante boa parte do dia. Até que uma chave virou e começou a içar as techs americanas do buraco. Resultado: Nasdaq e S&P 500 conseguiram fechar no positivo. E nem adianta procurar uma explicação lógica para isso.

Também faltou lógica para explicar a alta das ações de Magalu, Via, Americanas e Petz. As varejistas são as líderes de perdas da bolsa desde o ano passado, resultado do combo de alta da inflação e dos juros (de novo, que reduz as vendas). O massacre foi tão grande que elas estão quase virando penny stocks (quando cada papel vale menos de R$ 1). Valendo cerca de R$ 2 (caso de Magalu e Via), qualquer variação de centavos causa saldos de 10%.

Até porque, do lado dos juros, as notícias continuam péssimas para quem depende de crédito (mas ótimas para quem tem dinheiro para emprestar ao governo). Esse risco de recessão combinado com a PEC Kamikaze no Brasil fez as expectativas para as taxas de juros subirem de novo. Tanto que o Tesouro IPCA+, o melhor amigo do investidor de longo prazo, fechou o dia com uma taxa de 6% mais a variação da inflação. Fica a dica.

Maiores altas

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Magazine Luiza (MGLU3): 12,68%

Via (VIIA3): 12,02%

Americanas (AMER3): 9,33%

Petz (PETZ3): 8,33%

BRF (BRFS3): 8,21%

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Maiores baixas

3R Petroleum (RRRP3): -7,69%

PetroRio (PRIO3): -7,20%

Petrobras (PETR3): -3,96%

Petrobras (PETR4): -3,74%

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Gol (GOLL4): -3,22%

Ibovespa: -0,32%, a 98.295 pontos

Nova York

Dow Jones: -0,42%, a 30.967,45 pontos

S&P 500: 0,16%, a 3.831,59 pontos

Nasdaq: 1,75%, a 11.322,24 pontos

Dólar: 1,19%, a R$ 5,389

Petróleo

Brent: -9,45%, a US$ 102,77

WTI: -8,23%, a US$ 99,50

Minério de ferro: 2,81%, a US$ 112,98 a tonelada no porto de Qingdao

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