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O curioso caso da BRF e da Marfrig

Dona da Sadia diz que vai desvalorizar as próprias ações em 29%, e os papéis sobem 6%. Nesse mesmo movimento, a Marfrig pode se tornar dona de 51%, ou mais, da BRF. Entenda a jogada que movimentou o mercado nesta sexta.

Por Alexandre Versignassi, Guilherme Jacques
Atualizado em 17 dez 2021, 18h39 - Publicado em 17 dez 2021, 18h34
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 (Tiago Araújo/Você S/A)
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O Ibovespa fechou em -1,04%, puxado pelo exterior. Terminamos praticamente empatados com o S&P 500 (-1,03%). Por lá, os investidores estão digerindo o novo cenário financeiro, que terá menos dólares de graça distribuídos pelo Fed (leia-se cortes nas compras de títulos em poder dos bancos e aumentos de juros programados para 2022).

Ou seja: o dia seguiu a toada do exterior. Mas isso não significa que o cenário interno não tenha sido movimentado. É que esta sexta de fim de ano trouxe uma história particularmente interessante, envolvendo duas das maiores altas do dia: BRF e Marfrig. Vamos a elas.

A “diluição do bem” da BRF

A BRF subiu gloriosos 6,23%, a R$ 21,50. Motivo: a dona da Sadia e da Perdigão anunciou na noite de quinta que pretende emitir 325 milhões de novas ações, num movimento de follow on que pode engordar o caixa da companhia em cerca de R$ 7 bilhões – ou, mais precisamente, reduzir sua dívida, hoje em R$ 28 bilhões.

Follow ons não são necessariamente bons para os acionistas. Muito pelo contrário, já que a empresa passa a ser dividida em mais ações. Vamos ver o caso específico da BRF. A companhia tem 807 milhões de ações no mercado. Bom, em 2020, ela lucrou R$ 1,4 bilhão. Dá R$ 1,7 por ação (lembre-se: ações servem para dar direito a uma fatia dos lucros da empresa; nada mais).

Com a emissão de 325 milhões de papeis a mais, a BRF passará a ter 1,13 bilhão de ações. Num cenário assim, esse lucro de 2020 acabaria diluído para R$ 1,2 por ação. Ou seja: os acionistas ficam mais pobres. 29% mais pobres, para sermos mais exatos. 

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As ações da BRF fecharam ontem a R$ 20,40. Anunciado o follow on, e a diluição que vem a reboque, seria natural o preço cair na mesma medida (violentos 29%). Mas não foi o que aconteceu. 

O ponto é que o mercado viu o follow on como algo bem vindo, justamente por diminuir a dívida da companhia. Em termos mais técnicos: isso reduziria a “alavancagem” da empresa. Alavancagem é a relação entre a dívida da empresa e o Ebtida, o lucro antes de impostos, abatimentos de dívidas e juros de dívidas. O da BRF está em 3 vezes (muito). Com os bilhões extras, baixaria para 2 vezes (o que o mercado considera razoável). 

E no fim do dia o empobrecimento dos acionistas fez a alegria dos acionistas. Se com a ação a R$ 20,40 a emissão de novos papéis colocaria R$ 6,6 bilhões no caixa da empresa, após a valorização de hoje, ela passa a ter o potencial de levantar mais de R$ 7 bilhões. “Esses humanos são uns loucos”, diria Obelix. Com alguma razão. 

Mas tem outro elemento nessa história.    

Marfrig – cada vez mais dona da BRF

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O movimento da BRF também impulsionou as ações da Marfrig. O frigorífico de Marcos Molina comprou neste ano 31,6% das ações da BRF – o que torna a Marfrig controladora da companhia. 

Molina comprou 31,6% porque, se adquirisse 33,3% ou mais, seria obrigado pelo estatuto da BRF a fazer uma oferta aos demais acionistas pelo restante da empresa oferecendo um valor 40% maior que a média das cotações dos últimos 30 ou 120 dias (o que for maior). Uma bomba – tanto que o nome do dispositivo é poison pill (“pílula de veneno”), e ele existe justamente para evitar que alguém, qualquer um, tenha uma fatia grande demais da empresa.

Bom, o mesmo estatuto tem outra regra. Diz que, se alguém ficar com uma fatia maior do que 33% depois de um follow on, tudo bem. Ou seja: essa é a oportunidade de ouro para Molina (e, por consequência, a Marfrig) chamar a BRF de sua de uma vez. Se ele comprar todas as 325 milhões de ações da nova emissão, passará a ter 593 milhões de ações, do novo total de 1,13 bilhão. 

Isso significaria 52,4% da empresa. Sem poison pill  – o que indica que pode haver um dedo de Molina na decisão da BRF de partir para esse follow on monstruoso.

Seria um negócio arriscado. Molina passaria a ser dono de uma companhia que soma R$ 448 milhões de prejuízo no ano – contra R$ 3,7 bilhão de lucro de sua Marfrig (é daí que vem o dinheiro e o crédito para o avanço sobre a BRF, diga-se). 

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Seja como for, o mercado está curtindo a ideia, ao menos por enquanto: a Marfrig, que passaria a ter direito sobre uma parcela bem maior dos eventuais lucros futuros da BRF, fechou em alta de 3,75%.   

É isso. E só para registrar: na semana, a bolsa brasileira viveu uma baixa de -0,51%.  

Bom fds!

MAIORES ALTAS

BRF (BRFS3): 6,23%

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BR Malls (BRML3): 5,02%

Natura (NTCO3): 4,37%

Magalu (MGLU3): 4,24%

Marfrig (MRFG3): 3,75%

MAIORES BAIXAS

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YDUQS (YDUQ3): -6,05%

Banco Inter, PN (BIDI4): -5,59%

Banco Inter, Units (BIDI11): 5,51%

Localiza (RENT3): 5,17%

Locamérica (LCAM3): 5,01%

Ibovespa: -1,04%, aos 107.200 pontos

Em Nova York

S&P 500: -1,03%, aos 4.620 pontos

Nasdaq: -0,07%, aos 15.169 pontos

Dow Jones: -1.48%, aos 35.366 pontos

Dólar: 0,10%, a R$ 5,6850

Petróleo

Brent: -2,00%, a US$ 73,52

WTI: -1,98%, a US$ 70,72

Minério de ferro: 3%, negociado a US$ 119,60 por tonelada no porto de Qingdao (China)

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